Racismo à cor da pele - relatos de quem sabe o que é isso
Artistas negros que sofreram racismo fazem da cultura a principal arma contra o preconceito
PUBLICAÇÃO
sábado, 13 de junho de 2020
Artistas negros que sofreram racismo fazem da cultura a principal arma contra o preconceito
Marcos Roman Grupo Folha
O preconceito racial é denunciado por diversos artistas brasileiros.
Neta de escrava, Elza Soares conta em sua biografia que vivenciou o racismo em diversos episódios. No início da carreira, foi proibida de subir em várias casas de shows, chegou a ser impedida de se hospedar em hotéis porque era "gente de cor" e deixou de fazer parte do cast de uma grande gravadora pelo fato de ser negra.

Aclamado no mundo inteiro como um dos maiores músicos de todos os tempos, Milton Nascimento também foi vítima de racismo. Na juventude, o cantor e compositor mineiro conta que pelo fato de ser negro era proibido de frequentar o principal clube de lazer da cidade de Três Pontas. Quando havia shows no local, a única opção do artista era ficar na praça ouvindo o som que vinha do clube. E só ficava sabendo o que acontecia lá dentro graças ao amigo Wagner Tiso, que saia para a praça para contar a ele tudo o que presenciava.
O rapper Criolo sentiu na pele o peso do preconceito racial ainda na infância. Após sofrer um acidente doméstico foi levado pelo pai em um pronto-socorro. Segundo ele, o atendimento foi rápido e durou apenas cerca de 30 minutos. Entretanto, só conseguiram deixar o local duas horas mais tarde, pois seu pai havia ficado detido depois de ser denunciado como sequestrador de uma criança branca que mantinha em cativeiro. Mas no caso, a criança em questão era ele, que tinha a pele mais clara que o pai.

A racismo foi traduzido em música por diversos compositores brasileiros, sobretudo os rappers. Entre os exemplos há composições de Criolo (“Boca de Lobo”) que tem na abertura um verso de Wally Salomão: “Agora entre meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu.” E ainda nas letras de Emicida (“Boa Esperança”) e Djonga (“Corra”).
Medalhões da MPB também falaram do tema, como Caetano Veloso e Gilberto Gil (“Haiti”) e Billy Branco (“Banca do Distinto”).
Confira trechos das músicas:
"Por mais que você corra, irmão
Pra sua guerra vão nem se lixar
Esse é o xis da questão
Já viu eles chorar pela cor do orixá?
E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão!
Bomba relógio prestes a estourar"
(Trecho de "Boa Esperança", de Emicida)
*
Made in Favela é aforismo pra respeito
Mondubim, Messejana, Grajaú, aqui é sem fama
Nos ensinamentos de Oxalá, isso é bacana
Na porta do cursinho, sim, docim de campana
LSD, me envolver, tem a manha
Diz que é contra o tráfico e adora todas as crianças
Só te vejo na biqueira, o ativista da semana
(Trecho de Boca de Lobo, de Criolo, Nave e Daniel Ganjaman)
*
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for à festa do Pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
(Trecho de Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil)
Confira alguns videoclipes:
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