A partir do próximo mês, duas histórias vão se entrelaçar numa exposição que deve levar público de várias gerações ao MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. Cerca de 130 imagens mostrarão um pouco do trabalho do americano Bob Gruen, 75, o maior fotógrafo dedicado ao rock and roll. E, em todas elas, instantes de John Lennon durante a década em que morou nos Estados Unidos.

"John Lennon em Nova York por Bob Gruen" é a chance de mergulhar na amizade dos dois artistas, celebrada na hoje histórica foto de Lennon vestindo uma camiseta com a estampa New York City, registrada em 1974.

Eles se conheceram logo depois da chegada do ex-Beatle aos EUA, em 1971, e a imagem de Lennon com a camiseta é simbólica. Ele passou a primeira parte da década tentando legalizar sua permanência na cidade, dificultada por intransigência das autoridades americanas.

O cantor era monitorado pela CIA, que o considerava uma influência política perigosa, e levou cinco anos para obter sua permanência definitiva.

"Conheci John e Yoko numa coletiva dos dois para revistas. Eles gostaram das fotos que fiz e me chamaram para mais algumas. Nós morávamos muito próximos, então começamos a nos visitar e conversar", conta Gruen, que na época já era um fotógrafo destacado no meio musical.

Uma visita a seu site oficial oferece uma verdadeira história do rock naquele período, com fotos de Blondie, New York Dolls, Ramones, Led Zeppelin, Lou Reed, Patti Smith, Rolling Stones, Bruce Springsteen, The Clash, Sex Pistols, David Bowie, Elton John e muitos, muitos mais.

O que mais impressiona são os flagrantes íntimos dos artistas. Um exemplo estará na exposição, a imagem de John e Yoko sentados com Mick Jagger ao piano, rindo muito. "Se você é amigo de alguém, vai acabar passando mais tempo com essa pessoa. Então acaba tendo mais oportunidades de tirar fotos interessantes."

Sua proximidade permitiu que ele tivesse uma visão particular do casal. "Uma surpresa para mim foi descobrir que Yoko tinha muito senso de humor. John era muito engraçado, mas isso já era sabido desde os tempos dos Beatles. Os dois faziam muita piada, o tempo todo, estar com eles era ficar rindo sem parar", relata.

"Me impressionava como eles se preocupavam em ter uma alimentação saudável. Acompanhei Yoko incentivando John a seguir uma dieta macrobiótica. Ele não chegou a ser tão vegetariano como muita gente pensa, mas comia uma dieta bem saudável."

Entre as fotos da exposição estão algumas da última sessão que fez com eles, na noite de 5 de dezembro de 1980, avançando pela madrugada do dia seguinte. Dois dias depois, na segunda-feira, dia 8, Lennon foi assassinado a tiros na frente do prédio onde morava.

"Tinha encontrado John e Yoko na sexta. Naquela segunda, estava tratando essas fotos, em meu quarto escuro, e um amigo me telefonou avisando que a morte de John estava nos noticiários. Foi a pior notícia que já recebi. Não havia nada a ser feito para reparar essa enorme perda."

Ele cita outro herói roqueiro como grande amigo: Joe Strummer, líder do Clash, morto em 2002, de infarto. "Tive uma relação muito forte com Joe. Nossa amizade perdurou depois do fim do Clash. Durante os anos 1980 e 1990, toda vez que ele viajava para Nova York, dormia na minha sala. Ele chegava pela manhã, depois de passar a noite bebendo, e dormia o dia inteiro."

Outro amigo muito próximo é David Johansen, vocalista do New York Dolls, banda que foi grande influência no surgimento do punk rock. Acompanhando o grupo desde o início, Gruen dirigiu um ótimo documentário, "All Dolled Up: A New York Dolls Story". E ele poderia fazer mais projetos do tipo.

"Tenho muitas coisas, dúzias e dúzias de filmes e fotos de outras bandas. O problema é que custa muito caro para tratar esse material e passar tudo para outros formatos."

Gruen não continua tão ávido para ir a shows. "Perdi o entusiasmo que tinha quando era jovem, saio menos para encontrar pessoas e ver novas bandas. Prefiro ir ver amigos que ainda estão tocando, como Debbie Harry e Iggy Pop."

Gruen parece não se incomodar com milhões de pessoas postando nas redes fotos de shows feitas com celulares. "Muita gente chama isso de banalização, mas uma grande foto continua sendo uma grande foto, algo que você não consegue toda hora. Acho bom que hoje as fotos tenham um papel tão importante assim na vida das pessoas."

A mostra tem curadoria do jornalista Ricardo Alexandre e mostrará em uma de suas áreas uma seleção inédita de 30 fotos vintage, com ampliações originais do próprio Gruen.

"Queremos que a exposição ganhe uma dimensão mais degustável, que as pessoas saiam do MIS levando um pedacinho dela", diz o diretor cultural do museu, Cleber Papa. "Estamos lançando selos de John Lennon com os Correios, que as pessoas vão poder colecionar. Preparamos também peças que o público pode comprar, além de um catálogo maravilhoso. E teremos atividades durante a mostra."

Gruen estará na abertura da exposição e espera encontrar ali o único roqueiro brasileiro presente nas fotos de seu acervo: Supla. Gruen já teve duas exposições em São Paulo, uma na FAAP, em 2007, e outra na Oca, no Ibirapuera, em 2012. A primeira teve curadoria de Supla.

"Sou muito amigo do Supla. Ele fez uma grande versão de 'Imagine'. É meu maior amigo no Brasil, e gosto muito dos pais dele. Pensando na minha idade, eu estaria mais próximo do senador Suplicy do que do Supla", diz Gruen, rindo.

"Eu gosto de São Paulo, a cidade tem ótimos lugares para tomar café, com sanduíches fantásticos. Quero voltar a alguns e conhecer novos."

JOHN LENNON EM NOVA YORK, POR BOB GRUEN

QUANDO De 13/3 a 7/6

ONDE no MIS - av. Europa, 158, São Paulo, tel. (11) 2117-4777

QUANTO R$ 20 (entrada gratuita às terças); venda antecipada no site sympla.com.br