Com a maioria das atividades presenciais suspensas devido a pandemia, os jogos que antes eram os preferidos dos idosos nas praças, voltaram a ganhar espaço dentro do cotidiano dos jovens.

Parte disso deve-se a série recém lançada da Netflix, "O Gambito da Rainha", que tem atraído muitos olhares positivos desde sua estreia na plataforma de streaming. Nos primeiros 28 dias de estréia, a série foi assistida por mais de 62 milhões de usuários, alcançando o top 10 de 92 países ao redor do mundo. A trama exercita muito a imaginação e a estratégia os seus espectadores, e foi baseada no romance de Walter Tevis.

"O Gambito da Rainha" tem influenciando fortemente o público que está procurando saber mais sobre o xadrez
"O Gambito da Rainha" tem influenciando fortemente o público que está procurando saber mais sobre o xadrez | Foto: Netflix / Divulgação

A influência da personagem principal, interpretada por Anya Taylor-Joy, foi tão grande que durante as semanas de lançamento, as buscas pelas palavras “xadrez”, “como jogar xadrez” e “jogos de estratégias” mais que dobraram, segundo pesquisa feita pelo Google, na primeira quinzena de novembro. A procura por jogos de estratégias cresceu 250% na internet, em comparação ao mesmo período em anos anteriores no Brasil.

AMBIENTE ONLINE

Junto com o distanciamento social, houve uma grande expansão dos jogos online e Among Us foi um dos jogos que ganharam a internet no período. O jogo que exige estratégia e perspicácia coletiva, tem como objetivo descobrir quem é o “impostor” dentro da partida antes que ele venha a ganhar o jogo. Além de saber eliminar a pessoa certa, é preciso manter o diálogo e estar atento para pegá-lo com a mão na massa e não cometer erros que o façam vencer.

Neste caso, Among Us e xadrez andam de mãos dadas. O professor de xadrez, Alberto Paulo Fedeszen, diz que tanto na versão online quando a de tabuleiro, os jogos são ótimos para exercitar a mente. “Independente de qual for o ambiente de jogo, eles estimulam na socialização e nas amizades. No entanto, com o atual cenário, a internet proporciona essa interação com pessoas do mundo todo", destaca.

Esses jogos de tabuleiro mais tradicionais reforçam os aspectos de resiliência, foco e o respeito mútuo entre os jogadores. Além de tudo, eles têm uma linguagem universal, pois o jogo que acontece aqui é o mesmo na Rússia, China, África ou em qualquer lugar do mundo, o que facilita o processo de comunicação.

Para londrinense Felipe Souza, 12, o ambiente dos jogos virtuais é uma forma de interação e concentração nas partidas. O adolescente diz que jogava online antes da quarentena com seus amigos, mas não com tanta frequência e que, devido à pandemia, os encontros passaram a ser totalmente online. Entre os mais jogados por Felipe e seus amigos, está a plataforma ‘Roblox’. A plataforma contém vários jogos interativos e não apenas um único jogo. “Hoje jogo menos no Xbox, agora estou perdendo o costume e jogando mais online”, diz Felipe.

Para sua irmã, Luana Souza, 21, quando o irmão está jogando, a concentração dele é muito maior do que no dia a dia. “Ele fica tão focado quando está jogando que se perde no mundinho dele e acaba não prestando atenção na gente”, diz.

Luana fala que antes da pandemia, o irmão tinha atividades físicas mais frequentes, o que fazia com que Felipe não passasse tanto tempo em frente às telas focado jogando, mas que praticava sua concentração em outros tipos de atividades.

A professora Andrea Caroline, 27, fala que é perceptível quando a criança ou o adolescente começam a ter contato com jogos de exercício mental, pois o raciocínio lógico fica mais aprimorado, há mais facilidade de aceitar regras e desenvolver a concentração. “Sendo assim, jogos de tabuleiro são grandes aliados no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, esse tipo de jogo estimula a interação, respeito pelo espaço do outro e trabalha frustrações”, acrescenta.

Os benefícios de incentivar os jogos de exercícios mentais são refletidos na vida de quem joga. “Na vida escolar, no seu desempenho nas atividades propostas e também no convívio social, as pessoas tornam-se mais pacientes, tolerantes e capazes de lidar com situações de conflito”, diz a educadora.

Concentração, resiliência e foco são adquiridos ao longo da vida. Vira rotina como se fosse a de exercícios físicos, quanto mais se faz, mais aprimorado você fica. Isso vale para tudo.

* Supervisão: Célia Musilli, editora