São Paulo, 09 (AE) - Duas trilhas. Uma aqui, outra ali do lado. Deus e o diabo na terra da banda sonora. Os dois filmes vivem de mitologias religiosas, afrontando ou legalizando mitos. A trilha de Stigmata, filme de Rupert Wainwright, com Patricia Arquette e Gabriel Byrne, foi coordenada por ninguém menos que Billy Corgan, do grupo Smashing Pumpkins, e por Mike Garson.
A violência do filme pede algum peso e um contraponto ritualístico. Por isso, o Chumbawamba abre rasgando com Mary Mary, canção bacanérrima com alternância de luz e sombras em doses certas, porém inesperadas.
Logo em seguida, com um teclado ardiloso, entra Gramarye
com o Remy Zero. Paul McCartney no "inferno com diamantes na cabeça". É uma balada à moda dos Beatles, só que anfetamínica, rústica, tensa.
A bela e etérea Bj”rk chega a seguir com All Is Full of Love. O tom triunfalista é trocado por uma trilha que sai das frestas do caminho de pedra que leva do inferno ao purgatório. Beleza pura.
David Bowie, reintegrado à espécie humana com seu novo disco, Hours, comparece com a nervosa The Pretty Things Are Going to Hell. Se as coisas belas estão indo para o inferno é porque estão dando uma festinha por lá. Bowie tem passaporte VIP.
A ex-convicta Sinéad OConnor não poderia faltar nessa trilha do sagrado e do profano. Ela procura os motivos nas raízes e vem acompanhada do Afro Celt Sound System, cantando Release. Para fechar o cerco, o Massive Attack joga azeite fervendo nos ouvidos com Inertia Creeps. E Natalie Imbruglia, menininha pré-Linda Blair, comparece para ser oferecida em sacrifício. Uma trilha que vale a pena.