Sílvia Herrera
Agência Estado

Arquivo FolhaJúlio, Samuel, Dinho, Sérgio e Bento, os Mamonas: carreira meteórica e fim trágicoHá um ano, naquele sábado dia 2 de março, às 23h18, o avião Learjet PT LSD, da Madri Táxi Aéreo, chocava-se contra a Serra da Cantareira (SP) calando para sempre a contagiante alegria do Mamonas Assassinas. Depois de divertir todo o País durante uma carreira meteórica, Dinho, Sérgio, Samuel, Júlio e Bento morreram todos juntos no acidente. ‘‘Os Mamonas são um patrimônio da humanidade que não pode ser esquecido. Em poucos meses, eles conseguiram alegrar desde crianças até idosos com suas músicas. E o principal, provaram que para ser alegre não é preciso usar drogas’’- exagera o vereador de Guarulhos Geraldo Celestino, um dos grandes incentivadores da banda.
Desde o desaparecimento dos Mamonas muitas outras bandas, como Baba Cósmica, Mega Broxa, Mamonas Cover e Pino Solto, tentam ocupar sua vaga usando a mesma fórmula: besteirol, bom-humor e cara de pau. Porém, a memória dos fãs parece dar sinais de fraqueza. Os dois fãs clubes ‘‘oficiais’’ da banda fecharam suas portas. Dos cinco sites na Internet, apenas o da gravadora EMI continua conectado. Mas as vendas continuam em alta.
O CD ‘‘Mamonas Assassinas’’ acaba de atingir a marca de 2,34 milhões e o livro da ‘‘Pichulinha, minha vida com Dinho’’, cem mil exemplares. Isso sem mencionar os números da biografia autorizada ‘‘Blá Blá Blᒒ, dos brinquedos, álbuns de figurinhas, chicletes e até CD-ROM. Além disso, o cineasta Lui Faria pretende fazer um filme da história do grupo.
O filme contaria com a participação de Ralado (André Oliveira de Brito), ajudante de palco dos Mamonas, que por ironia do destino resolveu não viajar aquela noite, cedendo seu lugar a Isaac Souto, também ajudante da banda. ‘‘Não entendo o que aconteceu até hoje, as vezes chego a pensar que seria melhor ter subido naquele jato’’, diz Ralado que hoje trabalha em sua oficina mecânica.
E por falar em vendas, a ex-namorada de Dinho, a produtora de vídeos Mirella Zacanini promete lançar até junho um vídeo inédito dos Mamonas. ‘‘Será minha homenagem a esta banda que ajudei a imortalizar em meu livro Pichulinha’’- argumenta. Já a última namorada de Dinho, a modelo da Ford, Valéria Zopello, é contra este tipo de ‘‘homenagem’’. ‘‘Seria incapaz de ganhar dinheiro em cima de uma pessoa que amei tanto. Nunca quis me envolver com esta história de produtos em cima dos Mamonas. Minha história com Dinho só interessa a mim’’- alfineta.
Atualmente, Valéria vem tentando entrar para o mundo da televisão. Teve uma rápida passagem na TV Bandeirantes e diz que está estudando propostas de outras emissoras e até já gravou um piloto. ‘‘Mas por enquanto não posso revelar nada. O que posso adiantar é que provavelmente lançarei uma marca de perfumes e outra de jóias’’- esquiva-se. ‘‘Todo mundo sabe que sofri muito, passei por uma depressão muito forte e descobri que só eu poderia me ajudar a sair dessa. Continuo conversando semanalmente com a família de Dinho, mas aquela alegria inerente à família Alves acabou’’, conta Valéria.
Também Mirella vem sendo assediada pelas emissoras de TV para apresentar um programa para adolescentes. ‘‘Estou estudando várias propostas, mas ainda não me decidi’’- explica.
Mudança de estiloAntes da ‘‘Brasília Amarela’’, do ‘‘Sexo dos Animais’’ e do ‘‘Robocop Gay’’ cair na boca de todos os brasileiros, os meninos de Guarulhos formavam a Utopia, uma banda de hard rock. Na época das vacas magras, Alecsander Alves - o Dinho, natural de Irecê (BA)-, não parava em um emprego, mas sempre arrancava risadas de seus colegas temporários com suas imitações e piadas.
Certa vez num comício de Celestino, Dinho conseguiu interromper um discurso de Lula para imitá-lo. O político caiu na risada e o povão também. Antes do estrelato, o artista nato tentou em vão ser modelo, assessor de vereador e até cantor evangélico. Já o tecladista Júlio Rasec ganhava a vida como técnico instrumentista em uma indústria de motores. Bento Hinoto, que era o guitarrista, teve uma loja de rações para animais que acabou falindo e depois abriu uma empresa de montagem de divisórias.
Os irmãos Sérgio (baterista) e Samuel (baixista) tinham uma pequena videolocadora na garagem de casa. Os Mamonas Assassinas começou por acaso. Em 1990, durante a apresentação da banda de rock Utopia, que fazia apenas covers, Dinho subiu ao palco para cantar uma música do Legião Urbana. A banda, que não tinha cantor fixo, gostou e o convidou para assumir os vocais.
Ajudados por Mirella e o pai dela, o produtor Savério Zacanini, chegaram a gravar um disco independente com canções próprias. Foi um verdadeiro fracasso, das mil cópias prensadas apenas cem foram vendidas. Em 1995, a banda deixou as letras ‘‘cabeças’’ de lado, mudou de nome e estilo, nascendo Mamonas Assassinas.
Gravaram uma fita demo que foi ouvida pelo empresário Ricky Bonadia, atual diretor-artístico da gravadora Virgin. Na demo estavam as músicas: ‘‘Robocop Gay’’ e ‘‘Pelados em Santos’’. O empresário adorou e quis produzir a banda. Pediu mais dez músicas e levou para João Augusto, diretor artístico da EMI. Ele odiou, mas seu filho Rafael, baterista do Baba Cósmica, amou.
Sorte dos fãs, por causa de Rafael, João Augusto resolveu dar uma chance ao novo conjunto. De agosto de 95 a março de 96, os Mamonas conheceram o sucesso de uma verdadeira banda de rock. Shows diários, entrevistas na TV, fãs enlouquecidos, muito dinheiro e também muito trabalho.
Em janeiro de 96, a gravadora tinha traçado uma estratégia de marketing - em março os Mamonas iriam fazer shows em Portugal e depois ‘‘sumiriam’’ até julho, quando lançariam o próximo CD. Já a famosa mãe Diná previu em dezembro um acidente aéreo com a banda. Uma coisa é certa, eles realmente sumiram e sua alegria deixou saudades.