Questão de saúde pública, aborto tem levantamento inédito
Livro de Mary Neide Damico Figueiró traz dados sobre o aborto clandestino, e dilemas das mulheres sobre o tema
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 05 de novembro de 2024
Livro de Mary Neide Damico Figueiró traz dados sobre o aborto clandestino, e dilemas das mulheres sobre o tema
Walkiria Vieira
Com a proposta de tratar o tema aborto com seriedade e responsabilidade, a obra “Aborto – Vamos conversar? Se não nós, quem? Se não agora, quando?”, da psicóloga Mary Neide Damico Figueiró, apresenta dados sobre o aborto clandestino, os dilemas das mulheres que fizeram aborto e a opinião de pessoas sobre a descriminalização.
A autora, mestra em Psicologia Escolar, pela USP, de São Paulo, doutora em Educação, pela UNESP de Marília (SP), foi docente da UEL, no departamento de Psicologia, de 1980 a 2011. No livro, ela traz à tona os motivos que levaram 11 mulheres a vivenciarem a experiência do aborto. O objetivo é debater o tema de modo profundo e responsável, sem ocultar a violência física e psicológica sofridas por elas, principalmente quando a escolha foi por um aborto clandestino.
A obra também traz um levantamento de opinião com 2200 respostas sobre a descriminalização do aborto. Os participantes responderam: “Quero saber a sua opinião sobre a proposta de descriminalização - deixar de ser considerado crime - do aborto no Brasil. Se tivesse que votar, como um membro do Congresso, você votaria a favor ou contra a descriminalização? Argumente sua resposta”.
PESQUISA
Segundo o levantamento, 51% das pessoas são contra a descriminalização do aborto e 48,6% a favor. Outra constatação, segundo o levantamento, é a influência do nível de ensino (escolaridade), da religião, entre outros, com relação aos argumentos apresentados para sustentação do posicionamento contra ou a favor da descriminalização. Hoje, no Brasil, a interrupção da gravidez é considerada crime, exceto nos casos de estupro ou de riscos à vida da mulher. Também, a partir de 2012, no caso de gravidez de fetos anencéfalos.
De acordo com a autora, especialista em educação sexual e professora aposentada da UEL, a obra sustenta uma postura de defesa da descriminalização do aborto, baseando-se em argumentos, informações e considerações que legitimam o aborto enquanto questão de saúde pública.
"A primeira coisa que me surpreendeu nos resultados foi constatar que no Brasil, de norte a sul, nas universidades, professores/as estudam e pesquisam o tema, na maioria das vezes comprometidos/as com a posição pró-escolha, ou seja, a favor da decisão da mulher, portanto em prol da descriminalização do aborto."
A autora destaca a dificuldade em encontrar mulheres dispostas a conceder entrevista, sendo que nos dois primeiros anos da pesquisa somente cinco mulheres foram entrevistadas. “A meu ver, o que é demais surpreende é o fato de que no caso de várias das entrevistadas, eu fui a primeira a saber, e que suas mães não souberam e não sabem do aborto ocorrido”, disse.
E isso se justifica: "Estamos em um país que a maioria das pessoas encara o aborto como sendo um crime e um pecado. Então, consequentemente, as reações e os sentimentos, comumente evidenciados a luz dos mesmos ao buscar fazê-lo ou submetendo-se a ele em condições adversas, são o silêncio, o medo, a culpa e o desespero", expõe.
"A pessoa decidida pelo aborto fica ciente de que está fazendo algo que em nosso país é considerado crime e pecado. Além do mais, aborto é uma violência física e emocional para a mulher. Todas as mulheres entrevistadas mostraram que a decisão é difícil, sofrida e muito solitária e todo o processo resulta em grande angústia e incertezas ainda mais se realizado em condições desumanas", revela.
SERVIÇO
Lançamento
“Aborto – Vamos conversar? Se não nós, quem? Se não agora, quando?” Mary Neide Damico Figueiró
Quando: quarta (6), às 17h30
Onde: Livraria EDUEL - Câmpus Universitário
Quanto: Valor: R$125,00; https://www.eduel.com.br/ Contato: (43) 3371 4683 (WhatsApp)