Das contestações juvenis até o resgate das próprias origens foram cerca de 30 anos. Hoje, aos 47 anos, o professor de literatura Oscar Fussato Nakasato, de Apucarana, comemora a seleção do seu romance ''Nihonjin'' como vencedor da primeira edição do Prêmio Benvirá, organizado pela Editora Saraiva, que recebeu 1.932 inscrições de todo o País. Além dos R$ 30 mil em prêmio, deverá sair em abril a edição do livro pelo selo Benvirá, lançado no ano passado para ficção e não-ficção. O anúncio oficial foi realizado na semana passada.
''Foi uma surpresa boa receber a ligação comunicando o prêmio, principalmente porque já havia inscrito o romance duas vezes no Prêmio Sesc de Literatura sem obter sucesso'', comenta o professor, que desde 2007 leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná de Apucarana (UTFPR).
Nascido em Maringá, mas criado até os 8 anos no sítio da sua família em Floresta (25 km a oeste de Maringá), Nakasato conta que o seu livro é o resultado das próprias lembranças, de conversas com a sua mãe Emiko, hoje com 80 anos, e muita pesquisa. Doutor em Literatura Brasileira pela Unesp de Assis, em 2002, sua tese teve como tema os personagens nipo-brasileiros na ficção. ''Constatei que há poucos personagens dessa categoria na nossa literatura. E, quando eles existem, são figuras bem esteriotipadas, baseadas naquela ideia de que os japoneses roubavam o trabalho dos brasileiros e apenas exploravam a terra'', ressalta.
Com a tese concluída, o embrião do romance começou a se formar. Nas horas vagas, lá estava Nakasato rascunhando o seu romance, que mais de uma vez foi totalmente modificado até a versão final, em 2007.
No romance ''Nihonjin'' (que significa japonês), Nakasato faz a reconstrução histórica da imigração japonesa ao contar a história de Hideo Inabata, que chega ao Brasil em 1920. Japonês orgulhoso de sua nacionalidade, Inabata passa por dificuldades de adaptação. Com o tempo, arrepende-se por ter sido intransigente com o filho Haruo, que assumiu a brasilidade e morreu assassinado após a Segunda Guerra, e com a filha Sumie, que abandonou o marido japonês para fugir com um 'brasileiro'.
Dentre os aspectos históricos abordados pelo livro, estão os conflitos ocorridos principalmente em Tupã (SP), que resultavam em assassinatos entre os ''makegumes'' - que eram aqueles que aceitavam a derrota do Japão na 2 Guerra Mundial - e os ''kachigumes'' - nacionalistas crentes que o Japão saíra vitorioso da guerra. Divididos em capítulos quase independentes, o livro permite uma leitura não-linear.
Composta por José Luiz Goldfarb (também curador do Prêmio Jabuti) e pelos escritores Nelson de Oliveira e Ana Maria Martins, a comissão julgadora informou que a escolha foi unânime. ''Esse romance é, antes de tudo, uma competente reconstrução histórica da imigração japonesa, tema pouco presente em nossa literatura. Sua força literária está não apenas na linguagem direta e sem firulas, nos personagens e nos conflitos marcantes, mas também no poder de comover o leitor'', disse a comissão, em nota.
''O livro foi uma forma de resgatar minhas origens. Tive a minha fase de contestação na juventude, quando nenhum dos meus amigos era de origem japonesa. Hoje reconheço que sou mesmo um nipo-brasileiro, a mistura de um pouco de japonês e brasileiro, e que isso trouxe vantagens para a minha vida'', admite. Sobre o próximo livro, Nakasato afirma que ideias não faltam, mas que precisa de mais disciplina para escrever mais.
O autor já foi premiado com os contos ''Alô'' e ''Olhos de Peri'' no III Festival Universitário de Literatura, promovido pela Xerox do Brasil e Editora Cone Sul em 1999. Os contos foram publicado pela Editora Cone Sul em 2000 no livro ''Contos'' juntamente com outros três contos também premiados no mesmo concurso literário. Com o conto ''Menino na árvore'' foi classificado em primeiro lugar na modalidade ''conto'' no Concurso de Poesia e Contos ''Categoria Especial Paraná'', integrante do 14º Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody e Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná em 2003. O conto foi publicado em 2005 pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná no livro ''Concursos Literários 2003''. Em 2010 publicou o livro ''Imagens da integração e da dualidade: personagens nipo-brasileiros na ficção'' pela Editora Blucher. O livro é resultado da tese de doutorado defendida na Unesp de Assis em 2002.