De onça em onça, o Pantanal surge nas novelas da TV. Um deslumbre ontem e hoje aos olhos de muitos brasileiros que veem na telinha uma das regiões mais importantes do País sob o ponto de vista ambiental, que merece todos os cuidados que às vezes não tem, mas renasce mesmo depois do descaso, dos incêndios e das cinzas.

Gravada no Pantanal sul-matogrossense a trama agora é reapresentada na Globo, depois de estrear em 1990 na TV Manchete escrita por Benedito Ruy Barbosa, e agora adaptada por seu neto Bruno Luperi.

E aqui estão de novo milhares de telespectadores olhando aquelas paisagens a se perder de vista, de alagados, rios e ninhais de pássaros que lembram cenários de sonhos.

Um dos destaques da novela é a "mulher que vira onça", ou melhor, "mulheres que viram onças", na pele de Maria Marruá (agora interpretada por Juliana Paes) e Juma (Alanis Guillen). De mãe para filha, o dom de se transformar num animal quando são desafiadas ou agredidas é um dos encantamentos da novela que traz as lendas do Pantanal profundo, nos conduzindo do sofá às rodas de fogueira dos pantaneiros.

O Brasil dos sertões tem lendas imperdíveis, lembro-me da história que ouvi no Mato Grosso sobre uma mina de ouro onde os trabalhadores ouviam vozes, como se uma civilização desconhecida vivesse do outro lado das paredes cavadas a quilômetros da superfície. Vozes que espantaram a todos até a mina ser fechada. Ouvir esta história me causou um assombro tão grande quanto ver e saber que nas pedras de uma bancada de bar num hotel-fazenda havia vestígios de ouro, filamentos entre as pedras colhidas ali mesmo na região.

.
. | Foto: Marco Jacobsen

Mas uma das estrelas da novela "Pantanal" não é gente, é onça de verdade. Uma onça-pintada que aparece como Maria Marruá vagando depois de morte e que também entra na pele da filha Juma. A onça-pintada escalada para o elenco, na verdade é Matí, que está sob a responsabilidade do Instituto Nex, organização respeitada que trabalha para a preservação de onças em cativeiro no Pantanal.

Matí é minha velha conhecida. Como? É que acompanho nas redes sociais as atividades do IOP - Instituto Onça-Pintada - coordenado pelo biólogo Leandro Silveira, onde Matí foi acolhida primeiro, depois de ser encontrada sem mãe numa rodovia. No Instituto Onça-Pintada, Matí foi criada até os dois anos, antes de ser transferida ao Instituto Nex por meio de um programa de intercâmbio genético mantido entre as instituições que procuram salvar e perpetuar a espécie no País, onde a caça tem sido estimulada por políticas absurdas.

A salvo da crueldade, hoje Matí está no elenco da novela depois de serem cumpridas todas as exigências legais junto ao Ibama e centros de pesquisa responsáveis por esses animais. Quando terminar a novela, ela voltará para a companhia de outras onças como Marruá, Ferinha, Oxossi e Amanaci no Instituto Nex.

A ideia é que, de onça em onça, as novelas ou qualquer meio de comunicação sirvam para ajudar a conscientizar brasileiros de que a natureza não deve ser tratada de maneira bruta, com armas ou incêndios. Esses animais e seu habitat representam a vida num dos países mais agraciados pela natureza. Isso não é pouco e, por todos os meios, precisa ser preservado.

...

A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

...

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link