Série da TV Cultura aborda a carreira de Maguila
Em dois episódios, série mostra a carreira do boxeador brasileiro antes de depois da derrota para o americano Evander Holyfield
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 06 de fevereiro de 2023
Em dois episódios, série mostra a carreira do boxeador brasileiro antes de depois da derrota para o americano Evander Holyfield
Alex Sabino/ Folhapress
São Paulo - A série "Maguila, um lutador", a ser exibida em dois episódios pela TV Cultura, divide a carreira de Adilson Rodrigues, o maior peso pesado da história do boxe nacional, em dois momentos. O antes e o depois de 15 de julho de 1989, quando ele, então 2º no ranking do CMB (Conselho Mundial de Boxe), enfrentou o americano Evander Holyfield.
O prêmio para o vencedor seria cruzar o caminho do até então invicto campeão Mike Tyson.
A derrota por nocaute no segundo round iniciou a espiral de decadência do brasileiro e teve como chave o momento mais controverso da história da modalidade no país: a ordem de Angelo Dundee, ex-técnico de Muhammad Ali, para Maguila partir para a troca de socos com o adversário mais ágil e potente.
Uma estratégia que mandou o sul-americano à lona, defendem os entrevistados para o documentário, que tem reportagem de Roberto Salim.
Dundee, morto em 2012, sai da série como o maior vilão da carreira de Rodrigues. O ex-empresário do atleta, José Francisco Leal, o Quico, coloca em dúvida até a honestidade do treinador,
"Até hoje a gente não se conforma com esse posicionamento do Dundee. Depois [houve] uma certa suspeição dele no corner de tática, mandando encurtar a distância quando talvez fosse a hora (...). Ele tinha currículo suficiente para não ser enganado. Ficou a sensação de que foi mal conduzido e mal-intencionado", afirma.
O primeiro episódio foi exibido neste domingo (5), às 20h. O segundo será no dia 12, no mesmo horário (a série terá prováveis reprises.) Cada episódio tem cerca de 30 minutos.
Adilson Maguila Rodrigues foi um fenômeno esportivo e midiático no Brasil entre os anos 1980 e 1990. Com um cartel de 85 lutas entre 1983 e 2000, venceu 77 vezes, sendo que 61 delas por nocaute. A maioria obtida por causa de seu golpe de direita. Segundo o próprio lutador, em depoimento ao documentário, onde ele batia com a mão destra "não nascia mais cabelo".
LUTAS NA TV
A série discute, além das entrevistas folclóricas de Maguila, que começou a trabalhar como pedreiro e esteve a ponto de disputar o cinturão mais cobiçado do boxe mundial, se a sua ascensão foi fabricada pela empresa de Quico e do narrador Luciano do Valle (1947-2014).
As lutas eram a principal atração do Show do Esporte, programa dominical da Bandeirantes que durava mais de oito horas e era gerenciado pelo locutor. O documentário não se furta a falar sobre os comentários da época, de que os rivais de Rodrigues eram escolhidos a dedo para não ameaçar a sua sequência de vitórias.
Salim, veterano de documentários e programas para a ESPN, dedica mais tempo à histórica luta contra o americano James "Quebra Ossos" Smith, realizada em 1987, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O tratamento dado é da grande exibição da carreira de Maguila, um cala-boca nos críticos. A não ser pela declaração do juiz Antônio Bernardo, o registro passa à margem da discussão sobre o resultado do combate. O brasileiro venceu por pontos, em uma decisão muito contestada.
Com sequelas do que é, segundo o médico Renato Anghinah, provavelmente uma encefalopatia traumática crônica, o ex-atleta vive em uma clínica no interior de São Paulo. A doença degenerativa é causada por repetidos golpes na cabeça. Maguila fala devagar e com o olhar perdido, mas dá depoimento sobre vários momentos da carreira de maneira lúcida e com a ajuda da mulher, Irani Pinheiro.
A contratação de Dundee para ser o técnico tinha como plano dar o passo seguinte na trajetória do brasileiro. O lendário treinador fez fama por orientar Muhammad Ali. Pelos depoimentos dos entrevistados, o trabalho do americano foi uma decepção. Quem acompanhava os treinamentos de Maguila era um assistente.
Dundee chegava apenas dois ou três dias antes da luta. Mas nada se compara à ordem para Rodrigues ir para o ataque contra Holyfield no segundo round em Las Vegas, depois de ter vencido o primeiro por pontos.
"Antes da luta, eu pedi para o Adilson não ir para cima", afirma Irani.
A constatação de Quico é que, apesar disso e em qualquer situação, Holyfield era um lutador superior e o combate não deveria ter acontecido.
O documentário relata a deterioração técnica e física de Maguila a partir daquele momento.
"Eu não sou sonhador. Acabou, acabou. Eu não vou nascer de novo", resume o próprio Maguila sobre sua vida pós-pugilismo, já sem mandar abraços para várias pessoas em entrevistas após os combates, o que era um dos componentes do seu folclore.

