Em uma pesquisa realizada no ano passado pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), 90% dos entrevistados não souberam citar o nome de um cientista brasileiro e nem o local onde são feitas pesquisas científicas no país. Uma produção londrinense que será exibida em rede nacional no próximo ano pretende mudar essa realidade. Trata-se da série documental “Cientistas Brasileiros”, que tem como objetivo resgatar a história da ciência brasileira, situar a sua importância em um contexto internacional e estimular jovens a ingressarem nessa área. Idealizada pelo cineasta Rodrigo Grota e realizada pela produtora Kinopus, a série estreará no primeiro semestre de 2021 no canal "Curta", transmitido pelas operadoras de TV por assinatura Net, Oi TV e Vivo Fibra.

Marcelo Gleiser também participa dos primeiros episódios da série que deverá estrear em 2021
Marcelo Gleiser também participa dos primeiros episódios da série que deverá estrear em 2021 | Foto: Rodrigo Grota/ Kinopus/ Divulgação

Em sua primeira temporada, "Cientistas Brasileiros” irá abordar a trajetória de cinco personalidades: Bartolomeu de Gusmão (1685-1724), Oswaldo Cruz (1872-1917), Nise da Silveira (1905-1999), Rosaly Lopes e Marcelo Gleiser. “Optamos por um recorte histórico, pois de forma geral o brasileiro não conhece a história do nosso País, e nem da sua respectiva produção científica. Com quantos cientistas nós temos contato durante a nossa infância e adolescência? O próprio Marcelo Gleiser nos contou que não chegou a conhecer nenhum cientista quando era criança. Por isso, o novo objetivo é mostrar a importância das descobertas desses cientistas, como é o seu dia-a-dia, e também como foi a sua trajetória”, afirma o cineasta Rodrigo Grota, que assina a direção e o roteiro da série.

“Queremos mostrar que no decorrer da nossa história há uma produção com reconhecimento internacional sendo realizada por cientistas nacionais”, explica Guilherme Peraro, produtor da série. “A Rosaly Lopes, por exemplo, é uma vulcanologista interplanetária que está há 30 anos na Nasa, nos EUA, lidera projetos de exploração espacial, está no Guinness, publicou livros com prefácios de Arthur C. Clarke e James Cameron, e é pouco conhecida no Brasil”, complementa Grota.

A cientista brasileira Rosaly Lopes , uma das personagens da série, é uma vulcanologista que lidera projetos de exploração espacial na Nasa
A cientista brasileira Rosaly Lopes , uma das personagens da série, é uma vulcanologista que lidera projetos de exploração espacial na Nasa | Foto: Rodrigo Grota/ Kinopus/ Divulgação

Dois dos cinco episódios da primeira temporada da série já foram filmados em 2019, nos Estados Unidos e no Brasil. “Filmamos o episódio sobre a Rosaly Lopes no ano passado, com cenas na Nasa em Pasadena, e no Rio de Janeiro. Já o episódio do Gleiser foi gravado no Dartmouth College, na cidade em que ele leciona, próxima a Boston, e também em Curitiba, quando ele foi homenageado pela PUC”, relata Grota. Devido à pandemia, as filmagens dos 3 episódios restantes tiveram de ser adiadas: “No momento estamos aprofundando a pesquisa e roteiro do que ainda iremos filmar, e já adiantando a pós-produção do que já gravamos. Dessa forma, já fizemos parte do material gráfico, e lançamos um teaser para o episódio do Marcelo Gleiser, e uma vinheta de abertura”, descreve Peraro.

A série londrinense conta com consultoria científica do astrobiólogo Dr. Ivan Gláucio Paulino Lima, que é formado em Biologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mora nos EUA há alguns anos. “Ao oferecer um retrato da realidade de importantes cientistas brasileiros, mostrando seus caminhos e possibilidades, pautada pelos seus legados e contribuições, a obra [Cientistas Brasileiros] cumpre um importante e necessário papel na popularização da ciência, estimulando a nova geração a trilhar carreiras científicas, e contribuindo para o letramento científico da sociedade”, afirma Lima. Atualmente, o consultor da série trabalha como cientista do Instituto Blue Marble no Centro Ames de Pesquisas da NASA, microbiologista responsável pelos experimentos no satélite EuCROPIS, da missão espacial PowerCell, e em projetos de astrobiologia e biologia sintética na NASA.

A primeira temporada da série Cientistas Brasileiros conta com patrocínio do Governo Federal, FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), BRDE e Ancine via Prodav 02/2016

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ASTROS DA CIÊNCIA

O cineasta Rodrigo Grota destaca que a escolha dos cientistas retratados na série se deu por dois motivos: pela importância de suas descobertas em sua época, e também pela relação com o mundo contemporâneo. “Oswaldo Cruz foi pioneiro no estudo do combate a epidemias, deixando como legado um Instituto que posteriormente se transformou na Fiocruz, fundação essencial nas pesquisas atuais pela vacina contra o Coronavírus. Bartolomeu de Gusmão, o primeiro cientista das Américas a solicitar o registro de uma descoberta científica na Europa, desenvolveu a técnica do que seria o primeiro aeróstato operacional - uma aeronave mais leve que o ar. Essa invenção de um protótipo do balão depois teve repercussão em várias áreas. A doutora Nise da Silveira revolucionou o tratamento psíquico no Brasil ao introduzir novas técnicas oriundas da teoria do psiquiatra Carl Jung. Seu trabalho inclui descobertas de impacto internacional e que surpreenderam o próprio Jung. E no caso do Marcelo Gleiser, astrofísico que recentemente venceu o Templeton Prize e que há 30 anos leciona no Dartmouth College, nos EUA - ele tem aprofundado a relação entre a ciência e outras áreas do conhecimento, incluindo as Artes e as Religiões, sendo também um importante divulgador de teorias científicas no Brasil, assim como Carl Sagan era no contexto norte-americano", detalha.

IMAGENS DA NASA

Buscando atingir um público amplo, sobretudo na faixa etária de 12 a 30 anos, o diretor e o produtor da série “Cientistas Brasileiros” optaram por apresentar conceitos científicos de forma leve e acessível, mesclando entrevistas, animações, imagens de arquivo e reconstituições ficcionais da trajetória dos nossos biografados. “No caso específico do episódio dedicada à vulcanologista Rosaly Lopes, inserimos imagens cedidas pela Nasa das missões espaciais que ela coordenou, revestindo a série de um aspecto documental e ilustrativo muito precioso. Mostramos também o ambiente de trabalho dela no JPL (Jet Propulsion Laboratory) de Pasadena, na Califórnia, assim como mostramos o dia-a-dia do Gleiser no Dartmouth College”, relata Grota.