"Sedentos": performance dirigida pelo italiano Mario Biagini se adapta às circunstâncias dos locais onde é apresentada e, com um elenco multicultural, forma uma comunidade transitória
"Sedentos": performance dirigida pelo italiano Mario Biagini se adapta às circunstâncias dos locais onde é apresentada e, com um elenco multicultural, forma uma comunidade transitória | Foto: Valéria Félix/ Divulgação

Durante o lockdown na Europa, o diretor teatral italiano Mario Biagini se inspirou no livro “La Grande Beuverie” (A Grande Bebedeira), de autoria do escritor surrealista francês René Daumal, para criar o espetáculo “Sedentos”. Escrito em 1938 - entre as duas guerras mundiais - o texto que fala sobre como acessar a realidade através da poesia serviu de base para a montagem que após ser encenada na Itália e na França chega a Londrina. As apresentações acontecem nesta quinta-feira (9) e no sábado (11), às 20 horas, no estacionamento do campus londrinense da UniCesumar e integram a programação do festival Ciclo - Circuito de Artes e Conceitos de Londrina.

A montagem de “Sedentos” na cidade é resultado de um workshop criativo com atores e músicos londrinenses que teve início no último final de semana e foi comandado Mario Biagini, que dirige o Open Program/Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards. A encenação contará com a participação de atores e colaboradores do Open Program de outras cidades brasileiras e da Turquia, Chile, Colômbia e Coréia. "O público de Londrina poderá ver que, mesmo com pouco tempo e com poucos meios é possível fazer algo belo juntos. Podemos agir para descobrir juntos como é possível viver em harmonia, uns com os outros, como podemos viver melhor”, diz Biagini.

Apesar de já ter apresentado “Sedentos” na Europa, o diretor italiano ressalta que a montagem que será apresentada aos londrinenses tem características próprias. “Já fizemos experiências parecidas. O acolhimento do público e das pessoas envolvidas no teatro foi muito caloroso. Poderia dizer que foi um sucesso, mas aquele trabalho que fizemos na França não é o mesmo que fizemos há algumas semanas na Itália e também não é esse o trabalho que estamos fazendo em Londrina. Em cada lugar, as circunstâncias são diferentes. As pessoas, as línguas, as vidas são diferentes. Então, procuramos formas que possam se adaptar ao lugar onde estamos e às pessoas com quem colaboramos nesse momento para criar um tipo de comunidade transitória, que se adapta a um certo contexto”, enfatiza.

Biagini explica que a escolha do título da montagem tem a ver a com o texto escrito por René Daumal, que e no início da Segunda Guerra Mundial foi questionando-se sobre como a sua profissão de poeta poderia servir não só a contar, mas também a enxergar a realidade. “O tema é esse: a sede de realidade com a qual todos nós nascemos, a sede por alguma coisa de verdadeiro, de concreto, de real que muitas vezes durante a vida vem adormentada por causa de outras exigências, outras necessidades, outras ilusões. É aquela da sede que não acaba. Esta sede também pode ser chamada de uma voz, que todos os dias dentro de nós, desde a infância se pergunta: Mas eu, quem sou? Enquanto essa voz fala, que existe essa pergunta, estamos vivos”.

O diretor Mario Biagini com o elenco de "Sedentos": "A verdadeira poesia nos coloca em estado de alerta diante da realidade atual das coisas"
O diretor Mario Biagini com o elenco de "Sedentos": "A verdadeira poesia nos coloca em estado de alerta diante da realidade atual das coisas" | Foto: Valéria Félix/ Divulgação

Na avaliação do diretor, a poesia deve ser usada como um instrumento capaz de alertar a humanidade sobre fatos da vida contemporânea. “Desde adolescente, eu sempre pensei que a verdadeira poesia nos coloca em estado de alerta diante da realidade atual das coisas. Sempre achei que a verdadeira poesia nos faz sentir, pensar e tocar o que é verdadeiro, real. Não acho que a poesia seja uma consolação ou uma distração. Penso que possa ser, em certos casos e escritores, um telescópio que nos faz ver o que às vezes percebemos como muito distante, ou como um microscópio que nos faz ver o funcionamento de coisas muito pequenas, dentro e fora de nós”, conclui.

A montagem “Sedentos” trouxe a Londrina Mario Biagini, diretor associado do Open Program/Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards, acompanhado de Felicita Marcelli (Itália), Jorge Romero (Colômbia), Asli Turan (Turquia); em colaboração com Vicente Cabrera (Chile), Lucas Gonçalves (Brasil), Luciano Mendes de Jesus (Brasil), Sharon Pacheco (Colômbia) e mais as coreanas Hayeon Cho, Sunhwa Jee, Hong Yoonkyung , integrantes do grupo “Play Zero”, selecionado pelo Korean Arts Council – ARKO para uma residência artística com o Open Program. O grupo veio a Londrina para trabalhar com os participantes do Cartão de Visitas, uma das ações do CICLO no biênio 2020/2021. A vinda do Open Program para Londrina também marca o encerramento da primeira fase do Cartão de Visitas e direciona para a evolução do conceito da ação em 2022. Artistas independentes, professores, estudantes e membros de coletivos artísticos londrinenses também participaram das atividades que resultaram na performance.

O Ciclo é um projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio da UniCesumar e Copel. A realização é da Palipalan Arte e Cultura, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal. O evento conta com o apoio da FOLHA.

Serviço:

Espetáculo “Sedentos”

Quando – Quinta-feira (9) e sábado (11), às 20 horas

Onde – Estacionamento da UniCesumar (Av. Santa Mônica, 450)

Gratuito

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. | Foto: Folha Arte