Giordani Rodrigues
De Curitiba
Especial para a Folha2
O teatro visto e discutido dentro do próprio espaço teatral é a proposta da peça-conferência ‘‘Carta Aberta’’, baseada em texto do filósofo e diretor de teatro francês Denis Guénoun, escrito em 1996. O espetáculo estreou no Guairinha em setembro de 1998 e participou do último Festival de Teatro de Curitiba. Agora, está novamente em cartaz em duas apresentações especiais no Teatro da Federação Espírita, em Curitiba, hoje e amanhã, às 21 horas. No primeiro semestre de 2000, parte para apresentações no Centro Cultural Itaú, em São Paulo.
O texto de ‘‘Carta Aberta’’ foi traduzido por Fernando Kinas, que também assina a direção da peça, encenada pelo ator e advogado Lori Santos. Kinas chegou recentemente de Paris, onde fez um curso de filosofia e teatro com Guénoun. Durante o espetáculo, o espectador é convidado a refletir sobre o que é e para que serve o teatro, além de suas relações com o público, os patrocinadores e o Estado.
Até mesmo uma parábase é utilizada no decorrer da peça com o intuito de envolver a platéia na discussão. A parábase foi um recurso bastante utilizado no teatro grego antigo, em que os atores, abandonando seus papéis, interrompiam uma tragédia ou comédia e se dirigiam ao público com suas verdadeiras personalidades para dar opiniões, fazer comentários, esclarecimentos ou apelos.
Em ‘‘Carta Aberta’’, a certa altura o ator Lori Santos interrompe a peça e distribui uma folha de papel aos espectadores, convidando-os a lê-la e refletir sobre um componente do teatro nem sempre muito nobre: o dinheiro. Se a bilheteria não consegue pagar a totalidade de um espetáculo, a necessidade que o público tem em vê-lo é limitada. Quem deve financiar o teatro, então? O Estado, mesmo que essa não seja uma obrigação, como é o caso da educação primária? Ou apenas aqueles a quem o espetáculo se dirige?
A peça-conferência, ela mesma tendo recebido apoio da Fundação Cultural de Curitiba, chega a algumas conclusões, mas principalmente incita a platéia a não se conformar com a passividade do papel de meros espectadores. Além de Lori Santos e Fernando Kinas, ‘‘Carta Aberta’’ conta com a participação de Simone Violanti na assistência de direção, Nadja Flugel na iluminação e Marina Willer, parceira do diretor em vários trabalhos, na direção de arte.
‘‘Carta Aberta’’, de Fernando Kinas. Hoje e amanhã, às 21h, no Teatro da Federação Espírita do Paraná (Alameda Cabral, 300). Ingressos a R$ 5,00, e entrada gratuita para estudantes de teatro.