Trinta e cinco teatros e companhias de óperas na América Latina realizaram 100 produções líricas em 2018; 20% dos títulos apresentados pertenciam ao chamado repertório clássico; a região conta ainda com 153 orquestras sinfônicas e filarmônicas com temporadas regulares, 178 conservatórios de música e realiza 50 festivais de ópera anuais.

Os números foram reunidos pela Ópera Latinoamerica (OLA), associação que congrega teatros e companhias de 12 países. O levantamento continua. Entre os membros da associação, espalhados por 12 países, entre eles o Brasil, 77% produziram suas próprias óperas e 66% deles possuem temporadas anuais regulares.

"Os números mostram um mercado importante, mas também um enorme potencial de crescimento a partir de possibilidades de cooperação", afirma a chilena Alejandra Martí, diretora executiva da OLA. "Nosso trabalho é justamente ajudar a estabelecer essa rede de atuação em uma visão de longo prazo para a ópera no continente."

Alejandra Martí estará nesta segunda-feira, 25, em São Paulo para participar do evento Ópera em Pauta, no Teatro Municipal de São Paulo. Nele, fará uma apresentação a teatros do País a respeito da associação. O evento terá falas também de alguns dos associados brasileiros, como o Festival Amazonas, o Festival do Theatro da Paz, a Cia. Ópera São Paulo e o próprio Municipal de São Paulo. A entrada é franca e para participar é preciso se inscrever pelo site http://bit.ly/encontrodaola.

Durante o evento, também será anunciada oficialmente a realização no Brasil da assembleia-geral da OLA, no início de 2021. Será em Manaus, durante o Festival Amazonas de Ópera, que tem sido o fiador da entrada cada vez maior da OLA no País: no início deste ano, a capital amazonense sediou um simpósio no qual o governo federal assinou um documento que "reconhece a ópera como segmento relevante para a cultura brasileira" e prevê "a convergência de esforços para o fomento e intercâmbio de montagens de ópera na América Latina", tendo em vista possíveis parcerias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

A OLA surgiu em 2006, com três instituições: o Municipal de Santiago, o Teatro Solis de Montevidéu e o Instituto de Belas Artes do México. "O ponto de partida foi perceber que na ópera poderia haver uma colaboração entre os países, como há em outras áreas", diz Alejandra. "Juntos talvez pudéssemos avançar mais, ganhar maior força com a troca de experiências e mesmo de produções, pensando em formas de diminuir custos."

Com o tempo, o escopo aumentou: novos membros foram se associando e parcerias foram criadas com associações similares, como a Ópera América e a Ópera Europa, por meio da qual a Espanha se uniu de forma honorária ao grupo latino-americano. A OLA não investe em produções ou teatros específicos: trabalha na criação de uma rede de parcerias tendo em vista o desenvolvimento de infraestrutura para a ópera na região.

"Hoje, são cinco os pilares da nossa atividade. O primeiro é promover a colaboração entre os teatros. Se hoje 66% dos nossos membros produzem ópera regularmente, então são muitas as possibilidades de cooperação que podem ser exploradas. Em segundo lugar, vem a busca por uma comunicação em rede, fundamental para que isso aconteça. O terceiro ponto é possibilitar projetos de formação de artistas; o quarto é pensar formas de contato com os jovens. E o quinto, investir em tecnologia, com uma plataforma que facilite o diálogo entre teatros."

Essa plataforma ganhou forma no site Escena Digital, no qual os teatros do continente podem anunciar suas produções disponíveis para aluguel ou buscar cenários e figurinos de outros teatros para as próprias montagens. O site também tem espaço para a divulgação de artistas - cantores que trabalharam nos últimos dois anos em teatros membros da OLÁ.

A pesquisa realizada pela OLA é interessante pelo que revela das produções dos teatros do continente. Mas também - e talvez principalmente - pelo que ainda não é feito. Há hoje na América Latina cerca de 150 entre os 400 teatros com mais de 600 lugares e fosso de orquestra, ou seja, indicados para o repertório operístico, que ainda não produzem espetáculos. No Brasil, de acordo com o levantamento feito por Flavia Furtado, diretora executiva do Festival Amazonas, há 91 teatros prontos para ópera, mas apenas 6 apresentam temporadas de forma sistemática.

"O potencial de crescimento, de abertura de mercado para os profissionais e de contato com um novo público, é imenso", diz Alejandra. Flavia Furtado, por sua vez, tem trabalhado em reuniões em todo o país para mostrar o impacto social e econômico que o gênero pode ter. Segundo ela, o Festival Amazonas gera hoje 578 empregos diretos, mais do que diversos setores da Zona Franca de Manaus, como limpeza, têxtil, brinquedos e mobiliários. "O nosso trabalho é criar uma ideia de mercado latino-americano de óperas, que possa se relacionar também com os mercados europeu e americano e tornar-se cada vez mais forte", diz Alejandra.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.