Um novo ano começou na última quarta-feira (1º) e, com ele, uma prática que se repete ciclicamente: quem é que não fez suas resoluções para 2025? Seja adotar um estilo de vida mais saudável, iniciar um investimento, trocar de emprego, adotar um pet, concluir uma formação, comprar um carro, uma casa, ter mais tempo de qualidade…. A realidade é que essas promessas que chegam ao final de dezembro dificilmente se concretizam no decorrer dos meses seguintes.

“As pessoas são acometidas de ‘dezembrite’”, brinca a neuropsicóloga Michele Marcondes dos Reis. O termo, uma criação que circula nas redes sociais, é utilizado para definir o desejo de grande parte das pessoas no fim do ano, que veem a chegada de um novo translado da Terra ao redor do Sol como início de renovação – desejos que, muitas vezes, não se realizam.

Para atingir os objetivos, Michele propõe algumas estratégias que podem auxiliar no próprio empenho, como avaliar se a resolução é algo alcançável, se é o que a pessoa realmente quer e como mensurar os progressos. O auxílio de uma planilha e uma agenda diária também são suportes importantes. Entretanto, a força de vontade é crucial para o desenvolvimento de nova práticas.

Mas, por que é tão difícil colocar em prática as resoluções? Michele explica que isso envolve mudança de hábitos, que é influenciada por questões como prazer pessoal e estilo de vida. “Vamos tomar como exemplo o regime alimentar, um clássico. O que é mais prazeroso? Abrir um pacote de salgadinhos ou parar para um lanche mais saudável? A pessoa tem que ser ágil, falar várias línguas, ir para o trabalho, falar no Instagram… Então, o que é mais fácil?”, compara.

Além disso, há outras variáveis, como a falta de tempo e dinheiro para frequentar uma academia. “Nisso, o que a pessoa escolhe? Colocar um tênis e caminhar no lago, sair para correr, ou comer uma pizza com uma amiga? Então, essa mudança de hábito tem de partir da aceitabilidade, dentro da gente, para ocorrer”, explica.

A neuropsicóloga ainda alerta que é necessário entender que a mudança de comportamento demora um ou dois meses – ou mais, ou menos, depende de cada um – para se tornar um hábito. Por isso, trabalhar com metas curtas e resultados menores ao longo do ano pode ajudar a atingir o objetivo final.

SMART

Michele adota um conceito vindo da administração de empresas que pode ser utilizado como estratégia para definir e alcançar objetivos. O nome é SMART, um acróstico para eSpecífico (specific, em inglês), Mensurável, Alcançável, Relevante e Tempo.

Ou seja, ao definir um objetivo, é necessário conceituá-lo com especificidade (por exemplo, fazer uma viagem para os Estados Unidos); avaliar se isso é mensurável (terei recursos financeiros? Já tenho o passaporte?); sé é possível conseguir o necessário em um ano (o passaporte e o dinheiro, entre outras necessidades); se isso faz diferença para a pessoa (será que quero conhecer os Estados Unidos mesmo? Ou seria outro país, ou, mesmo, o Brasil?); e quanto tempo levará para ter em mãos tudo o que precisa. “É bastante coisa para resolver, mas, com um ano, é possível avançar bastante”, diz.

Organizar os passos em uma planilha e avaliar, de tempos em tempos, os avanços que teve ajuda a adequar a rota. Para acompanhar, ela propõe a adoção de uma agenda física, melhor que as digitais. “Quando escrevemos a mão, ativamos várias áreas do cérebro”, justifica.

Nela, deve ser anotado, dia a dia, o que foi feito e o que deixou de ser para a avaliação posterior. “Não fui na academia três vezes na semana. Por quê? Não tive tempo? Estava cansada? Vou compensar na semana seguinte?”, sugere a neuropsicóloga.

Entretanto, ela alerta que essa avaliação tem de ser feita com o objetivo de repensar se a resolução está avançando, sem autojulgamento por aquilo que deixou de ser cumprido. “A pessoa não pode se cobrar, isso a sociedade já faz por ela e é muito errado. É só para avaliar. Se não foi na academia, será que o horário é o melhor? Será que é o que ela gosta de fazer? Se não for, pode trocar”, ensina. O importante é dar um passo de cada vez, com organização e desenvolvimento do hábito.