Levantando reflexões sobre o racismo estrutural que prevalece no Brasil desde os tempos coloniais, o grupo EQuemÉGosta?, de São Paulo, chega a Londrina nesta quinta-feira com o espetáculo “Isto é Um Negro?”. A montagem que integra a programação da Mostra Nacional de Artes Cênicas - Filo 2019, será apresentada às 20h20, na Divisão de Artes Cênicas – Casa de Cultura UEL. No palco, a companhia paulista aborda questões sobre racismo, o lugar do negro na sociedade e a violência que dominam temáticas contemporâneas e urgentes.

A dramaturgia do espetáculo que estreou no início de 2018, em São Paulo, é costurada por textos inspirados em obras de grandes autores negros, incluindo Fred Moten, Achille Mbembe, Bell Hooks, Grada Kilomba e Sueli Cordeiro, entre outros. “Os textos servem de suporte e apoio para essa discussão, principalmente o suporte quanto ao período pós-colônia e como isso forma a nossa identidade. Pois, embora tenham sido escritos por pessoas de outros países ou em outra época, existem sentimentos que dizem respeito a todos nós, pois dentro das nossas diferenças a gente tem muita coisa em comum”, argumenta Mirella Façanha, atriz que assina o texto do espetáculo em parceria com Tarina Quelho.

Além da inspiração literária, Mirella destaca que experiências pessoais foram inseridas no contexto do espetáculo. “Tanto nossas enquanto performers, quanto histórias de amigos nossos”, revela ao ressaltar que a mensagem do espetáculo é repassada de forma muito direta para a plateia através de variadas linguagens cênicas. “O discurso transita entre muitas cenas de dança, trechos de stand up, formato de palestra e de auto-ajuda foram adotados para que a gente pudesse falar de temas urgentes”, afirma a artista que na montagem divide o palco com os atores Ivy Souza, Lucas Wickhaus e Raoni Garcia.

“Isto é Um Negro?”: experiências pessoais estão no contexto do espetáculo que aborda o racismo e a violência
“Isto é Um Negro?”: experiências pessoais estão no contexto do espetáculo que aborda o racismo e a violência | Foto: Rodrigo de Oliveira/Divulgação

Dentre os apontamentos feitos pelos atores em cena, está a manutenção do racismo que atravessa séculos no Brasil. “Acho que essa situação já passa de 500 anos. O que está acontecendo hoje no país, é que com este novo governo estamos perdendo direitos básicos que demoramos muito tempo para conseguir. Existe uma violência que exige uma resistência muito grande, não só pelos negros, mas também por várias outras minorias que também estão na linha de morte”, resume.

Segundo a atriz, a plateia tem respondido de formas inusitadas às provocações do grupo em cena. “Logo no início do espetáculo a gente tem um dispositivo em formato de jogo com a participação do público e através dessa atividade a gente já percebe com que tipo de plateia a gente está dialogando. Em todas as apresentações que fizemos até agora, algo muito forte acontece, sem exceção. Tem desde pessoas que não suportam ouvir um negro falando sem poder interromper e acaba levantando e indo embora, até o caso de uma pessoa que passou o espetáculo inteiro deitado na beira do palco ou outra que entrou em processo de catarse e ficou a peça toda falando junto com a gente”, relata.

"Isto É um Negro?” é o primeiro trabalho do grupo paulistano que surgiu a partir de um processo de criação dentro da Escola de Arte Dramática (EAD/ECA) da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 2016. O grupo é formado por profissionais da dança, do teatro e das artes visuais.

Desde que estreou no ano passado no Sesc Belenzinho, em São Paulo, o espetáculo foi apresentado em vários festivais brasileiros, O grupo fez sua estreia na Europa no Festival MEXE (Portugal) e segue em turnê em 2020 pela Europa e Estados Unidos.

Serviço:

Mostra Nacional de Artes Cênicas – Filo 2019

Espetáculo - “Isto é um negro?”, com o grupo EQuemÉGosta? (SP)

Quando – Quinta-feira (31), às 20h30

Onde - Divisão de Artes Cênicas da Casa de Cultura da UEL (Av. Célso García Cid, 205)

Quanto – R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)

Pontos de venda – Loja Ciranda e www.sympla.com.br

Classificação indicativa – 18 anos