São Paulo, 04 (AE) - Sou eu esta mulher que anda comigo/ e renova a minha fala e ao meu ouvido/ Se não fala de amor, logo se cala? Os versos são da intensa, apaixonada e também provocativa Hilda Hilst, cujo universo literário chega renovado aos leitores com a publicação de mais um belíssimo volume dos "Cadernos de Literatura Brasileira" (Instituto Moreira Salles, 144 págs., R$ 22), o de n.º 8.
Diferentemente dos volumes anteriores, este vem com um presente especial para o leitor: uma separata com dois poemas inéditos da autora, uma das mais importantes da literatura de língua portuguesa de todos os tempos, e dois de seu pai, Apolônio de Almeida Prado Hilst, ele também um poeta, publicados em jornais de Jaú, nas décadas de 20 e 30. "Meu pai foi a razão de eu ter me tornado escritora", revelou Hilda, entre outras coisas, ao diretor editorial dos "Cadernos", Antonio Fernando De Franceschi, e ao editor executivo, Rinaldo Gama.
A publicação, que traz logo no início uma cronologia da autora, reúne depoimentos de pessoas importantes na vida de Hilda, como o da amiga há quase 50 anos e também escritora Lygia Fagundes Telles, o do editor Massao Ohno, responsável pela edição de muitos de seus livros, o do ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e poeta Carlos Vogt, que nos anos 80 a convidou para integrar o Projeto do Artista Residente da instituição, além de uma longa carta inédita enviada a ela pelo então jovem escritor Caio Fernando Abreu, em 1969.
É pela mão deles que o leitor forma, aos poucos, um retrato da poetisa sob diversos ângulos, para depois completá-lo ao ler uma entrevista que durou mais de três horas, durante as quais ela respondeu a mais de 130 perguntas feitas por De Franceschi, Gama e seus convidados - o humorista Millôr Fernandes, a professora da Universidade de São Paulo Telê Ancona Lopez, o professor e historiador de arte Jorge Coli, a crítica literária e professora convidada também da USP Nelly Novaes Coelho.
Os textos são entremeados por imagens da infância e da juventude da escritora, que neste ano completa 70 anos de vida e 50 da publicação do primeiro livro, e por magníficas fotos de Eduardo Simões, que registrou recantos da casa e da chácara Casa do Sol, em Campinas, onde ela mora desde a década de 60, de objetos que fazem parte de seu cotidiano e de alguns de seus numerosos cachorros.
Além da reprodução do original de páginas datilografadas da peça "Auto da Barca de Camiri" (uma das oito que escreveu, sete delas ainda inéditas em livro), dois desenhos da escritora e um guia de informações bibliográficas, completam o volume quatro importantes ensaios escritos por especialistas em sua obra. Nelly Novaes Coelho aborda a poesia hilstiana, Leo Gilson Ribeiro enfoca a ficção, Renata Pallottini analisa a tão pouco estudada dramaturgia de Hilda e, por fim, Eliane Robert Moraes trata do erotismo não só dos livros escritos no início desta década para provocar crítica e público, mas o que perpassa toda a sua obra ficcional.
Os "Cadernos de Literatura Brasileira" podem ser encontrados nas principais livrarias do País ou adquiridos por assinatura pelo tel. (0--11) 212-2100 ou no seguinte endereço da Internet: www.ims.com.br.