A duradoura popularidade de Diana Frances Spencer, também conhecida como Diana, princesa de Gales e também conhecida como Lady Di (1961-1997) continua a ser uma pedra no sapato da monarquia britânica, porque ela literalmente se opôs a quase todos os rituais formais de seu cargo, recusou-se a socializar com seus pares da nobreza e hoje ele é a única figura da rede real europeia amplamente conhecida em todo o planeta, décadas desde sua morte inesperada e trágica, aos 36 anos, em acidente de carro em um túnel de Paris. O legado histórico que Diana deixou após seu triste desaparecimento permanece intacto, sendo uma das pessoas mais influentes da cultura popular.

Inequivocamente um filme de terror psicológico em uma enorme mansão localizada no interior da Inglaterra, “Spencer” transforma a história de Lady Di em uma viagem cinematográfica ao coração da angústia, ansiedade e medos de uma mulher presa em um mundo cheio de rituais e figuras espectrais também conhecido como realeza britânica. Um espaço físico e mental que pode acabar enlouquecendo quem chega lá. A Diana do diretor chileno Pablo Larrain (“Jackie” e “Neruda”, duas biografias na mesma linha) é uma mulher sufocada pela exposição midiática, por aquela realeza que a encurrala e tenta controlá-la. Mas sobretudo é uma mulher em busca de sua liberdade. Indomável, rebelde e absolutamente perdida, ela é uma bomba-relógio esperando para explodir. Como não houve eventos concretos ocorridos naqueles dias, além da visita anual à igreja de Santa María Magdalena, o diretor e seu roteirista Steven Knight tiveram liberdade (e licenças poéticas, algumas discutíveis, por que não ?) para interpretar e inventar uma Diana volúvel, cativante e assombrada pela Dinastia de Windsor.

Kristen Stewart consolida sua carreira no papel de Lady Di e obtém um de seus melhores trabalhos
Kristen Stewart consolida sua carreira no papel de Lady Di e obtém um de seus melhores trabalhos | Foto: Divulgação

Este filme biográfico se livra da intenção de recontar a vida e obra da ex-princesa de Gales, para focar em um espaço de tempo reduzido. Com isso, é permitido que a história expresse ainda mais o caráter elegante e humano, que muitas vezes é esquecido nesse tipo de figura histórica. À medida que o filme avança, observa-se uma interpretação da personalidade de Diana que não havia sido levantada anteriormente. Desfruta-se assim de uma estratégia mais arriscada, que vai além dos tópicos. É vista uma Diana desbocada, irreverente e vingativa.

Por estas razões, o retrato que se desenha obtém um alto valor no efeito que causa no espectador, que não a vê mais como um mito, mas como uma mulher que teve que enfrentar seus medos mais reais. Graças a isso, essa necessidade de fazer jus à importância social e cultural que tem é eliminada, para entrar em um turbilhão emocional e frágil do que significou para essa mulher enfrentar a própria família real britânica. Portanto, a narrativa entrega uma perspectiva gritante, cheia de nuances.

Todavia, toda essa estratégia narrativa se corrompe um pouco na reiteração do trauma e da possível inquietação de Diana. Ela se perde nesse desespero, quando, em várias ocasiões, vai longe demais na obsessão, beirando o exagero que deixa um sentimento agridoce no espectador. A dor é absolutamente compreensível, não precisa desses artifícios.

Kristen Stewart consolida sua carreira como atriz, obtendo um de seus melhores trabalhos. A atriz deixa sua pele, sua alma e sua essência em Spencer, transformando-se ao máximo em Diana, embora os traços evidentemente não procurem uma cópia. Em primeiro lugar, assinalar o grande desafio de dar vida a um ícone como a chamada “Princesa do povo”, pela simbologia que é difundida a nível social. Stewart enfrenta esses medos e se mistura a esse redemoinho sensível, onde cuida de todos os tipos de detalhes em torno da figura de Lady Di. Desde os olhares tímidos e contidos diante da imprensa, até aquela frágil retração no jeito de andar ou posar. Da mesma forma importa também sublinhar sua excelente construção em relação à voz, à dicção e aos sotaques que identificavam a princesa.

Filme biográfico em clima de terror psicológico aborda a vida da Princesa Diana a partir de três dias no período natalino
Filme biográfico em clima de terror psicológico aborda a vida da Princesa Diana a partir de três dias no período natalino | Foto: Divulgação