Valdenir Paz prepara a transformação para viver Papai Noel
Valdenir Paz prepara a transformação para viver Papai Noel | Foto: Walkiria Vieira/Grupo Folha

Fazer uma surpresa para três crianças. Foi assim que o técnico em enfermagem aposentado Valdenir Paz, 56 anos, começou a sua trajetória de Papai Noel - e não parou mais. O ano era 1984 e o desejo de uma vizinha, de realizar o sonho dos sobrinhos, foi o ponto de partida. Paz recorda-se como se fosse hoje a emoção dos pequenos ao avistarem as bicicletas e o Papai Noel na carroceria da caminhonete. "Estavam montadinhas e saíram pedalando", recorda-se. De lá para cá, os pedidos só se multiplicaram e o "Bom Velhinho" tem cumprido o seu papel como manda a tradição. Conheça um pouco mais do Papai Noel mais antigo de Londrina.

A barba natural, a pele rosada e os olhos claros ajudam na caracterização: parte da rotina
A barba natural, a pele rosada e os olhos claros ajudam na caracterização: parte da rotina | Foto: Walkiria Vieira/Grupo Folha

Natural de Maringá, o menino de família humilde não traz de sua própria infância a lembrança do Papai Noel. Aos sete anos, já vendia sorvete e enchia pequenos sacos de terra para preparar as mudas de café. Também vendia velas na porta do cemitério e aos 14 anos conquistou registro em firma: aprendiz de artefatos de molas. Paz serviu o exército e teve diversas experiências profissionais até prestar concurso, quando ingressou como auxiliar de enfermagem e fazia dupla jornada: ora estava na praça do pedágio de Cambará, ora no Hospital Dr. Anisio Figueiredo / Hospital Zona Norte. Há 10 anos, além de ser Papai Noel, trabalha ao lado do filho, Michel, de 32 anos, com eventos. "Ele é o Bola, eu sou o Bolinha. Visto fantasia de Coelho da Páscoa, Mickey e animamos festas infantis".

Mas o Papai Noel é especial. Passou a influenciar a rotina do enfermeiro não apenas nesse período. "Depois do Natal, eu tiro a barba no dia 26 de dezembro e deixo crescer a partir de maio. É um cuidado especial". A barba natural, a pele rosada e os olhos claros convencem. O clássico "ho, ho, ho" integra a cena e até 1988 o trabalho era todo voluntário. "Com o aumento dos pedidos, precisei me organizar, ter uma agenda, investir mais tempo e a me aperfeiçoar." Os suspensórios, o colete, a bota lustrada e um casaco vermelho tão quentinho quanto requintado fazem presença. Quando toca o sino e anuncia a sua chegada, a atenção é só dele.

A pureza dos pedidos de Natal

Grande ouvinte, Papai Noel também encanta os adultos. "Faço o Papai Noel do Royal Plaza Shopping há 10 anos, mas sou convidado a entregar presentes em festas de fim de ano de empresas." Todo o trabalho operacional feito em parceria com a empresa em questão tornam o evento corporativo também cheio de emoções. A música, os elementos cênicos e o clima de harmonia tem seu ponto culminante com a figura que chega para quem foi bom o ano inteiro. "É muito bonito de ver e mantenho o trabalho voluntário".

Longe de ser uma atividade feita de modo automático, o Papai Noel profissional sabe da importância do momento para cada pessoa. "Existe muita expectativa e não só das crianças. Os pais trazem a cartinha, querem ver a reação da criança no encontro e o registro é praticamente obrigatório, todos querem fazer uma foto e eternizar o momento ano a ano e recordar a época em que a poltrona do Papai Noel parecia gigante - e os pezinhos nem tocavam o chão. Na fila, à espera do Papai Noel, Amanda Alves, 25 anos e Jean Marinho, 40, pais de Kauan Marinho, 4 anos, preservam as tradições natalinas. "Faz bem para ele, é uma coisa de criança e prestigiamos".

Feito confissão, o pedido algumas vezes deixa o Papai Noel com a voz embargada. "Um dos mais marcantes foi de uma menina de sete anos, pediu que eu trouxesse a mãe que falecera", emociona-se. O carrinho, a boneca, o videogame ganham variáveis inesperadas, por vezes desconsertantes. "No hospital, a menina entregou a cartinha. Pedia um chinelo para a avó. Para ela, uma cesta básica." A pureza dos pedidos também revigora o Papai Noel e refaz suas esperanças. Chegou a mim uma criança que me deu um presente, estava preocupada que eu só entregava, entregava e não recebia nada".