O relatório Global Music Report 2023, da IFPI - Federação Internacional da Indústria Fonográfica - apontou que o streaming de música, no mundo todo, alcançou a marca de 589 milhões de assinantes. É de se imaginar, portanto, que os artistas estão conseguindo chegar ao grande público com os cliques de plataformas como Deezer e Spotify. Mas a maior parte desses ouvintes curtem praticamente os mesmos nomes. No Brasil, por exemplo, Ana Castela é a mais ouvida no Spotify.

Furar a bolha da indústria fonográfica continua sendo um desafio. Por isso, um projeto como o Instrumenta Brasil, coordenado pelo músico e produtor Eduardo Jardim, ganha relevância ao divulgar obras criadas e interpretadas por artistas radicados ou nascidos em Londrina. Com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, cinco vídeos foram gravados com obras autorais de Duo Clavis, Mateus Gonsales Trio, Septeto Reunion, Paulo Deggau Group e Alexandre Pivato.

O material está disponível gratuitamente pelo Youtube do Estúdio Bless Produções (@EstúdioBlessproducoes). Paralelamente, os áudios foram liberados para plataformas de música (Spotify e Deezer, entre outras). Com captação de primeira, a iniciativa chama a atenção pelas propostas diversificadas, cuja competência criativa e técnica tem potencial para seduzir ouvintes pelo mundo afora.

REDEMOINHO

Inspirado nos pequenos turbilhões, comuns no calor, o Duo Clavis gravou Redemoinho, composta por Marcello Casagrande (vibrafone) e Mateus Gonsales (piano). Com uma estrutura em looping, a obra imita o movimento do vento, mesmo quando ele ameaça se despedir para retornar em seu giro belo e efêmero. “A primeira parte da música traz a formação do redemoinho até o surgimento do tema. E a segunda parte é mais caótica, com uma harmonia mais tensa, pois o redemoinho se espalha e depois aparece de novo”, comenta Marcello Casagrande.

O Duo Clavis gravou Redemoinho, composta por Marcello Casagrande (vibrafone)
O Duo Clavis gravou Redemoinho, composta por Marcello Casagrande (vibrafone) | Foto: Vinicius Viana/ Divulgação

MIOLO DE POTE

Gravada em violão solo - embora tenha sido composta originalmente para mais instrumentos -, Miolo de Pote, de Alexandre Pivato, tem um suingue brasileiro cercado pelas vivências multiculturais do compositor, que costuma tocar em cruzeiros pelo mundo afora. “Miolo de Pote é uma expressão muito utilizada no Ceará para coisas que não têm significado algum”, destaca Pivato, que despertou a imaginação a partir da ideia de um pote vazio.

Miolo de Pote, de Alexandre Pivato, tem suingue brasileiro
Miolo de Pote, de Alexandre Pivato, tem suingue brasileiro | Foto: Vinicius Viana/ Divulgação

SETEMBRO

Já o pianista Mateus Gonsales buscou algo mais intimista em Setembro, faixa também inédita e capaz de suscitar bons sentimentos espalhados pelos recantos da alma. “Eu queria um nome que trouxesse uma sensação boa. A época da primavera é muito especial. Eu nasci em setembro, então ficou esse nome”, revela. Na gravação, Setembro ganhou o brilho de Diogo Burka (contrabaixo) e Elthon Dias (bateria).

Ouça 'Setembro'

JURERÊ

O guitarrista, compositor e produtor Paulo Deggau remete ao movimento das ondas, carregando consigo os mistérios do mar, em Jurerê. Foi assim, contemplando a praia, que a música ganhou forma. A gravação para o Instrumenta Brasil contou com a participação de Rodrigo Skill (bateria), Dago Vilela (contrabaixo), Eliasafe Souza (piano) e Kellen Franco (backing vocal). “Acho que o resultado ficou legal porque conseguimos transmitir o que eu senti na hora em que fiz a música. Tem um certo mistério, uma sequência de acordes que é meio inusitada. Deu muito certo”, comenta o compositor.

Ouça 'Jurerê'

TRITONANDO

Já o maestro Vitor Gorni preferiu explorar os timbres do Septeto Reunion em Tritonando. O nome remete a um intervalo musical (trítono) capaz de gerar expectativa, como se algo estivesse prestes a acontecer. Dessa forma, o trítono pula de compasso em compasso, passando de instrumento para instrumento. “Em algum lugar, ele vai aparecer. Embora essa música tenha uma melodia diferente, lembra muito um baião”, ressalta Gorni. A faixa foi gravada com Miguel Santos (acordeom), Arthur Alves (violoncelo), Gabriel Zara (contrabaixo), Mateus Gonsales (piano), Marcello Casagrande (vibrafone), Gilson Corsaletti (bateria) e o próprio Vitor Gorni no saxofone.

“Temos muita gente boa precisando de espaço e visibilidade, e a primeira edição do Instrumenta Brasil mostra que Londrina precisa divulgar mais sua produção musical”, destaca Eduardo Jardim. Como contrapartida, o músico ministrou oficinas para o Batuque na Caixa, do Instituto Cultural Arte Brasil, e para a Banda Marcial Marcelino Champagnat. Os detalhes estão no site www.instrumentabrasil.com.

O projeto teve apoio da Lei de Incentivo à Cultura e do Fundo Nacional da Cultura, do Governo Federal, com patrocínio da Copel e da Tamarana Tecnologia Ambiental. A segunda edição, marcada para 2024, já foi aprovada, mostrando que a iniciativa terá, felizmente, continuidade.

Em Tritonando, o maestro Vitor Gorni explora os timbres do Septeto Reunion
Em Tritonando, o maestro Vitor Gorni explora os timbres do Septeto Reunion | Foto: Vinicius Viana/ Divulgação