Otunba Adekunle Aderonmu dedica-se à divulgação da cultura africana: "A maior parte dos escravos trazidos da África para o Brasil eram nigerianos"
Otunba Adekunle Aderonmu dedica-se à divulgação da cultura africana: "A maior parte dos escravos trazidos da África para o Brasil eram nigerianos" | Foto: Marcos Roman

Londrina recebeu a visita do príncipe da Nigéria no final de semana. Otunba Adekunle Aderonmu desembarcou na cidade na manhã de sábado (14) e cumpriu uma extensa agenda. Visitou salões de beleza mantidos por africanos, participou de bate-papo em estudantes da rede pública e prestigiou a 1ª edição do Concurso Beleza Negra de Londrina.

Radicado em São Paulo desde 1992, quando saiu da Nigéria para fazer mestrado em Bioquímica na Universidade de São Paulo (USP), o príncipe comentou sobre sua vida no Brasil. “Em 1999, fundei o Centro de Cultura Africana e desde então tenho visitado vários eventos brasileiros com o objetivo de divulgar a Nigéria. Na semana passada, por exemplo, participei de uma palestra sobre o mês da consciência negra em Campo Grande (MT) e lá recebi o convite para vir a Londrina”, relatou.

Aderonmu comentou que logo que chegou ao Brasil, resolveu abandonar o curso de Bioquímica para se dedicar à divulgação da cultura africana entre os brasileiros. “A maior parte dos escravos trazidos da África para o Brasil eram nigerianos. Historicamente, nas escolas as crianças aprendem a cultura africana sob a ótica dos colonizadores europeus. Acho importante que elas conheçam essa narrativa do ponto de vista de um africano, aprendam a ter orgulho de suas raízes e a dar continuidade à cultura de seus ancestrais”, afirma ao comentar sobre as palestras que costuma ministrar em escolas das cidades que visita. Em Londrina, o encontro aconteceu no Colégio Estadual Vista Bela (zona norte), no último sábado (14).

Ele diz que aproveita o convívio com os brasileiros para falar sobre as riquezas do continente africano. “Quanto se fala em África, todo mundo só pensa em pobreza. Existem dificuldades, mas há também muita riqueza natural. A Nigéria, por exemplo, é o sexto país do mundo em produção de petróleo. Mas quase ninguém ouve falar sobre isso”, afirmou sobre seu país de origem que conta com cerca de 190 milhões de habitantes.

O visitante criticou a forte influência europeia e americana sofrida pelos afro-brasileiros. “É muito comum a gente encontrar no Brasil pessoas que têm pele negra, mas pensam como os europeus”, salientou. Segundo ele, uma prova disso é a visão que as pessoas daqui têm da monarquia. “Quando se fala em reis e príncipes, todo mundo já pensa em castelo e em uma vida de luxo, mimos e riqueza. Isso se deve à cultura europeia que predomina por aqui. Na Nigéria, existem vários reis. Todo líder que lutou por uma cidade recebe essa denominação. Mas isso não significa que essa pessoa seja rica e que seus filhos sejam mimados. Todo príncipe de lá tem que trabalhar para manter sua vida”, enfatizou.

Carregando no nome a palavra “otunba”, que pode ser traduzida como vice-rei, Aderonmu ressaltou que acredita que no momento tem sido mais útil ao seu povo aqui no Brasil. “Estou divulgando a cultura africana e conhecendo outras formas de vida que podem ajudar a abrir as mentes do povo do país. Meus pais já faleceram e no futuro pode ser que um dia eu volte à cidade de Abeokuta, onde nasci”, revelou.

Avaliando positivamente a atuação dos negros no cenário mundial contemporâneo, o príncipe destacou a importância de eventos como o Concurso Beleza Negra de Londrina. “É importante promover ações que fortaleçam a auto-estima dos afro-descendentes. Apesar de toda a discriminação que os negros sofreram ao longo da história, vivemos um período positivo, pois ainda que seja numa quantidade pequena, já podemos contar a presença de negros na política e em outros cargos importantes. Um exemplo disso, foi a eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. Um fato que seria impossível de se pensar 20 anos atrás”, concluiu.