Aqui vamos nós novamente mas...fazer o quê ? Em geral, eu assumo uma posição de não combatente nas guerras contínuas. Sou a favor de que as pessoas vejam filmes nas melhores condições possíveis e estou seguro de que às vezes (atenção: eu disse às vezes) essas condições serão cumpridas via home screen. Se você não pode ir ao cinema, o cinema pode vir até você. Som nítido, tela inteira – não pode perder. Com reservas, explico mais embaixo.

Também acho que os termos do debate streaming vs. sala de cinema estão equivocados. Como uma atividade cultural essencialmente democrática em sua origem – comprar um ingresso, um pouco de pipoca e encontrar um lugar no escuro – foi sendo reclassificada como fetiche esnobe e especializado ? A resposta, para mim, é uma forma de tecno-triunfalismo pseudopopulista que considera o que parece ser o modo mais fácil de consumo: por definição, o mais progressista. A lealdade às formas mais antigas de fazer as coisas parece, na melhor das hipóteses, esquisita; na pior, reacionária; e, em qualquer caso, irracional. Por que você não colocaria seu filme lá, ao alcance de todos, onde todos pudessem vê-lo?

Ou seja, todos os que assinam uma determinada plataforma de streaming, ou pagam no varejo por vídeo sob demanda. Netflix ou Disney Plus ou Amazon Prime não são serviços de utilidade pública. Além disso, a acessibilidade universal que faz parte da ideologia do streaming parece, na prática, mais uma espécie de invisibilidade. Se você pode assistir a um determinado filme sempre que quiser, nunca precisará assisti-lo. Ou você pode pausar após alguns minutos, verificar outra coisa e talvez voltar na noite seguinte. Um livro parcialmente lido pode deixar você envergonhado, mas um filme não transmitido vagueia sozinho no éter, no cosmos, no infinito.

Agora, vamos ao ponto do hibridismo cinéfilo. Por exemplo, “Duna”. Embora o tenha assistido em condições adversas – a sala 1 do Cineflix Aurora conserva o mesmo antigo problema pré pandemia: projeção escura, quase um tormento para um filme com 155 minutos de complexa duração –, é fora de qualquer dúvida que há filmes que inevitavelmente sofrerão enorme castigo estético a partir do sofá de sua sala. Há outros, com certeza. Então, ontem, quarta, 1º de dezembro, Netflix lançou “Ataque dos Cães”, western australiano que ressuscita o talento de Jane “O Piano” Campion. E fixa regras para esta convivência híbrida, quer queira quer não. Regra número um: abra bem os olhos para a importância desse filme (e de outros) que está em muitas telas grandes do mundo mas não estará no circuito brasileiro, só em streaming.

.
. | Foto: Divulgação

Será preciso viver com essa dualidade. Não há como ser negacionista (ops !). Os quase dois anos de confinamento impuseram alguns remédios amargos que ainda estamos tentando engolir. É preciso, portanto, estar com esta visão afinada com os novos tempos nem sempre de “querida, encolheram a telona”. Ela ainda existe e vai resistir, até porque não vai dar mesmo para ver em casa a versão que Steven Spielberg fez para “West Side Story” (estreia prevista para quinta próxima, dia 9).

...

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.