A florada dos ipês que todos os anos proporciona um colorido especial à cidade causando encantamento em quem percorre as ruas de Londrina se tornou um objeto de estudo para Carlos Kubo. Londrinense de coração desde que se mudou de São Paulo há oito anos, o artista plástico tem se dedicado a observar as diferentes tonalidades de cores, formatos e texturas de cada uma das espécies da árvore que produz flores rosas, amarelas e brancas. Toda a riqueza de detalhes, sutilezas e singularidades contempladas por ele tem sido registradas em uma série de telas que já podem ser admiradas em suas redes sociais. Em breve, as obras serão reunidas em uma exposição temática que será levada pelo mundo afora visitando diversos países onde o elogiado trabalho de Kubo já tem fãs cativos.

Para pintar os ipês, o artista plástico Carlos Kubo observa detalhadamente as tonalidades das cores, formato e texturas de cada espécie
Para pintar os ipês, o artista plástico Carlos Kubo observa detalhadamente as tonalidades das cores, formato e texturas de cada espécie | Foto: Luiz Sérgio Carreiro/ Divulgação

“Eu já conhecia ipês quando morava em São Paulo, mas lá eu não percebia tanta beleza neles. Depois que me mudei para Londrina, comecei a ver a sequência de cores das flores que brotam nessas árvores e me apaixonei por elas, que são um símbolo nacional, pois são plantas nativas”, destaca Kubo. Questionado se os ipês seriam os substitutos dos famosos tsurus, pássaros que ganharam destaque entre as obras do artista plástico, ele afirma não ser pintor de um tema único. “Sou um pintor que pinta o que gosta”.

O encantamento imediato fez com que Kubo rapidamente pegasse o que chama de “feeling dos ipês”. “Passei a contemplar as árvores de ipê espalhadas pela cidade. Sou capaz de ficar horas observando uma única árvore. Nesse processo contemplativo, percebi que as floradas ocorrem uma vez por ano, entre o inverno e a primavera. As primeiras flores a surgir são as amarelas, depois as de cor rosa e por último as brancas. Cada florada dura, em média, duas semanas. Porém, nosso clima anda tão louco que neste ano, a florada branca veio primeiro”, detalha.

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O artista plástico relata que a produção das telas dedicadas aos ipês começa com o esboço da árvore que será pintada. “Fico sentado diante do pé de ipê observando detalhes daquela planta e faço o esboço dela. Depois, concluo o trabalho no ateliê misturando diversas técnicas que são aplicadas sobre a base de acrílico. Trabalho de forma muito livre usando colagens, espatulado e pincel. Olhando a pintura de perto, a pessoa tem a impressão de que se trata apenas de borrões, mas ao ir se afastando dela as imagens vão se transformando até ficar parecendo uma fotografia. É um efeito bastante interessante que só é percebido pessoalmente. Por isso, quero montar logo uma exposição para que as pessoas possam perceber essas nuances e contemplar os ipês imortalizados nas telas”, ressalta.

ARTE TOCÁVEL

Kubo revela uma peculiaridade que sente em relação ao comportamento do público em suas exposições presenciais. “Ao contrário de muitos outros artistas, eu gosto que as pessoas toquem as minhas telas. Eu mesmo já levei muitas broncas em galerias de vários países por tocar nas telas que estavam expostas. Acho que ao tocá-las é possível sentir a energia que o artista pretende transmitir. Por isso, eu até incentivo o público a tatear as minhas telas”.

COM DESTINO AO JAPÃO

Satisfeito com o resultado das série temática sobre os ipês, o artista plástico que se autodenomina cidadão londrinense pretende abrir a primeira exposição com novas obras em Londrina e em seguida levar a mostra ao Japão. “Londrina sempre vem em primeiro lugar para mim. Acho essa cidade fantástica e não pretendo me mudar daqui para nenhum outro lugar do mundo. Depois de apresentar esse trabalho para os londrinenses, quero levá-los para o Japão, onde eu já tinha duas exposições agendadas para o ano passado e que tiveram que ser adiadas devido à pandemia. Agora que eles já estão abrindo o país para visitantes, pretendo levar as novas telas para os japoneses, quero levar Londrina para o mundo, afinal essa cidade vai comigo para onde eu for”, salienta.

IPÊS X CEREJEIRAS

Carlos Kubo sugere parques de ipês em Londrina, da mesma forma que os japoneses fazem com as cerejeiras
Carlos Kubo sugere parques de ipês em Londrina, da mesma forma que os japoneses fazem com as cerejeiras | Foto: Ricardo Chicarelli/ Arquivo Folha 24-01-2019

Apaixonado por Londrina, Kubo sugere que a cidade siga o exemplo do Japão ao valorizar as floradas de ipê da mesma forma como os japoneses fazem em relação às cerejeiras. "As floradas de ipê se tornaram um cartão-postal londrinense. Todo mundo quer tirar foto quando vê as árvores floridas. Penso que deveriam aproveitar essa beleza toda para criar parques exclusivos, um para cada cor de ipê: amarelo, rosa e branco. Com certeza esses locais se tornariam um ponto turístico que atrairiam pessoas do mundo inteiro, a exemplo do que acontece no Japão, que recebe milhões de turistas que visitam o país para apreciar as floradas das cerejeiras no mês de abril”, sugere.