PONTO DE VISTA Quem está interessado em aulas de História? Francelino França De Londrina Se não fosse Cabral e a trupe lusitana terem aportado nessa paisagem tropical, estaríamos comemorando nesse ano somente a virada do milênio e pedindo mais 500 anos para esquecer o carnaval. Mas com o tema ‘‘500 anos de Descobrimento’’, ‘‘sugerido’’ pelo Ministro Rafael Greca como tema para o Carnaval 2.000, não será possível contabilizar o número de carros alegóricos em forma de bolo de aniversário que atravessarão as passarelas do samba de norte a sul do País. Com esse tema redondinho (500 anos) e a criatividade dos carnavalescos vão sobrar índias siliconizadas, Pedros Alvarez Cabral sarados e Caramurus polacos. Os céticos, certamente, questionam: esses quinhentinhos na certidão é motivo para a balconista rebolar na avenida sem medo de ser feliz, ao lado de um passista de sorriso farto? Ou é uma forte razão para sentar no meio-fio e chorar copiosamente, diante da alegoria de um faraó embalsamado? (Sim, porque algum carnavalesco vai fazer uma conexão entre nossa infância tropical e o Egito). Quem está interessado em aulas de História com professoras vestindo cinco centímetros de tapa-sexo? Os pensadores desse fenômeno social querem cobrar análises sociológicas e resgate histórico de quem é diplomado somente em alegria. E o sociólogo diplomado, condecorado, reeleito por voto popular não vai dar aula sobre abandono social? O paradoxo desses 500 anos de Carnaval é que muitos ‘‘professores’’ do asfalto sabem apenas desenhar o nome. Mesmo assim, se bobear, o crioulo de sorriso farto e cadência invejável pode comparar o período da República de Weimar com o momento histórico atual no Brasil. E ainda, sorrir para as câmeras do Fantástico – em ‘‘slow-motion’’ – num autêntico momento de explosão cultural.