‘Salim Sahão, meu avô’: mais memórias nos 90 anos de Londrina
Pioneiro e londrinense de coração, a história do libanês vai ser contada por várias vozes em uma reedição do livro, lançado em 1989
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 26 de novembro de 2024
Pioneiro e londrinense de coração, a história do libanês vai ser contada por várias vozes em uma reedição do livro, lançado em 1989
Jéssica Sabbadini - Especial para a FOLHA

Formada por pessoas dos mais variados cantos desse mundo, ela transborda a pluralidade de povos e cores, em uma mistura que fez de Londrina uma das cidades mais importantes do Brasil. Lugar de italianos, japoneses, portugueses e outros tantos, Londrina também é lar de libaneses, em especial, de Salim Sahão, um dos pioneiros de uma trajetória prestes a completar 90 anos.
‘Salim Sahão, meu avô’ é um livro de memórias e realizações, fruto de um trabalho árduo e com o respeito à palavra dada. Esse é um dos ensinamentos que a neta, Sonia Sahão, 72, guarda e compartilha com carinho.
Vindo do Líbano, Salim chegou ao Brasil em 1921 e, em Londrina, em janeiro de 1935. Formado na escola da vida, Salim Sahão não teve oportunidade de ir para dentro de uma sala de aula. Em oito páginas de papel sulfite, em uma mistura de libanês e português, começou a contar sobre a vida. Já idoso, morreu em 1977.
Sonia conta que sempre teve vontade de continuar a escrever a história que o avô começou. Em um ímpeto, finalizou, em 1989, a primeira edição do livro em poucos meses, reunindo fotos históricas da cidade e relatos de pioneiros sobre a trajetória do libanês. Sem experiência na escrita, aprendeu o bê-à-bá através de um colega.
Anos depois, em 2007, a segunda edição trouxe novas fotos e informações em comemoração ao recebimento do título de Cidadão Honorário do Paraná. Agora, 35 anos após a primeira, uma reedição vai incluir novos depoimentos de quem conviveu com Sahão, além de capítulos escritos pela neta, Sonia. “É um livro que as pessoas vão gostar de colocar em cima da mesa”, afirma.
Em capa dura e com medidas de 30x30, o livro é escrito em português e com traduções para o inglês e francês. “É um presente meu em nome dele para os 90 anos de Londrina”, reforça. Segundo ela, é impossível desassociar a história de Londrina com a história de Salim Sahão: “as histórias se unem e se completam”.
Dos ensinamentos, guarda no coração e na ponta da língua a frase “um homem que fala uma língua vale por 2”, assim como as palavras que ele sempre repetiu: sabedoria, firmeza, trabalho e independência. Para Sonia, as páginas do livro contam a história de um pioneiro que veio para Londrina e conquistou o seu lugar ao sol, às custas de um trabalho correto, honesto e merecedor.

TRAJETÓRIA
Salim veio do Líbano na terceira classe de um navio com a intenção de fazer fortuna e ajudar quem precisasse. É o que ele sempre dizia, conta a neta. Antes de chegar em Londrina, percorreu algumas cidades do interior de São Paulo, ora proprietário de comércios e botecos, ora arrendando alguns hectares de terra para plantar algodão, o esforço foi rendendo frutos. Em 1935, comprou cerca de 40 alqueires de terra no Distrito Espírito Santo, em Londrina, ainda no primeiro ano com o título de cidade.
Na época, as construções eram todas em madeira, já que ninguém acreditava que a região pudesse se desenvolver. Salim, por outro lado, entendia o potencial e começou a construir em alvenaria: “chamavam ele de louco”. A partir daí, foi responsável por tirar diversas construções do papel, que permanecem marcadas no cenário de Londrina, como o Casarão da Rua Maragogi e o Hotel Sahão, na Avenida Paraná, inaugurado em 1952. Sonia explica que a ideia do avô era que o hotel tivesse lojas e comércios no térreo. “Ele quis fazer isso. Foi o presente que ele deu para Londrina”, conta.
Para ela, o avô foi quem projetou a cidade de Londrina no cenário econômico e turístico, tanto a nível nacional quanto internacional. A inauguração do Hotel Sahão também coroou o batizado de Sonia, no primeiro andar de um dos empreendimentos mais luxuosos da época e sob os olhares atentos de mais de 500 convidados.
Salim Sahão morreu em outubro de 1977 e permanece enterrado no Cemitério São Pedro, no coração de Londrina. Com 160 páginas, o livro vai ser distribuído para autoridades e pioneiros que tiveram contato com o libanês em um almoço nesta quarta-feira (27); depois, outras edições serão enviadas para outras cidades do Brasil e da França.


