Há três anos, a iniciativa de dois fotógrafos estrangeiros baseados no Quênia com o objetivo de desconstruir os clichês de fome, pobreza e destruição atribuídos ao imaginário do continente deu origem ao perfil Everyday Africa (@everydayafrica) no Instagram. As imagens correram o mundo e dois americanos, Peter DiCampo, fotógrafo freelancer, e Austin Merril, editor de imagem da revista Vanity Fair, criaram, então, o perfil Everyday Everywhere (@everydayeverywhere), que hoje possui mais de 200 mil seguidores.
A iniciativa criou um burburinho na rede social e foi o start para um grande movimento que hoje já reúne mais de 200 perfis espalhados por todo o mundo inspirados na ideia, incluindo o Brasil, como Everyday Middle East (@everydaymiddleeast), o Everyday Asia (@everydayasia) e Everyday Latin America (@everydaylatinamerica).
O objetivo é que fotógrafos profissionais e amadores registrem cenas do cotidiano de cada país, colaborando para a compreensão de como se vive em outras partes do mundo, livre de estigmas ou estereótipos. "Acredito que as pessoas não queiram apenas ver fotos de paisagens belas ou paradisíacas. Conhecer a história de um país por uma imagem do cotidiano pode ajudar a construir uma reflexão muito maior, que parte da curiosidade e passa pelo respeito", diz a fotógrafa freelancer londrinense Ivana Debértolis, radicada em São Paulo, que, entusiasmada com a ideia, decidiu criar um perfil por aqui, o Everyday Brasil (@everydaybrasil), em outubro de 2014.

Retratos do cotidiano
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Um ano e meio depois, já são quase doze mil seguidores de todas as partes do mundo que conhecem o Brasil pelo olhar dos mais variados fotógrafos, profissionais e amadores. O perfil - que já contabiliza mais de 500 fotos na galeria - mostra o Brasil muito além da imagem do "país do futebol", das praias do Rio de Janeiro, do tradicional Carnaval ou, ainda, desmistificando o imaginário raso de que o País é tomado por uma grande floresta.
Ivana, que também é curadora do perfil, recebe, em média, cem fotos por dia, que chegam de várias formas, sobretudo pela hashtag "#everydaybrasil", que, pode ser utilizada por qualquer pessoa.
O critério de escolha da foto, como ela explica, ultrapassa a estética do que é considerado "belo". "Até mesmo quem vive no Brasil desconhece diversos lugares e culturas. Com este projeto, é possível descobrir outras situações que não nos chegam. Escolho as fotos a serem postadas pelas histórias que trazem com a imagem e, a partir dela, podemos conhecer cidades, pessoas, culturas e acontecimentos importantes. Tudo isso acompanhado da subjetividade da beleza e do fazer fotográfico", considera. Apenas uma foto é publicada por dia, acompanhada de uma legenda em inglês e do endereço do perfil do colaborador. Atualmente, são inúmeros fotógrafos que colaboram com o @everydaybrasil. A curadora dá preferência para profissionais, sendo que apenas 20% das fotos podem ser de estrangeiros.
Como muitas ideias boas mundo afora, o @everydayeverywhere, além dos perfis dos países, expandiu, agora, para iniciativas temáticas, como perfis com fotos de mudanças climáticas, o Everyday Climate Change (@everydayclimatechange), ou imagens para a discussão de questões de gênero, com Everyday Feminism (@everydayfeminism). "Há ainda perfis apenas com fotos de refugiados ou prisões. É um movimento que está se ampliando naturalmente."
Com um acervo muito grande e rico, Ivana planeja, em breve, realizar uma exposição com diversas delas para correr o Brasil. Os repórteres fotográficos da Folha de Londrina Anderson Coelho, Ricardo Chicarelli e Sergio Ranalli já tiveram algumas fotos replicadas no perfil do projeto.

Londrinando

De forma despretensiosa, o londrinense Matheus Fantaussi Perine criou o perfil Londrinando (@londrinando), no final de 2014, para que pessoas pudessem compartilhar diferentes olhares da cidade de Londrina. O que ele não esperava é que, em tão pouco tempo, teria uma adesão tão grande de colaboradores e de seguidores, que já estão batendo na casa dos 30 mil. As primeiras fotos foram de lugares da cidade, principalmente mais conhecidos, mas, que ao longo do tempo, foram dando espaço para acontecimentos e pessoas. "Recentemente, postei uma foto das capivaras que recebeu 2 mil curtidas no Instagram e alcance de 220 mil pessoas no Facebook", conta o jovem que aposta, também, no Snapchat e, em julho, lança um site - cada plataforma com uma proposta diferente.

Perfis no Instagram podem ser acessados por qualquer pessoa
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