Periferia cria biblioteca virtual
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sexta-feira, 26 de julho de 2002
Francelino França<br> Reportagem Local
A comunidade da região sul de Londrina recebe hoje a Biblioteca Virtual Comunitária. A inauguração oficial acontece às 14h30, no Jardim Perobal (Rua Benedito Pedro Araújo), com a presença dos integrantes das entidades idealizadoras do projeto AMBJF (Associação de Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato) e Apeart (Associação Projeto do Assalariado Rural Temporário). Moradores da região, líderes comunitários e a representante da Fundação WK Kellogg, Laura Feuerwerker, prestigiam a inauguração. Trabalhadores das cidades de Alto Alegre e Colorado vêm conhecer o projeto.
O prédio da Biblioteca Virtual teve orçamento de R$ 200 mil, dos quais R$ 196 foram financiados pela Fundação Kellogg. Com o objetivo de valorizar o acesso e a produção de informação, a instituição contará com os seguintes suportes de comunicação: um site da Biblioteca (www.comunibib.org.br), o site da Apeart (www.apeart.org.br), o Projeto Vídeo Cidadão e o Jornal ''Fala, Zona Sul'' . Também será inaugurada a nova sede da Associação de Mulheres Batalhadoras, que funcionará no piso inferior do prédio.
A Biblioteca Virtual Comunitária atende a um conceito inédito no País, do ponto de vista de a comunidade construir seus canais de comunicação sedimentados na geração de idéias coletivas, como informou Fernando Franzoi, sociólogo, doutorando em demografia, assessor da Secretaria Nacional de Formação, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Por isso, será uma referência no Brasil pelo caráter inovador e por ser catalisadora de informações a serviço da comunidade. A Fundação Kellogg atua com perspectivas de ampliação do projeto. Futuramente, a instituição americana pretende instalar uma universidade comunitária voltada para alternativas geradas pela comunidade. A instituição pode diminuir o abismo cultural, cada vez mais presente diante da distribuição de renda desproporcional. Além disso, deve redimensionar o papel do cidadão ao dar visibilidade aos anseios dos moradores da periferia.
O Projeto Biblioteca Virtual Comunitária vai abranger os bairros Jardim Franciscato I e II, Piazentin, Perobal, Cristal, Santa Joana, Itapoã, Campos Elísios e Assentamento Nova Esperança. O projeto busca a articulação da Biblioteca com as demais organizações comunitárias da região. As duas vertentes que devem preponderar nos trabalhos é saúde e educação. A Biblioteca está localizada numa localidade em que os moradores são engajados politicamente. Depois da criação da Associação de Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato, existem na cidade 56 associações trabalhando propostas de políticas públicas.
Fernando Franzoi avalia que o projeto possui uma dimensão de pesquisa, produção e disseminação de conhecimento e, sobretudo, desenvolvimento comunitário, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida. Franzoi, juntamente com a líder comunitária Rosalina Batista e o professor Décio Tomazzi foram os idealizadores do projeto, em 1997, após discussão com a comunidade sobre o acesso e democratização de técnicas de informações.
A proposta chegou a ser refugada diante das urgências da comunidade que, muitas vezes, não tem os interesses mínimos assistidos. Mas houve uma reversão de opinião. Os moradores da zona sul já se apropriaram do local.
A líder comunitária Rosalina Batista está à frente do projeto desde o embrião. ''Hoje eu sinto o meu dever de cidadã cumprido. É muito importante poder acreditar num sonho e virar realidade''. Para ela, o fato de viver na periferia não descredencia os moradores em ter um serviço de primeira qualidade. Com o apoio da comunidade, a construção da edificação levou dois anos para a finalização.
''Temos condições e estrutura de atender 32 alunos por hora, com os 16 computadores. Precisamos buscar novas parcerias para manter os monitores trabalhando'', diz. Rosalina Batista pretende criar no local um centro de Documentação da Mulher do Norte do Paraná e implantar a Rádio da Mulher.
''Quem reclama que não consegue fazer algo na comunidade não faz porque não quer fazer. Dinheiro tem. É preciso ter vontade de chegar onde está o dinheiro e ter projetos'', aconselha. Além de fazer curso de alfabetização de adultos, Rosalina Batista pretende participar do curso de língua espanhola, pois a Biblioteca Virtual pretende se expandir internacionalmente.
A Apeart, responsável pelos cursos, apresenta um enfoque metodológico diferenciado, levando em conta o sujeito com que vai trabalhar. ''Procuramos salientar valores que as pessoas têm'', destaca Edmilson Feliciano Leite, presidente da Apeart. O próximo passo será o de traçar o perfil do público e fazer o levantamento das necessidades desse público.
