Para pintar o sete
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 20 de fevereiro de 1997
Érika Pelegrino
Warren NabucoCláudia Rezende e Sandra Egashira, com alunos do ateliê: estímulo à criatividadeQuem disse que criança não deve fazer arte? A psicóloga Sandra Egashira e a artista plástica Claudia Rezende valorizam tanto a arte de crianças e adolescentes que criaram um espaço específico para elas pintarem o sete. Há um ano, turmas na faixa etária de 7 a 14 anos pintam e bordam no Espaço de Arte do Ateliê Claudia Rezende.
A proposta é fazer um trabalho que integre psicologia e arte, voltado para crianças e adolescentes. A idéia surgiu depois de inúmeras conversas em que as duas profissionais perceberam que arte e psicologia andam juntas. O trabalho artístico possibilita alterar o emocional - diz Claudia. A criança ainda se expressa pouco verbalmente. Ela se comunica de forma mais lúdica, e a arte oferece este instrumento- complementa Sandra.
Enquanto Claudia trabalha o lado artístico da criança e do adolescente, Sandra analisa os sentimentos, avaliando como o aluno está elaborando o seu lado emocional através da arte. As profissionais explicam que não existe a intenção obrigatória de querer transformar os alunos em artistas.
O trabalho é voltado para ajudar o aluno a trabalhar o eu emocional de forma mais livre. O mundo de hoje é muito competitivo. E o objetivo do Espaço de Arte é criar um ambiente rico para a criança desenvolver o seu potencial- explica Sandra. Ela vai exercitar sua capacidade de se relacionar com os outros, resolver questões, encontrar soluções- arremata.
Construindo engrenagem Pintando, desenhando e encenando, a psicóloga e a artista plástica acreditam que a criança e o adolescente estarão desenvolvendo qualidades básicas para se obter sucesso no mundo de hoje - criatividade, iniciativa, poder de concentração, relacionamento com o meio e com as pessoas.
O trabalho, segundo as profissionais, tem caráter preventivo e não terapêutico. Embora muitos pais tenham a expectativa de criar um artista, segundo elas, o objetivo é fazer o aluno vivenciar o processo de desenvolvimento interior e exterior.
A arte possibilita à criança defrontar-se constantemente com problemas e colocar o lado emotivo no processo, explica Claudia. Uma questão importante que as duas profissionais trabalham durante o curso é uma espécie de revisão do que é pré-estabelecido. Conceitos dualistas como certo e errado, bonito e feio, não existem em arte.
Claudia explica que a arte não coloca em xeque a questão do que é certo. Segundo ela, em arte não há uma solução padrão e única. E é justamente aí que a criança se vê mais livre para criar e se expressar. A criança vai perceber que existem soluções diferentes para a mesma proposta e que a solução dela, independente de qual for, será valorizada- afirma Claudia. O ingrediente para a conquista da sua solução é muito pessoal. Em cada situação a sua contribuição é muito importante- completa.
Brincando, adolescentes e crianças lidam em cada trabalho com questões operacionais. Constantemente o aluno está construindo engrenagens e tem que lidar com seus medos- explica Claudia. No início do curso, as profissionais percebem que a maioria dos alunos está habituada a receber tudo mastigado.
Elas chegam esperando algo pronto, mas logo começam a se soltar. Passam a entender as qualidades do outro. Cada trabalho tem um significado, mesmo aquele que é copiado; no caso representa o conformismo da criança- diz.
O curso não tem um período determinado já que os objetivos vão se modificando de acordo com o desenvolvimento das crianças. O tema de cada aula é definido pelo interesse das crianças. Já aconteceu muitas vezes de termos que mudar a aula planejada, porque as crianças estavam empolgadas com outro tema, diz Sandra.
Os trabalhos giram em torno de pinturas, desenhos, construções com sucatas, expressão corporal, teatro. E a criança participa de todas as etapas, desde a elaboração da história até a confecção das marionetes, cenário, sonoplastia. Mais informações pelo telefone (043) 323-2554.