RAUL REVIVE NO PALCO
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 18 de janeiro de 2000
Beatriz Coelho Silva
Agência Estado
O cantor e compositor Raul Seixas sempre dizia não ter medo da morte, mas temia deixar de existir. Como costuma ocorrer com os ídolos de massa, ele ficou mais popular depois de morrer, em agosto de 1989, e agora recebe uma homenagem teatral. A partir de hoje, o ator Roberto Bontempo vai revivê-lo no monólogo Raul fora da Lei, que estréia no Teatro do Planetário da Gávea, na zona sul do Rio, numa temporada de dois meses. O texto é baseado nos escritos e nas músicas do maluco-beleza.
Há quase dez anos, Bontempo vinha pensando em fazer algum espetáculo com o chamado Baú do Raul, escritos que o cantor deixou e que vão sendo publicados aos poucos. Mas só no ano passado chamou Luiz Arthur Nunes para escrever o roteiro e o cineasta José Jofilly para dirigi-lo. De certa forma, o espetáculo é uma experiência inédita para os dois: é a primeira direção de teatro de Jofilly, que tem extenso currículo no cinema, e o primeiro monólogo de Bontempo, que mais dirigiu que atuou em teatro.
Quando ouvi Ouro de Tolo, o primeiro sucesso de Raul, nos anos 70, fiquei ligado na sua música e no seu jeito contraditório de ser, pois ele pregava que cada um devia viver segundo seus princípios e não baseado em imposições da sociedade, diz Bontempo, que também queria experimentar o desafio de um monólogo. Não tentei imitar o Raul em cena mas, como ator, acabei pegando seus trejeitos e sua ironia.
Jofilly estréia em teatro depois de mais de 30 anos de carreira em cinema e televisão. Ele compara o espetáculo a um grande plano sequência (tomada longa no cinema em que não há cortes de montagem) e diz que sai do ensaio como se tivesse passado horas editando um filme. A diferença é que o teatro é fugaz, não tem permanência, pois a cena é única a cada vez que se repete, o que potencializa a emoção, teoriza.
A peça teve uma pré-estréia em novembro, em Ouro Preto, Minas Gerais, e os dois se surpreenderam com o público que cantou todas as músicas do espetáculo. E ele teve o cuidado de fazê-las ao vivo, com banda de quatro músicos, respeitando os arranjos de Raul Seixas. Essa foi uma boa surpresa porque, no ensaio, a gente não tinha idéia dessa reação da platéia, conta Bontempo. Procuramos lembrar seus maiores sucessos, de Metamorfose Ambulante, uma autodefinição do Raul que abre o espetáculo, até as últimas músicas, do disco que ele fez com Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, pouco antes de morrer.
O espetáculo deve rodar o Brasil. Em junho deve estrear em São Paulo. A montagem custou R$ 35 mil e, apesar de inscrita na Lei Rouanet, ainda procura patrocínio.