São Paulo - Basta o Carnaval ficar para trás que os ovos de chocolate começam a pipocar nos supermercados brasileiros. As guloseimas são o primeiro sinal de que a Páscoa está chegando, trazendo junto outras tradições típicas da data, como a bacalhoada e a colomba pascal. Mas isso aqui no Brasil. Em outros países mundo afora, as comemorações da Páscoa podem ser bem diferentes da nossa.

Boa parte dessas diferenças se explica pelas estações do ano. No hemisfério norte, a Páscoa coincide com o fim do inverno e o começo da primavera, uma época que já era celebrada muito antes de Cristo. Com o tempo e a expansão do catolicismo, as celebrações foram se tornando uma festa só.

Os séculos se passaram, mas os ovos talvez sejam a única unanimidade das Páscoas ao redor do mundo. Eles são uma tradição tão antiga e tão difundida que é impossível saber, ao certo, como surgiram. Os relatos mais antigos dão conta de que, antes mesmo de Cristo, as populações nativas do Hemisfério Norte costumavam trocar ovos no equinócio da primavera para comemorar o fim da temporada de frio. E por que ovos? Porque eles simbolizam a vida e o renascimento. Um presente ideal para celebrar a chegada da primavera.

Mas foi só no século 18 que os ovos de Páscoa de clara e gema deram lugar ao chocolate, graças à inventividade dos confeiteiros franceses. Como era de se esperar, muita gente gostou da ideia, que acabou se espalhando rapidamente pelo mundo. Mas vale destacar: tal qual a jabuticada, o ovo de Páscoa de colher é uma iguaria 100% brasileira.

Tal e qual a jabuticaba, o ovo de colher é uma iguaria tipicamente brasileira
Tal e qual a jabuticaba, o ovo de colher é uma iguaria tipicamente brasileira | Foto: Getty Images/ iStock

E como é que o coelho, que nem bota ovos, entra nessa história? Também é difícil precisar. Mas dada a sua fama de reprodutor (as coelhas conseguem dar à luz até 50 filhotes por ano) e o fato de que ele é o primeiro animal a sair da toca quando o inverno acaba, a gente consegue entender porque o coelho se tornou um dos principais símbolos da festa cristã que celebra, justamente, o renascimento.

Na Suécia e na Finlândia, a Páscoa lembra muito o nosso Dia das Bruxas - por mais estranho que isso possa parecer. As crianças se fantasiam de bruxas e saem de casa em casa oferecendo galhos de salgueiro (um símbolo de proteção) em troca de doces. É que, no passado por lá, a celebração do equinócio da primavera sempre homenageou Ostara, a deusa da fertilidade e do renascimento na mitologia nórdica, na qual a figura das bruxas é muito presente.

Na Alemanha, comemora-se a data enfeitando os galhos secos das árvores com cascas de ovos coloridas, em reverência à primavera que vem chegando - é a Osterbaum, ou Árvore de Páscoa. Outra diferença da comemoração alemã é que, por lá, a Páscoa se estende por mais um dia, até a segunda-feira, que ainda é feriado. Inglaterra, Canadá, França, Reino Unido e mais de uma centena de países também contam com esse dia a mais de festa.

Acostumados a quebrar pratos, os gregos da ilha de Corfu têm uma tradição semelhante na Páscoa. No sábado pela manhã, eles saem às suas varandas com grandes vasos de barro cheios de água e os arremessam na rua - o que atrai milhares de turistas todos os anos. Mais uma vez, o que inspira o ritual é o espírito de renovação e renascimento da Páscoa.

Na Hungria e em alguns outros países do leste europeu, uma tradição muito comum é a rega húngara, um ritual associado à fertilidade em que os homens literalmente regam as mulheres com baldes de água perfumada. Em troca, os rapazes recebem das moças ovos de galinha cuidadosamente pintados com diferentes desenhos e cores.

A exceção, no caso do coelho, são os países da Oceania. É que na Austrália e na Nova Zelândia, o animal, nativo da Europa é considerado uma praga para o ecossistema local. Por isso, por lá, o animal que traz os ovos de Páscoa é o Bilby, um marsupial nativo, da família dos cangurus, ameaçado de extinção.