Carlos Haag
Agência Estado
O milagre fica por conta deles: conseguir fazer uma Moonlight Serenade (Serenata ao Luar) em plenas 11 horas deste domingo, na Praça da Paz do Ibirapuera, em São Paulo. Mas o santo é forte. Nada menos do que a Glenn Miller Orchestra, sucessora da mais famosa das big bands, volta ao Brasil para essa apresentação única e gratuita, ao ar livre, regida pelo maestro Dick Lowenthal. O evento inaugura o projeto cultural Walita ao Vivo e reúne a parceria entre a empresa e a Secretaria Municipal de Cultura. Prepare os pés para dançar, porque a sua patroa não vai deixá-lo sossegado, enquanto você não exibir o suingue armazenado em todos estes anos.
O programa é para matar saudades de todos os que já colaram rostos e apertaram mãos ao som de A String of Pearls, com uma seleção deliciosa dos maiores sucessos dos anos 30 e 40, mantidos os fantásticos arranjos feitos por Miller: American Patrol, In the Mood, Ive Got a Gal in Kalamazoo, Pennsylvania 6-5000, Tangerine, St. Louis Blues, Rhapsody in Blue, Chattanooga Choo-Choo e muitas outras que, caso não conheça de nome, esteja certo de que seus ouvidos conhecem muito bem. A banda mantém a formação original idealizada por Miller: cinco saxofones, quatro clarinetas, quatro trombones, piano, baixo, bateria e dois vocalistas. No caso, Coleen Miller (com o grupo desde 1981 e uma veterana de apresentações com as orquestras de Nelson Riddle e Jimmy Dorsey) e Gary Martin.
O som? Nem precisa perguntar: é o célebre Miller Sound. Ao menos é preciso louvar as tentativas do grupo em mantê-lo vivo desde 1956, quando a viúva do trombonista, Helen, aceitou o pedido dos músicos de seu marido para que continuassem a tocar. Desde que seguissem, estritamente, as suas diretrizes, inflexíveis e ditatoriais, mas que fizeram época com a sua sonoridade aveludada e nunca piegas (não confunda com o lixo que anda por aí, tentando imitar, sem sucesso e com muito ‘‘açúcar’’ kitsch por cima, em bailes de debutantes, a sofisticação da música de Miller) .
A Glenn Miller Orchestra visitou o Brasil, pela primeira vez, em 1979, em plena febre das discotecas e, desastrosamente, o maestro de então achou por bem homenagear o modismo interpretando Miller em ritmo disco. Foi, é claro, um horror, um erro que o conjunto não repetiu em 1987, quando voltaram a se apresentar em São Paulo. Fique tranquilo, eles não farão Chattanooga ao ritmo do tchã, desta vez, pois os tempos são outros: os anos 40, de verdade. Isso, apesar da pouca idade de seus integrantes, em geral na faixa dos 30 anos, o que, aliás, permite que cumpram a agenda de mais de 300 apresentações anuais. Um museu, sim. Mas bem vivo.