Atrito Arte lança o romance "Carro de boi", de Ernesto Ferreira de Oliveira. O livro retrata alguns dos brasis profundos (no recorte proeminente, uma região sem miséria perceptível), a sua cultura e práticas econômico-sociais.

Narra o reencontro de José Lourenço Correia – renomeado por força das circunstâncias – com sua própria história. Que, assim como os versos e a “trilha sonora” entoados na obra, destaca mais sentimentos, peculiaridades, agruras e méritos de populações rurais do que interesses de fazendeiros, subvertendo o que se impõe fora da ficção.



Instigada por reminiscências – e condensando a trajetória de famílias que padeceram pelas mudanças laborais na agricultura, pela utilização de maquinário nas lavouras, em substituição à força de trabalho e às ferramentas manuais –, a procura persistente de Lourencinho/Osvaldo ultrapassa muitos muros e cercas que a conveniência individualista e moralista e a evolução patrimonial dos poucos vencedores erguem para se defender e perpetuar.

Carro de boi constrói e caracteriza, em essência, um personagem com origem supostamente obscura, mas que não abdica de afeto, poesia e justiça durante as pendengas relatadas – apesar de conviver com uma herança maldita. E desemoldura as “gentes sobradas de fazendas, órfãs do trator”, como enuncia o autor numa passagem do texto.



Reiterando: ambientes rurais e suas figuras arquetípicas, descrições psicológicas mais do que das respectivas paisagens desses lugares, alguma denúncia e nostalgia, em igual medida, surgem das plagas imaginadas (?) em Carro de Boi. E um pouco de melancolia. Esta condiciona as outras duas, na aparência. Ou substância.



Saga sobre proprietários e seus dramas. Consequentemente, sobre trabalhadores e suas cruzadas por dignidade, respeito, reconhecimento. O embate entre ambos os mundos. Tudo isso. Nada disso. Pois, nas linhas e entrelinhas, de frente e de soslaio, sobrevêm perfis cruéis e avarentos. Caricatos e violentos. E um país conflagrado.


Uma situação se sobrepõe às outras na narrativa que segue: a luta incansável do neto de José Lourenço da Silva, que, a despeito de seu talento e persistência, tenta superar a dor da chaga aberta em si – a rejeição paterna evidente. (Talvez um pensamento possa ter ribombado, amiúde, no íntimo de seu criador enquanto a elaborava: Das circunstanciais terras improdutivas do espírito humano, como fazer brotar vida?)



No âmago deste livro, quem sabe, todas as proposições anteriores soem a seu tempo, ou até simultaneamente, confirmando o acentuado traço de consciência redentora com que foi gestado. Fazendo vicejar cenas ternas e vigorosas – e uma simplicidade comovente – que, em algum momento, parecem renegar o chamado “avanço tecnológico”. Mas não. Colocam o(s) tema(s) em perspectiva.

Imagem ilustrativa da imagem Sesc Cadeião Cultural sedia lançamento de "Carro de boi"
| Foto: Divulgação

PERFIL DO AUTOR

Ernesto Ferreira de Oliveira foi professor de Latim e Filologia para estudantes do curso de Letras da Universidade Estadual de Londrina – UEL, entre 1972 e 1994. É pesquisador de histórias da vida rural da região metropolitana de Londrina. Destaca-se em sua prosa o grande domínio da linguagem popular e literária, oriunda do ouvinte atento que já nos brindou com narrativas compiladas, por exemplo, no romance Ouro Verde. É também colaborador do projeto de extensão “Um dedo de prosa nas escolas”, atividade do Festival Literário de Londrina – Londrix.

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Obras publicadas:

Ouro Verde, 2005 (romance)

Ibimaraíma / Nas entrelinhas do café / Eva, 2015 (contos)

Minhas histórias contadas por Bia & amigas, 2017 (infantojuvenil)

Um dedo de prosa, 2019/2021 (obra coletiva – participação)

Encruzilhada e outros contos, 2020

Aprendendo a viver, 2020 (romance)

SERVIÇO:

Lançamento do romance Carro de boi, de Ernesto Ferreira de Oliveira ISBN 978-65-86198-16-4 138 páginas

Dia 22 de abril/2023

No SESC Cadeião, Rua Sergipe, 52, Londrina

Das 16 às 18 horas

Valor do livro: R$ 30,00

Contato: (43) 9 9941-7414