Rock sem clichê
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Victor Lopes<br>Reportagem Local
Temporadas e temporadas de programas musicais na TV e o que se vê é aquele circulo viciante (e entendiante): vozes estridentes, uma enxurrada de covers internacionais e "um mais do mesmo" que dá pouco espaço para o que de fato o artista tem a dizer. Em tempos de YouTube, redes sociais e programas enlatados, a aceitação muitas vezes se sobrepõe à originalidade.
Mas na contramão desse enfadonho mainstream, ainda há espaço para música de qualidade. Em Londrina, a banda Dalia Negra mistura um rock n'roll autoral interessante, com letras críticas, uma pitada de literatura e, principalmente, coragem para enfrentar essa enxurrada de clichês. Na cidade, aliás, as casas noturnas de shows dão preferência aos covers e "tributos" de quem já fez sucesso um dia. O novo dificilmente tem vez.
Empecilho que não desanima os músicos londrinenses de formação Thiago Ridolfi (guitarra e voz), Gabriel Jardini (baterista) e Marcos Kirchein (baixista e back vocal), que lançam o primeiro álbum em mídia física e digital agora no começo de 2018. O nome da banda remete a uma flor rara do deserto, que sobrevive às adversidades. Referência também à emergente atriz estadunidente Elizabeth Short, conhecida como Dalia Negra, que foi brutalmente assassinada em 1947 num caso que permaneceu sem solução até hoje. Ela se tornou inclusive tema de um filme de Brian de Palma, lançado em 2006.
"Nosso CD terá dez músicas autorais, rock n'roll cantado em português. O rock autoral está morrendo e uma crítica forte é que não se tem mais aonde tocar, apresentar esse trabalho. O discurso não é de ódio contra os outros estilos, mas acreditamos que há espaço para todos", salienta Thiago Ridolfi, autor das letras do primeiro álbum.
É interessante como a banda consegue mesclar bem suas inspirações. A sonoridade, segundo Ridolfi, está mais ligada ao rock internacional, com riffs que trazem à memória Black Sabbath, Led Zeppelin, Van Halen, e outras referências do country rock e blues. Já as letras das músicas remetem ao que o rock brasileiro produziu de melhor na década de 1980, sempre muito crítico. "Tenho inspirações como Humberto Gessinger, Cazuza, Renato Russo, além de bandas como Capital Inicial e Titãs."
Aliás, assuntos muitos interessantes são trabalhados neste primeiro álbum. Pela vertente da crítica social, a música "Efeito Moral" salta aos olhos da playlist ao relembrar o sangrento confronto entre os professores paranaenses e a polícia em Curitiba, cenário de terror em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) em 29 de abril de 2015. "Trazemos letras com conteúdo, com uma crítica social, reflexões da vida das pessoas e ainda uma vertente com referências literárias. Temos uma música chamada Metamorfose, do livro de Franz Kafka, e outra referente aos Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Cantar sobre literatura pode fazer as pessoas se interessarem por essas obras no futuro."
Para 2018, a banda tem as melhores expectativas possíveis, com shows sempre com a pegada totalmente autoral. Além da mídia física, o primeiro álbum também estará disponível nos principais serviços de streaming de música, como Spotify e iTunes. "O artista precisa acreditar no trabalho que faz e não buscar a aceitação acima de tudo. Acreditamos no que estamos fazendo e se o sucesso no mainstream é uma incógnita, temos plena certeza que vamos sensibilizar algumas pessoas."
Para saber mais informações sobre a banda e shows agendados, basta procurar por "Dalia Negra Londrina" no Facebook, YouTube e Instagram.