São Paulo, 08 (AE) - A exposição de Rosana Paulino que a galeria Adriana Penteado Arte Contemporânea, em São Paulo, abre amanhã (09) ao público é uma boa oportunidade de rever o trabalho de uma das mais promissoras artistas jovens do País. Apesar de não ser uma retrospectiva - o que, segundo ela, seria algo extremamente pretensioso de fazer aos 30 anos - os desenhos, gravuras e objetos selecionados para a mostra revelam muito sobre as questões que movem o trabalho de Rosana. No fim do ano também será editado um catálogo de fôlego sobre sua obra.
Desde os trabalhos mais antigos da exposição, como os desenhos da série "Models", nos quais a artista questiona a imposição de um padrão artifícial e estrangeiro de beleza e a sexualização perversa e precoce das brincadeiras infantis, até aqueles realizados ano passado em Londres - onde passou dez meses, usufruindo de uma bolsa de estudos - há uma reflexão sobre sua condição de mulher, negra e brasileira. "Por que colocar um modelo importado quando você não tem nada a ver com aquilo?", pergunta-se Rosana.
Esses questionamentos a levaram a estudar as diversas formas de representação do corpo feminino na história da arte, contrapondo as formas generosas dessa tradição a "esse modelo famélico e cibernético de hoje". Em seus desenhos dessa série surgem mulheres rechonchudas, fartas, algumas delas com muitos seios, e uma espécie de autópsia da anatomia feminina, com destaque para o útero e o sexo.
Com uma incrível coerência, as várias fases do trabalho de Rosana vão sucedendo-se numa espécie de retroalimentação, como se cada ciclo abrisse as portas para o próximo. É esse mergulho na intimidade do corpo da mulher que serve de trampolim para os desenhos relativos à solidão que a artista produz em Londres. "Acabei ficando fria como eles, falando menos, enrolando-me nas minhas palavras", explica ela, mostrando um auto-retrato no qual está escrito: "Esfinge de mim mesma. Espero todos os dias. Quem me decifrará?"
A estada em um país estrangeiro também levou Rosana a pensar como o negro se insere na história da arte brasileira. Nesse período, ela produziu uma interessante série de gravuras nas quais se vê uma negra usando máscara diante de paisagens que parecem ter sido construídas por grandes nomes da arte nacional, como Volpi e Tarsila do Amaral. "O Brasil é isso: um amálgama", orgulha-se.