Vantagem. Serviço. Falha. Quebra de saque. Love... As palavras usadas no universo do tênis são igualmente aplicáveis à existência humana – “cada partida é uma vida em miniatura”, disse uma vez o multicampeão André Agassi. O diretor Luca Guadagnino e seu roteirista Justin Kuritzkes seguem esta abordagem metafórica em “Challengers/Rivais” , o irrequieto e veloz melodramamédia lançado nesta quinta-feira (25) para retratar um relacionamento hetero-homossexual, romântico e de três vias. O filme acompanha os protagonistas – por meio de flashbacks e flashforwards potencialmente arrebatadores – através de uma estranha geografia urbana frequentada pelos atletas: campos de tênis, quartos de hotel, parques de estacionamento. Locais onde se podem colocar à prova, como o título original sugere (referência aos torneios que ajudam os jogadores a ganhar os pontos necessários para ter acesso ao ATP Tour).

A ação é iniciada em 2019, quando Art Donaldson (o americano Mike Faist, o Riff na recente versão Spielberg de “Amor Sublime Amor”) e Patrick Zweig (o britânico Josh O'Connor, da série “The Crown”) se enfrentam na final do New Rochelle Challenger, algumas semanas antes do Aberto dos Estados Unidos, sob o olhar atento da esposa e treinadora de Zweig, Tashi Duncan (Zendaya, recém-saída de saída de “Duna 2”). Donaldson, que venceu seis campeonatos importantes, está tentando voltar à forma para o Aberto dos Estados Unidos – o único evento de Grand Slam que ele ainda não venceu – mas agora está no fim da linha e só segue em frente por causa de Tashi, sua outra metade em um casal poderoso impulsionado por patrocinadores milionários.

TÊNIS É UM RELACIONAMENTO

Zweig, tenista de carreira curta, cujo cartão de crédito atingiu o limite, é obrigado a dormir no carro antes dos jogos e ainda espera chegar ao sorteio principal. Os três se conhecem há 13 anos, desde a época em que Tashi era tenista extremamente promissora e os dois ainda muito jovens tenistas jogavam duplas juntos. E gostando um do outro. Na cena do trio na cama (incluída no trailer que incendiou o público juvenil) , a garota detecta um vínculo entre os dois que vai além da amizade e da intimidade no vestiário. Ela diz que não quer ser uma “destruidora de lares”, mas promete seu número de telefone para quem vencer um desafio. No caso, e no momento, o mais sexy leva a moça (sem spoiler...), alguém que leva vida irregular e instável, devotado à solidão. Mas um acidente grave no joelho liquida a carreira dela, que acaba como treinadora e se casa com o outro, achando que pode realizar todos os sonhos falidos através dele. Mas o jogo pode ser cruel, e se tranforma numa disputa afetiva e sexual de atração e repulsa.

"Rivais": em cartaz em Londrina, filme tem música de Caetano Veloso na trilha
"Rivais": em cartaz em Londrina, filme tem música de Caetano Veloso na trilha | Foto: Divulgação

“Tênis é um relacionamento” – esta é a filosofia de Tashi, e o roteiro demonstra habilidade ao desenhar esta jovem manipuladora que ama nada além do tênis, que projeta suas ambições frustradas em seu marido e que acaba perdendo o controle do triângulo sexy. O filme prefere não se aprofundar muito na psicologia dos três personagens. Em vez disso, o diretor de “Me Chame Pelo Seu Nome” destaca a sensualidade de seus corpos e rostos, onde o desejo, o antagonismo e o ciúme se misturam, muitas vezes acentuados por tomadas em câmera lenta de gotas de suor e pelas técnicas de filmagem do diretor de fotografia tailandês Sayombhu Mukdeeprom que beiram a paródia como efeitos especiais (uma bola de tênis como foco principal ou outras proezas em quadra que às vezes tem um superficie que parece transparente).

A música techno oferecida por Trent Reznor e Atticus Ross pulsa em demasia como fundo para as atuações dos atores. Também proporcionando à nova estrela norte-americana Zendaya um papel de produtora, este filme de um ex-aluno de Bernardo Bertolucci pode ser irritante para os puristas do tênis, mas pode ser divertido, sexy e absorvente, com certeza se impondo nos multiplexes ao redor do mundo.

* Confira a programação de cinema no site da FOLHA.