Nelson Sato
De Londrina
Os glossários disponíveis já não conseguem definir o drum’n’bass. Até pouco tempo atrás, bastava descrever o estilo no sentido literal do termo, acrescido de adjetivos tipo bateria frenética e baixo pulsante.
Hoje, o drum’n’bass parece repelir verbalizações. Virou uma metamorfose sonora sem controle incorporando gêneros cada vez mais díspares. No Brasil, a tendência está fornecendo boa parte dos melhores discos eletrônicos da temporada.
Depois de ‘‘In the Mix’’, assinado pelo DJ Marky Mark, o ritmo vive o auge com uma sucessão de lançamentos que inclui CDs dos DJs Patife, Gerador Zero, Rica Amabis, Andy C e Anvil Fx. ‘‘Presents Sounds of Drum’n’Bass’’, de Patife, é o grande destaque da fornada.
A exemplo de Marky, com quem divide o pioneirismo da cena no País, Patife estréia com um típico álbum de DJ reunindo remixes de composições alheias. É o formato também privilegiado pelo DJ Andy C em ‘‘Andy by Overnight Presents Drum’n’bass’’ (RDS/Sky blue), que inclui o hit ‘‘Ultra-Obscene’’, do Breakbeat Era.
Mas o dono da carne seca é mesmo Patife. Com projeto gráfico cuidadoso, seu CD chega às lojas pelo Sambaloco, subselo da gravadora Trama especializado em sonoridades eletrônicas. Patife castiga, no bom sentido, o ouvinte levando-o ao êxtase com uma seleção de 14 faixas.
A compilação traz contribuições gringas e locais. ‘‘Live & The Jazz Club’’, emprestado do DJ Addiction, cria a exata atmosfera sugerida pelo título enfatizando harmonias suaves com pianos e metais. ‘‘The Secrets Of the Floating Island’’, do XRS Land (projeto do DJ e produtor brasileiro Xerxes de Oliveira), mescla instrumental acústico, arranjos bossa nova e grooves programados.
XRS Land comparece ainda com a não menos empolgante ‘‘Get Back’’, na qual cita o clássico ‘‘Samba de uma Nota Só’’, de Tom Jobim e Newton Mendonça, em meio a breaks vibrantes. ‘‘Favela Jazz’’, outra presença brazuca, serve como uma introdução ao trabalho da dupla Drumagick, formada por Gui e Júnior Deep. É uma das faixas de mais ‘‘alta periculosidade’’ na pista, para usar a expressão do libreto que acompanha o CD.
Patife planeja lançar uma nova compilação ainda este ano. Já para 2001, pretende finalmente produzir um álbum com músicas próprias. Foi o que fez o DJ carioca Fábio Soares, agora à frente do projeto Gerador Zero. Depois de lançar um CD-demo (CD-R), ele chega ao público com um álbum que está dando o que falar no meio.
Reunindo 10 faixas, ‘‘Gerador Zero’’ enfatiza o drum’n’bass, mas varia de melodias etéreas (‘‘Bailarina de Plástico’’) a alusões à bossa nova (‘‘Turboelis’’). No site www.fzero.rj.net, através do qual ele divulga e vende o disco, o DJ explica que a produção do CD só foi possível graças à evolução dos computadores e dos programas de composição e mixagem.
‘‘Dos irritantes ‘bips’ da década de 80 até hoje’’, diz ele, ‘‘a tecnologia avançou ao ponto de um computador que nem mesmo é do último tipo’ poder fazer as vezes de instrumento musical, console de mixagem e seção de masterização’’. É com o mesmo entusiasmo que o músico, produtor e DJ mineiro Paulo Beto parece ter acolhido as mutações ocorridas no universo digital.
Nos anos 80, ele tocava guitarra em bandas de rock. Mais tarde, montou o projeto Silverblood, com o qual chegou a lançar um elogiado álbum pelo selo Cri du Chat. Hoje atende pelo pseudônimo Anvil Fx, que está nas lojas com o CD ‘‘Lo-fi Genesis’’, lançado pelo selo independente Motor Music, de Belo Horizonte.
Privilegiando fusões, o DJ parte do drum’n’bass para combinar elementos de variadas origens como música regional brasileira, ritmos tribais, música eletroacústica e jazz. Entre as participações constam a cantora Tarsila Broder na faixa ‘‘Carnaval’’, uma versão de uma marchinha composta pela dupla Alfredo Toschi e Camarão.
Há ainda participações de nomes como Dizzy Gillespie, Banda de Pífanos de Caruaru e Juliette Greco – só que estes através de samplers e tapes analógicos. O produtor Rica Amabis também foi fundo nas colaborações ‘‘virtuais’’ em seu CD de estréia ‘‘Sambadelic’’, lançado pelo selo independente YBrazil?Music.
Paulinho da Viola, Sargentelli, Jorge Benjor e Tobias (da escola de samba Vai-Vai) são alguns dos ‘‘convidados’’ ilustres. No redemoinho das batidas do drum’n’bass, cabe tudo.O drum’n’bass ganha cada vez mais adeptos entre os DJs brasileiros. Vários deles estão lançando CDs do gênero
ReproduçãoPatife: mixagem classuda de faixas alheiasReproduçãoCapa do disco Gerador Zero, vendido apenas pela InternetDivulgaçãoAnvil Fx: drum’n’bass de Juiz de Fora (MG)