A 6ª Flim (Feira Literária Internacional de Maringá) terminou neste domingo (10) com lançamentos de livros, oficinas, bate-papo com autores e apresentações musicais. Um dos destaques do encerramento foi a conversa com a cantora mineira Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu.

Fernanda Takai: "Só o fato de a gente não ter mais o Ministério da Cultura e em menos de um ano a cultura já ter sido tão paralisada mostra um desrespeito com nosso País"
Fernanda Takai: "Só o fato de a gente não ter mais o Ministério da Cultura e em menos de um ano a cultura já ter sido tão paralisada mostra um desrespeito com nosso País" | Foto: Divulgação

A cantora, que também é escritora e possui álbuns solo, falou sobre literatura, política e inspirações. "Como cantora e como representante cultural mineira eu tenho que escrever pensando como as pessoas estão lendo as minhas ideias e sempre me justificando. Nunca pensei em escrever um texto sem que eu mesma pudesse acreditar e defender as ideias que ali estão", disse, ao falar da sua atuação como escritora e como jornalista.

Para Takai, ter sido leitora foi ponto primordial para começar a escrever. Citou como escritores de referência da contemporaneidade João Paulo Cuenca e Stella Florence, além dos clássicos Fernando Sabino e Rubem Braga. Ao falar de escrita feminina, disse que ainda há quem entenda que literatura de mulher seja direcionada apenas às mulheres. Como se fosse algo menor. O livro de Takai, "Nunca Subestime Uma Mulherzinha", foi baseado no título do livro de Clarice Lispector "Correio Feminino". "Quando eu escrevi esse livro uma pessoa julgou a capa do livro 'Correio Feminino'. Por isso, nunca subestime uma mulherzinha. Essa mulherzinha pode ser inclusive a Clarice Lispector", pontuou.

Ela, que tem uma história de 27 anos no Pato Fu, reforça que por mais que as mulheres tenham ocupado várias frentes, ainda há poucas em bandas de pop rock no Brasil. "Por mais que tenha meninas, tem tanto mais homem", afirma. Takai orientou às meninas que se arrisquem com bandas e com a escrita. "Quando fiz a minha banda de colégio não tinha lugar para a gente se apresentar. Então criamos um concurso e a nossa banda ficou em último", relembra.

Não faz tanto tempo desde que o olhar de estranhamento direcionado às meninas que tocavam guitarra esteve presente no Brasil. Takai passou por isso. "Gente, claro que pode mulher tocar guitarra. As meninas podem e têm que ocupar o espaço mesmo", ressalta.

Na conversa, ela enfatizou a importância de festas literárias como a Flim e o "estar presente". "Nada substitui o nosso encontro aqui. Estar aqui é diferente, por isso eu acho que existe uma luz de esperança para todo mundo que trabalha com arte e cultura. É a forma de você se juntar com quem você gosta e até com quem você não gosta para tentar entender essa ideia".

Contudo, a plateia não parecia ter ideias muito distintas das que foram expostas por Takai quando falou sobre política e cultura. "Acho que só o fato de a gente não ter mais o Ministério da Cultura e em menos de um ano a cultura já ter sido tão paralisada mostra um desrespeito com nosso País. Tem muita coisa no Brasil que estava quase pronta, filme, peças, exposições. E agora museus estão sem manutenção. Não se entende que muito da nossa riqueza está na cultura", criticou.

Takai disse que só teve uma alegria nos últimos dias: a soltura do ex-presidente Lula. "É como se um general estivesse preso e agora está solto para lutar nessa guerra. Não é só o Lula livre, é um momento dessa resistência. Sentimos como no Star Wars e agora estamos felizes com nosso jedi-mór de volta".

Aplaudida ao falar de Lula, a cantora lembrou quando encontrou a ex-presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment. "Eu precisava dar um abraço na Dilma", contou. A cantora disse que nessa época suas redes sociais "foram invadidas por muito ódio". "Eu poderia bloquear ou poderia responder um ou outro que fosse menos mal educado tentando mostrar o meu ponto de vista. Não adianta nada brigar de soco, igualar-se no nível mais baixo. Foi que nem tirar folhas da piscina".

Takai diz não deixar de demonstrar suas ideias por medo de retaliações. "No mundo real, foi o oposto. Tinha gente que pedia para me abraçar porque eu fui abraçar a Dilma. A gente não pode ficar com medo do ódio, do terror".

CRÍTICAS

Quando iniciou a carreira no Pato Fu, Takai tinha 22 anos. Agora, com 48, diz ter evoluído sua posição quanto às críticas que recebe. "Entender as críticas tem muito a ver com a maturidade e a autoestima. É importante saber lidar com a crítica. Não estou falando só na arte. Quem quer começar com música ou escrita não procrastine. Comece já, não deixe de fazer. Comece hoje", convocou.