Para lembrar Orson Welles
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terça-feira, 11 de setembro de 2001
Correria, medo, pânico, desespero. Há 63 anos, exatamente em 30 de outubro de 1938, milhares de nova-iorquinos que ouviram rádio a partir de 21 horas e 30 minutos daquela noite não puderam dormir. Pegaram às pressas alguns pertences e saíram de casa, à pé ou de carro, sem destino certo. O que importava era fugir o mais rápido possível, fugir de uma invasão de alienígenas, marcianos mais precisamente, anunciada por dramáticos boletins radiofônicos. A histeria da massa em fuga se alastra por todo o país. É o caos nas rodovias e no trânsito urbano. Em Nova York e New Jersey a calamidade parece maior. Cerca de 1.500 pessoas são dadas como mortas por uma espécie de cilindro metálico saído de um meteoro tripulado por estranhas criaturas disparando com ''raios verdes''. Polícia, bombeiros, defesa civil, nada parece adiantar para conter a multidão ensandecida pela ameaça iminente ou estimular a resistência da população ao terror que vem do céu. Ninguém parece seguro. A crença na invasão marciana é absoluta.
O que ninguém àquela altura sabia era a real natureza da emissão radiofônica. Sem nenhum alarde, sob absoluto sigilo, um jovem artista, Orson Welles, ao vivo ao microfone, dramatizou um roteiro escrito por um companheiro, Howard Koch. O argumento: ''A Guerra dos Mundos'', de H. G. Wells, um dos mais celebrados romances da ficção científica. A descrição dos incidentes narrados no livro foi feita com tal veracidade que durante muitos anos a crônica se referia a respeito como um fato artístico de rara criatividade, mas também um fato sociológico que marcaria o comportamento de boa parte da população americana.
Ontem, 11 de setembro de 2001, cerca de 9 horas e 30 minutos da manhã. A partir desse momento, atônita com o terror que vem do céu, a população de Nova York começa a invadir as ruas, meio tonta, meio sem rumo, duvidando do que acaba de ver ou saber. Aqui não há nada de ficção que possa ser desmentido, ninguém vai restabelecer a verdade sobre um acontecimento falso. A polícia, os bombeiros, a defesa civil, todos se solidarizam. O prefeito da cidade, em pessoa, pede para os habitantes saírem de suas casas e procurarem lugar mais seguro. Pelo menos enquanto ainda durar a incerteza que pode trazer mais terror do céu. Ninguém parece seguro. A crença na invasão terrorista é absoluta. E real, muito real.(C.E.L.J.)