"OVO": livro sobre a finitude das coisas tem lançamento em Londrina
O escritor e jornalista Renato Forin Jr. lança obra dramatúrgica, encenada em vários festivais do País, neste sábado (24), no Sesc Cadeião
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
O escritor e jornalista Renato Forin Jr. lança obra dramatúrgica, encenada em vários festivais do País, neste sábado (24), no Sesc Cadeião
Marcos Losnak/ Especial para a Folha
Em seu novo livro, “OVO”, o dramaturgo londrinense Renato Forin Jr. narra o encontro de dois irmãos, Édipo e Electra, após um longo distanciamento. Um encontro que acontece após a notícia do falecimento da mãe. Um encontro que remete a dois clássicos personagens do teatro grego. Dois irmãos revirando as dobras do passado na sede de compreender a vida.
A obra foi vencedora do Prêmio Literário FCP, promovido pela Fundação Cultural do Estado do Pará, na categoria Dramaturgia. O lançamento em Londrina acontece neste sábado (24), às 16 horas no Sesc Cadeião Cultural, em Londrina, com leitura dramática de fragmentos do livro e fala de Forin sobre os aspectos da dramaturgia contemporânea.
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Utilizando referências do teatro grego, elementos do teatro contemporâneo e da psicanálise, a dramaturgia de “OVO” toca em várias camadas do sentimento de perda, da sensação de finitude, da percepção da efemeridade e da fragilidade dos afetos. Em breve a obra será publicada na França através do projeto “Nova Dramaturgia Francesa e Brasileira”.
Autor de várias peças teatrais, Renato Forin Jr. foi contemplado com o Prêmio Jabuti de 2017 e o Prêmio Outras Palavras de 2020 pela dramaturgia de “Samba de Uma Noite de Verão”, livro publicado em 2016 pela editora Kan.
A seguir, Forin fala sobre o livro e como a peça representa uma forma de “encarar a viagem-vertigem da vida”.
Em “OVO” você coloca, vivendo nos dias atuais, a figura de dois irmãos inspirados em dois mitológicos personagens do antigo teatro grego: Édipo e Electra. Qual sua intenção em aproximar esses dois personagens?
A maioria dos mitos clássicos ligam-se por relações intrincadas, dentro de uma mesma árvore genealógica ou sociedade. Por isso, a crítica costuma dividir o arcabouço mítico grego em ciclos, como o troiano, o tebano, o dos argonautas. O que sempre me impressionou, entretanto, é que mesmo pertencentes a ciclos distintos, certos personagens carregam dilemas e traços de personalidade muito parecidos. É o caso de Édipo e Electra, que aparentemente não possuem nenhum entrecruzamento ficcional, já que ele é do ciclo tebano e ela do troiano. Contudo, eles se assemelham na desmedida, em sua sanha apaixonada de lutar contra o destino: ela aficionada pelo pai, odiando a mãe; ele, em diametral oposição. As figuras parentais de ambos também acabam portando traços arquetípicos semelhantes. Meu jogo fabular em “OVO” foi interligá-los em laços consanguíneos, como irmãos. E, ao mesmo tempo, fazer pensar nas diferenças: em como Édipo é um joguete do destino, enquanto Electra faz o destino com as próprias mãos. Evidentemente, não é inocente a interpretação psicanalítica que nasce de tais relações familiares.
“OVO” traz o embate entre dois irmãos que envolve a morte do pai e da mãe, uma história sobre a angústia da perda. Mas também, como você afirma, uma história sobre a finitude e a efemeridade. O que você acha que perda, finitude e efemeridade podem nos ensinar?
A obra trata, em camadas subjacentes, de questões míticas e ontológicas que parecem complexas. Entretanto, o tema essencial desta dramaturgia é muito simples, na medida em que faz parte do nosso cotidiano inapelável: a passagem das pessoas e das coisas, o desaparecimento de quem se ama e a fragilidade de tudo diante de circunstâncias intransigentes como o tempo. A morte, afinal, é a grande ferida trágica e a consciência dela nos coloca em permanente desamparo. O que os gregos descobriram e filósofos como Nietzsche aprofundaram é que, se a vida é caos e transformação, não há nada mais a ser feito senão abraçar de forma afirmativa esta condição, o “amor fati” – e a arte é um bom modo de fazê-lo. Iluminar, portanto, a nossa condição efêmera, em obras como esta, é uma forma de criar anticorpos de coragem para encarar a viagem-vertigem da vida. De um ponto de vista subjetivo, posso dizer que a escrita de “OVO”, em um momento de perda familiar, me fez ressignificar as passagens. Ao partilhar esta experiência com leitores, espero que o efeito seja parecido. Pois, se a dor nos irmana numa estranha fraternidade, a arte é o lenitivo que faz com que nos reconheçamos, como escrevo no texto de apresentação.
Em momentos pontuais da dramaturgia de “OVO” os atores se desnudam dos personagens ficcionais para se revelaram como pessoas reais de carne e osso. Por que você optou em desnudar a ilusão do espetáculo?
Desde o prólogo, “OVO” tece um diálogo franco com o público e com o leitor, sem afetações ficcionais. A primeira fala do personagem Édipo é: “Vocês perguntam como a gente começa. E eu pergunto: como a gente começa uma peça que fala sobre o fim?”. Essa é uma metáfora para todas as perguntas trágicas – sem respostas – que virão. A fábula aparece aos poucos e desaparece em vários momentos porque todas as questões centrais que estão ali são propriamente humanas. Busco, claro, efeitos estéticos para trabalhar a sutileza na transição de vozes dessa polifonia. Assim, ora são os atores, ora os personagens adultos, ora crianças, ora laivos de pensamento e ora narradores que costuram a poesia do texto. E, no fundo, são um só: o impersonagem humano. Além disso, o século 20 provou que a ilusão irrestrita nem sempre é o lugar mais confortável para os propósitos de uma arte como o teatro, cuja matéria-prima é, essencialmente, o real.
Em breve “OVO” será publicado na França dentro de um projeto de intercâmbio entre dramaturgia brasileira e dramaturgia francesa. Como isso aconteceu?
A encenação do espetáculo nos deu muitos presentes e proporcionou encontros. Foram mais de 30 apresentações em Londrina e em festivais internacionais, como Cena Contemporânea (Brasília), Filte (Bahia), Porto Alegre em Cena, dentre outros. Em meio à turnê, surgiu este convite para que eu integrasse o rol de autores brasileiros do projeto “Nova Dramaturgia Francesa e Brasileira”, promovido pelo Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil, La Comédie de Saint-Étienne, Instituto Francês e Embaixada da França no Brasil. Por ele, tive o prazer de traduzir “Homens Que Caem”, da francesa Marion Aubert, convidada da última Flip. Aubert, por sua vez, coordenou a tradução de “OVO” na França. A obra seria lançada em 2020, mas os planos foram interrompidos pela pandemia. O lançamento em quatro cidades daquele país acontecerá tão logo se firmem novamente os acordos logísticos.
SERVIÇO:
“OVO”
Autor – Renato Forin Jr.
Prefácio – Fernanda Borges
Posfácio – Sonia Pascolati
Editora – Fundação Cultural do Estado do Pará
Páginas – 100
Quanto – R$ 30 (no lançamento preço promocional R$ 25)
Lançamento:
Quando – Sábado (24), às 16h
Onde – Sesc Cadeião Cultural (Rua Sergipe, 52, Londrina)
Quanto – Entrada gratuita