A 43ª Feira Literária do Sesc & Feira do Livro chegou ao fim neste domingo (11) após uma extensa (e diversa) programação cultural. O último dia em Londrina foi marcado por conversas sobre a coletividade da literatura, a criação poética e um show em homenagem ao escritor Paulo Leminski.

Técnica de atividades do Sesc Cadeião, Samantha Abreu afirma que esta edição superou as expectativas da organização. Foi possível trazer escritores solicitados pelos londrinenses, como Socorro Alcioli e Giovana Madalosso, e mobilizar os leitores da cidade.

“Conseguimos trazer nomes que as pessoas estavam querendo e isso garantiu que as pessoas viessem. Tivemos um público além da expectativa, na verdade”, conta Abreu, que projetava de cem a 150 pessoas por dia. “Mas, na sexta-feira, com o Raphael Montes, a gente distribuiu 250 senhas para autógrafos.”

Público acompanhou o bate-papo "Poesia em toda parte", com os escritores  Fabrício Corsaletti, Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Pedrosa Alves: um diálogo com o movimento literário atual do país
Público acompanhou o bate-papo "Poesia em toda parte", com os escritores Fabrício Corsaletti, Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Pedrosa Alves: um diálogo com o movimento literário atual do país | Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

O tema “Poesia em toda parte”, além de alusão à obra de Leminski, dialoga com o momento literário do país. Mesmo com cada vez mais autores caminhando para a escrita de poemas, os leitores ainda se direcionam para a leitura de narrativas. O objetivo neste ano também foi promover o encontro das linguagens.

Segundo Abreu, houve uma preocupação em construir uma programação que fizesse jus à diversidade linguística da criação poética. “A poesia também está na prosa, também está na exposição de arte, na música, nos espetáculos. A gente tentou, na curadoria, trazer uma programação que fosse poética”, acrescenta.

Exemplo disso foi o bate-papo entre Fabrício Corsaletti e Guilherme Gontijo Flores, mediado pelo poeta Ricardo Pedrosa Alves. Corsaletti, que venceu o Prêmio Jabuti com “Engenheiro Fantasma” (2019), entende que a Semana Literária do Sesc é um espaço privilegiado para entrar em contato com os leitores.

Guilherme Gontijo Flores, o mediador do bate-papo Ricardo Pedrosa Alves e Fabrício Corsaletti: Semana Literária do Sesc constitui um espaço privilegiado para autores entrarem em contato com os leitores.
Guilherme Gontijo Flores, o mediador do bate-papo Ricardo Pedrosa Alves e Fabrício Corsaletti: Semana Literária do Sesc constitui um espaço privilegiado para autores entrarem em contato com os leitores. | Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

“Quando eu comecei a escrever não tinha, nunca ia em um evento que havia escritores falando de literatura. Os escritores para mim estavam todos mortos. Então, acho muito bom para os dois lados, para quem quer escrever e para quem quer conhecer um escritor”, afirma. "A ideia é a divulgação da literatura, que é algo tão menosprezado no Brasil."

De olho na produção poética, o escritor avalia que o volume de novos livros - e autores - é grande e difícil de acompanhar de perto. “Não dá para dizer que tem só um tipo de poesia. Tem muitas formas, muitas tradições sendo trabalhadas e transformadas”, pontua.

Essa percepção é semelhante à de Flores, que aponta que o Brasil tem produzido mais de 700 livros de poesia por ano. “Eu acho que a gente vive uma fase muito produtiva, com espaço para experimentações de modo muito diferente, mas que estão em convívio”, diz o escritor. “É um belo sinal para a literatura”.

A escritora Raissa Caramanico, que acompanhou a programação do evento, acredita que, apesar de Londrina possuir espaços culturais, ainda é necessário “persistir para abrir mais”. “Nós conseguimos ver autores que já são renomados, já têm uma carreira e que vieram aqui para conversar com a gente, nesse lugar que é muito representativo, sobre literatura, que é uma coisa que, pelo menos para mim, muda vidas”, ressalta.

CONTATO COM LEITORES

Parceira de mais de duas décadas do Sesc, a proprietária e curadora da Loja Ciranda, Denise Gentil, descreveu como “bárbara” a 43ª edição do evento - da programação recheada à interação com o público.

“Foi de uma qualidade incrível, Socorro Alcioli, André Neves, Fabrício Corsaletti, só nomes exponenciais. Espaço para novas editoras, novos autores e muitos londrinenses mostrando o seu trabalho”, afirma a livreira, que sempre busca trazer obras de todos os autores da programação. “Fazer a reunião desse material é uma coisa complicada, mas é muito prazeroso quando esse material chega nas mãos das pessoas”, acrescenta.

A Editora Outra, que oferece encontros de escrita coletiva, também expôs suas obras na feira do livro. Amanda Damasio, cofundadora da editora, destaca o impacto positivo do evento para a cena cultural da cidade.

“Eu aproveitei muito como cliente, como alguém que vem aqui normalmente fazer, e agora estou vendo tudo de camarote por ser expositora”, completa. Ao lado da sócia Isadora Berbel, ela participou do bate-papo “A criação como um salto no vazio - a literatura e o poder do coletivo”.

Amanda Damasio e Isadora Berbel, da Editora Outra, compartilharam suas experiências na literatura
Amanda Damasio e Isadora Berbel, da Editora Outra, compartilharam suas experiências na literatura | Foto: Douglas Kuspiosz - Reportagem Local

Quem acompanhou de perto o bate-papo foi o caminhoneiro Ladircio Paiva. “Foi excelente. A cultura é para isso, para formar ideias. A gente vem participar sempre que possível. E estimula outras pessoas a vir, pois vale a pena”, diz.

Em Londrina, a programação da 43ª Semana Literária & Feira do Livro terminou com o show “Quem faz amor faz barulho – Uma homenagem a Paulo Leminski”, de Bruna Lucches, que trouxe no repertório a obra musical deixada por ele.