'Relicário', de Arrigo Barnabé, traz um show de 45 anos
Álbum, que será lançado em 25 de abril, traz a gravação do show realizado em 29 de junho de 1980
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Álbum, que será lançado em 25 de abril, traz a gravação do show realizado em 29 de junho de 1980
Reportagem local

Dos porões da Vanguarda Paulistana, o Selo Sesc lança em abril o "Relicário: Arrigo Barnabé & Banda Sabor de Veneno (Ao vivo no Sesc 1980)." Disponível nas principais plataformas de áudio a partir de 25 de abril, o álbum traz a gravação do show realizado em 29 de junho de 1980, o último de uma breve temporada do artista no Teatro Pixinguinha do Sesc Consolação. A gravação se configura como uma das apresentações que traziam ao público Clara Crocodilo antes de seu lançamento oficial. O vinil viria a ser lançado somente em novembro do mesmo ano.
O show, que comemora 45 anos, resgata sete das oito canções do álbum que hoje é considerado um clássico da música brasileira. Misturando música erudita, base do trabalho de Arrigo, com elementos da música popular, o disco, assim como o show, traz também elementos bastante urbanos e midiáticos, reunindo símbolos radiofônicos, jornalísticos e quadrinescos, o que confere contemporaneidade, dinamismo e dramaticidade à obra. Com uma atmosfera lúgubre, as peças criam uma narrativa imagética que acompanha o surgimento de Clara Crocodilo e suas atrocidades que têm a cidade como plano de fundo.
Além da faixa homônima à personagem, outras bastante representativas que constituem este relicário são Diversões Eletrônicas, Orgasmo Total e Sabor de Veneno. Lástima, que não compõe o álbum Clara Crocodilo, entra como extra, abrindo o show. A Banda Sabor de Veneno, que acompanha Arrigo no palco, é um coletivo que, à época, contava com nomes como o de Paulo Barnabé, na bateria, Suzana Salles e Vânia Bastos nos vocais e Regina Porto no piano.
“O ponto de partida foi a fusão da música erudita do século XX (Bartok, Stravinsky e Schoenberg, principalmente) com a música popular como se fazia no Brasil na época, que incorporava influências estrangeiras como o rock e o jazz. E o teatro também, lembro de espetáculos do Zé Celso e do Balcão. Além disso, a cena da dança contemporânea e das performances”, conta Arrigo sobre algumas das influências para a composição.
IRONIA E COMICIDADE
Outras características da obra são a ironia e a comicidade que a permeiam. Os absurdos e vilanias da saga do monstro são enfatizados pela narração característica de Arrigo Barnabé, inspirada em figuras como Gil Gomes e José Gil Avilé (vulgo Beija-Flor), além de elementos operísticos, trazendo assim algo inédito à cena musical daquele momento. Junto a isso, a obra também inovou em termos musicais, trabalhando a música erudita de maneira arrojada. Segundo o músico, Clara Crocodilo apresenta “uma dissonância de maneira nunca antes usada”. De modo simplificado, a dissonância pode ser entendida como acordes que juntos geram tensão, contraste e instabilidade na música, transmitindo emoções e conferindo dramaticidade à obra.
Sendo uma obra nada convencional, o que poderia causar estranheza foi, de fato, muito bem aceito à época do lançamento. “A reação do público foi surpreendente. Parece que eles estavam esperando alguma coisa assim. De maneira geral também foi muito positiva, tanto de público como por parte da imprensa e dos críticos de revistas e jornais. Já com a mídia eletrônica (rádio, tv) era muito difícil, não havia espaço para nosso trabalho.”, comenta Arrigo.
Clara Crocodilo foi composta no período em que vigorava no Brasil a ditadura militar. A história se passa no futuro, em 1999, propondo o que seria um prenúncio da virada do século e do milênio. “É emocionante. Incrível perceber como continua atual”, completa Arrigo sobre a sensação de reouvir esse show tantos anos depois do que a própria narrativa vislumbrava.

Confira as faixas do álbum:
1 - Lástima (Arrigo Barnabé)
2 - Sabor de Veneno (Arrigo Barnabé)
3 - Diversões Eletrônicas (Arrigo Barnabé /Regina Porto)
4 - Infortúnio (Arrigo Barnabé)
5 - Orgasmo Total (Arrigo Barnabé)
6 - Instante (Arrigo Barnabé)
7 - Office-boy (Arrigo Barnabé)
8 - Clara Crocodilo (Arrigo Barnabé / Mário Lúcio Cortes)
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FICHA TÉCNICA
Arrigo Barnabé & Banda Sabor de Veneno ao vivo no Sesc_1980
Arrigo Barnabé – voz e piano acústico
Bozo Barretti – sintetizador e teclados
Chico Guedes – saxofone tenor
Felix Wagner – clarinete contralto
Gilson Gibson – guitarra
Mané Silveira – saxofone soprano
Paulo Barnabé – bateria
Regina Porto – piano fender
Rogério Benatti – percussão
Suzana Salles – voz
Tavinho Fialho – contrabaixo elétrico
Ubaldo Versolato – saxofone alto
Vânia Bastos – voz
Projeto Gráfico: Alexandre Calderero
Gravado no Sesc Consolação em 29 de junho de 1980.

