Depois que a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou na terça-feira (12), o filme escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional na 96ª premiação anual promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood – Oscar 2024, muita gente ficou se perguntando que titulo era aquele escolhido, um tal de “Retratos Fantasmas”, dirigido por Kleber Mendonça Filho. Pois este longa-metragem, um documentário, gênero pouco praticado no Brasil, esteve em exibição em Londrina, no Espaço Villa Rica, no fim de semana - e terá mais uma sessão neste sábado (16), às 15h. Não por coincidência, o Villa Rica é um dos últimos cinemas de rua ainda existentes no País, tema principal mas não o único – graças aos deuses Lumière.

O filme “Retratos Fantasmas” disputou a vaga com outros 28 longas-metragens nacionais, inscritos e habilitados e, na semana passada, passou para o turno final da disputa com cinco títulos: “Estranho Caminho”, de Guto Parente, “Noites Alienígenas”, de Sergio de Carvalho, “Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha”, de Eduardo Albergaria, “Pedágio”, de Carolina Markowicz, e “Urubus”, de Claudio Borrelli. "Foi uma reunião democrática, representativa em uma comissão ampla. A diversidade e qualidade dos filmes nos levou a três horas de debate até chegarmos ao título escolhido", afirmou Ilda Santiago, presidente da Comissão de Seleção (com 22 votantes) e diretora executiva do Festival do Rio.

O cinema São Luiz, no Recife, ainda em pé, exibindo "Bacurau", outro filme de Kleber Mendonça Filho
O cinema São Luiz, no Recife, ainda em pé, exibindo "Bacurau", outro filme de Kleber Mendonça Filho | Foto: Divulgação

“Retratos Fantasmas”, realização da CinemaScópio Produções, do próprio Kleber e de sua mulher, Emilie Lesclaux, traz o centro velho da cidade do Recife como personagem principal, revisitado através dos grandes cinemas que serviram como espaços de convívio durante boa parte do século XX.

O filme de Kleber é obra que resiste a qualquer classificação de gênero, mas sua rotulação é o documentário. Escapando com lírica habilidade das sempre traiçoeiras amarras do gênero, Kleber celebra suas raízes cinéfilas no Recife mesclando com rara inventiva a memorabília feita de espaços (inclusive domésticos) e gentes (inclusive familiares) entes e entidades, transformados em personagens e lugares, pessoas e sombras, espectros visuais e sonoros. Jamais perdendo de vista o pessoal, o social, o econômico, o politico, o poético e a cinefilia, o filme tem como endereço certo as mentes habitadas por corações. E os bons fantasmas que acompanham os espectadores fieis de todas as partes do mundo.