A responsabilidade com o ambiente é um compromisso para com o futuro e todas as gerações. Mais do que estratégia do chamado marketing verde, a moda sustentável com resíduos da indústria é possível e está presente na manufatura de artigos de couro e processo da indústria têxtil graças a iniciativas viáveis.

Há 36 anos dedicada à criação de bolsas planejadas para serem funcionais, desejadas e em dia com a sustentabilidade, a designer e empresária Ivanete Thomaz sente-se realizada pelo fato de a sua marca, a Selvaggio, ter uma trajetória comprometida com os propósitos que norteiam sua formação pessoal e profissional.

O carro-chefe da empresa londrinense são as bolsas de couro, seguidas pelos cintos. Baseada no conceito de aproveitamento de 100% da sua matéria-prima, a designer desenvolveu carteiras, chaveiros, pesos de mesa, tapetes, cortinas e marcadores de páginas. "Essa é uma lição que aprendi desde menina com minha avó Juvencia Rosa sobre não desperdiçar e nem descartar o que pode ser reusado", recorda.

Ivanete Thomaz: 36 anos na criação de bolsas planejadas para serem funcionais, desejadas e em dia com a sustentabilidade
Ivanete Thomaz: 36 anos na criação de bolsas planejadas para serem funcionais, desejadas e em dia com a sustentabilidade | Foto: Walkiria Vieira

Com criatividade e material de primeira qualidade, as peças de patchwork também tornaram-se objetos do desejo da marca ao longo do tempo. "O couro é um material resistente, bonito, durável e com suas características que o tornam legítimo como como estrias, recortes, rugas e arranhões", cita a designer.

A partir de um estudo e do armazenamento do que não foi descartado, um outro processo de criação é realizado para a confecção de peças tão nobres como personalizadas. Planejamento, cálculo e habilidades específicas entram na criação das peças de patchwork de couro para que se chegue a uma montagem perfeita.

De elo em elo, a cortina que faz papel de divisória na fábrica da Selvaggio é também um ícone de uma trabalho meticuloso e que também tornou-se uma referência da marca:100% de aproveitamento. Ao todo, 4.800 elos unidos a mão. O apelo estético é também zelo dos artigos confeccionados por mão-de-obra também londrinense e que tem conquistado diferentes gerações. "O que mais recebo de feedeback é sobre a qualidade porque investimos nesse quesito para que as bolsas , seja para trabalho, festas ou viagem, durem", cita a empresária.

SOBRA DE TECIDO VIRA ARTE

Outra referência é o Projeto Recicla Jeans/Maya Ateliê Circular, idealizado pela empreendedora e artesã Yara Rodrigues Pacheco. "O projeto Recicla Jeans tem como objetivo conscientizar as empresas e pessoas sobre não jogar roupas no lixo e como as roupas usadas e limpas, assim como resíduos têxteis podem ser transformados em obras de arte", observa.

A utilização de materiais recicláveis, como os retalhos para fabricar os produtos é prova de planejamento e também de que a criatividade fica aguçada diante da possibilidade reaproveitar um tecido. Bolsas retornáveis, necessaries, ursinhos, almofadas e camas para pets são exemplos de que o resíduo têxtil pode ser transformado em artigos de qualidade úteis, funcionais e admiráveis graças ao design.

Jeans reciclado: moda feita dentro do conceito de sustentabilidade e da logística reversa
Jeans reciclado: moda feita dentro do conceito de sustentabilidade e da logística reversa | Foto: Walkiria Vieira

Mobilizar empresas e a população para que a quantidade de produtos como os apresentados se tornem habituais está entre as propostas de maior dimensão. "Divulgar o artesanato como arte, divulgar as parcerias, buscar novos parceiros, dialogar com o público sobre reuso e reciclagem, pesquisar o conhecimento das pessoas sobre questões ambientais como ESG – Environmental, Social and Governance - sigla usada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. E também para prospectar potenciais clientes e mercado consumidor são propostas da loja pop-up idealizada para ampliar a divulgação do Projeto Recicla Jeans.

A artesã Yara Rodrigues Pacheco no início dos anos 1980 fez parte do Grupo Alicerce de Teatro onde, além de atuar, confeccionava os figurinos do grupo. Desde então, mesmo trabalhando em outras áreas, nunca deixou de costurar e fazer artesanato. Em 2013 participou da Feira do Feito a Mão, organizada pela CMTU no Calçadão de Londrina. Produziu ecobags para a Ana Boleria, a cervejaria artesanal Mocó 49 e Belagrícola.

Mais recentemente, desenvolveu os ursos sustentáveis para a GMTex Sustentável. "No ano 2000, Roberta Moreira, por meio de de um processo interno da GMTex – Indústria de Confecções capacitou os seus funcionários para costurar e fazer artesanato com os resíduos gerados pela indústria", explica Pacheco.

Em 2022, a empresa foi reconhecida na sétima edição do Congresso Sesi ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - na categoria ambiental que incentiva e valoriza as práticas que elevem o capital social, econômico e ambiental das localidades por meio de práticas que contribuam para o alcance dos objetivos preconizados.

URSOS CUSTOMIZADOS E ATIVISTAS

Para engrossar a campanha que incentiva as mulheres ao autoexame e as conscientiza sobre o câncer de mama, os ursinhos ficaram cor de rosa nas vitrines durante o Outubro Rosa e, na Copa do Copa do Mundo, vestiram a camisa da seleção brasileira. Esses são exemplos da versatilidade dos bichinhos que, embora clássicos, fazem da pop-up também espaço para apoiar ações positivas.

A montagem de um acervo de ursos sustentáveis customizados por artesão segue em construção para a futuras exposições. Alguns já servem de inspiração como é o caso do Pato Donald feito pelo estudante Theo Pacheco, quando estava com dez anos, o do artista plástico Elvio Nobrega, da estilista Bianca Baggio e do cartunista e tatuador Sassá. Os resultados são inspiradores.

Ursos cistomizado da GMTex Sustentável é também um ativista, manifestando-se por várias causas
Ursos cistomizado da GMTex Sustentável é também um ativista, manifestando-se por várias causas | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

OUTRAS PERSPECTIVAS PARA A INDÚSTRIA

A Aliança pela Moda Sustentável firmada em assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 2019, que ocorreu em Nairóbi, Quênia - foi criada em face de um modelo considerado destrutivo para o ambiente. Com parcerias, a iniciativa visa contribuir para o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por meio de uma uma ação coordenada no setor da moda.

Uma perspectiva é o surgimento de um tipo de oferta onde diferentes realidades coexistem. Por um lado, marcas com critérios sociais, ambientais e econômicos decentes, comércio justo, criadores locais e artesanato tradicional. Por outro lado, o surgimento de alternativas que permitam prolongar a vida útil das roupas e reutilizá-las (em segunda mão, empréstimo, aluguel, bibliotecas de moda, armários baseados em nuvens) ou que facilitem a descapitalização dos guarda-roupas (permuta, lugares de troca, por exemplo.

Ou seja, uma alternativa que repensa a questão do vestuário, distribuição, marketing, uso e consumo, promovendo lógicas que colocam o cuidado com a biodiversidade, as pessoas e a vida no centro de seus modelos. "Mais de 8% do total das emissões globais de gases de efeito estufa são produzidos pela indústria de vestuário e calçados", disse Brenda Chávez, autora de Tu Consumo Puede Cambiar el Mondo (Seu consumo pode mudar o mundo, em tradução livre), em conversa por e-mail com a publicação da National Geographic Brasil.

Chávez considera que embora a moda sustentável ainda não represente uma concorrência à indústria convencional, para Chávez ela desafia, por exemplo, a aceleração dos ciclos da produção têxtil, que, nos caso do fast fashion, lança mais de 50 coleções por ano – e é acompanhada pela moda de luxo.

Serviço:

@selvaggiobolsas

@projeto.reciclajeans

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