Os relatos de experiência de 17 poetas de língua espanhola e portuguesa compõem o livro “Ateliê Poético: residências (virtuais) em movimento”, promovido pela OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos) e recentemente publicado online. Trata-se de uma obra resultado da residência literária desses escritores, cuja polifonia - as diferentes vozes que se manifestam no texto - é um dos aspectos mais marcantes.

A escritora Karen Debértolis foi responsável por uma oficina ministrada entre março e abril de 2022, de forma virtual. No seu caso, as atividades ocorreram com 20 estudantes de 13 anos do Instituto Las Musas, uma escola de Madri, na Espanha.

“Muitos deles me relataram, no primeiro encontro, que tinham uma relação com a poesia porque os pais liam poemas para eles quando pequenos. Então, foi muito estimulante poder acompanhar uma turma tão empolgada com a poesia e jovens tão abertos a experimentar tipos de poesia com as quais nunca haviam tido contato - a poesia visual e a poesia sonora”, conta Debértolis, que apresentou aos jovens o poema Pulsar, de Augusto de Campos, e canção de mesmo nome de Caetano Veloso. “Assim, eles também tiveram a oportunidade de conhecer um pouco sobre a poesia brasileira, que era também o objetivo dessa troca multicultural proposta pela OEI.”

Alguns dos escritos dos estudantes aparecem no livro ao lado do poema “Floresta-Palavra”, assinado pela escritora. O texto acompanha a temática proposta pelo projeto, que era abordar a palavra como instrumento de comunicação e a língua portuguesa, no seu caso. E dialoga com temas próprios da obra de Debértolis, como a natureza e a relação entre meio ambiente e política, sobretudo a partir da pandemia da Covid-19.

As palavras da escritora transitam junto com a obra de outros poetas. No seu ponto de vista, essa polifonia é um aspecto relacionado à própria proposta do Ateliê Poético de trazer à tona muitas vozes, em duas línguas diversas, que se comunicam como culturas.

“Muitas vezes não temos esta oportunidade de interação, de comunhão mesmo com os artistas da América Latina, especialmente da América do Sul, de língua espanhola. Nesse sentido, o projeto foi importantíssimo”, afirma. “São formas diversas de pensar e fazer literatura e poesia, especificamente. Podemos ver isso também através dos resultados da produção das oficinas, isso possibilitou uma reflexão na prática sobre o fazer literário tanto em português quanto em espanhol.”

Karen Debértolis: “Muitas vezes não temos esta oportunidade de interação, de comunhão mesmo com os artistas da América Latina, especialmente da América do Sul, de língua espanhola"
Karen Debértolis: “Muitas vezes não temos esta oportunidade de interação, de comunhão mesmo com os artistas da América Latina, especialmente da América do Sul, de língua espanhola" | Foto: Fernanda Magalhães/ Divulgação

PARTICIPAÇÃO

Debértolis avalia a residência como de “extrema importância” para sua trajetória como escritora, já que pode entrar em contato com outros poetas - ainda que virtualmente - e, por consequência, com outras estéticas, linguagens e experimentações.

“E tudo isso permeado pelo multilinguismo, porque éramos 17 poetas de língua espanhola e portuguesa”, pontuando que o livro, da forma como foi estruturado, “traça um panorama do que foi a residência, aproximando mesmo o leitor de como foi a dinâmica e os resultados da proposta”.

TRABALHO

Com extensa obra publicada, Karen Debértolis ressalta que seu trabalho é caracterizado pela relação da literatura e outras linguagens, sobretudo as artes visuais e a música. Alguns de seus livros são Mapas Sutis (Editora Patuá, 2018), Prosa de palavras (Rubra Cartonera, 2012), A Estalagem das Almas (Travessa dos Editores, 2006), Guardados (Atrito Art, 2003) e Calidoscópio (edição de autora, 1995).

Para o futuro, ela adianta que está trabalhando em dois projetos de livros, sendo que um está em processo de finalização da escrita e o outro ainda está sendo escrito.

“Tenho trabalhado em parceria com outros poetas e escritores, como a rapper Lígia Braga, com quem produzi o videopoema ‘Folhas da Resistência’ a convite de Herbert Proença para seu projeto Pluricoisadas, e as participações no podcast de narrativas Sarau do Conto Surreal do ator e escritor Lucas Turino. Estou finalizando um audiopoema que será lançado em breve”, finaliza a escritora.

Acesse o link para ler o livro.