SÃO PAULO, SP - Foi sem grandes surpresas que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood consagrou "Oppenheimer" na noite de domingo (10), no Dolby Theatre, em Los Angeles. Além do Oscar de melhor filme, o longa de Christopher Nolan levou outras seis estatuetas.

É uma concentração significativa, mas parcialmente estragada pela farra de "Pobres Criaturas" na ala técnica, em que levou direção de arte, figurino e cabelo e maquiagem, nas quais o drama sobre a bomba atômica também concorria.

O filme de Yorgos Lanthimos também garantiu o grande momento inesperado da noite, laureando Emma Stone em melhor atriz, em vez de Lily Gladstone, que parecia a favorita por "Assassinos da Lua das Flores", indicação com a qual fez história e se tornou a primeira atriz indígena americana na lista do Oscar.

"Oppenheimer" ainda levou os prêmios de direção, trilha sonora, montagem, fotografia, ator, para Cillian Murphy, e ator coadjuvante, para Robert Downey Jr. É uma vitória de peso, que vinha se consolidando há meses e faz o filme lembrar a potência da arma que retrata, isso depois de se firmar também como a terceira maior bilheteria do ano passado.

Por isso, não fosse a perspicácia da cerimônia, a festa deste ano cairia facilmente no marasmo. Para que ver se já sabemos há tempos que a biografia do físico Robert Oppenheimer levaria tudo? A Academia driblou o problema com mudanças na transmissão deste ano e ainda recebeu ajuda de uma bela porção de convidados que decidiram hiperpolitizar o show.

Também a seu favor, numa tentativa de voltar a ser um evento pop da televisão, após anos em queda livre de audiência, havia também o fato de dois dos filmes mais populares deste ciclo, "Barbie" e "Oppenheimer", estarem entre os mais indicados. Os produtores, porém, foram além.

Convocaram o popular Jimmy Kimmel para apresentar a cerimônia pela quarta vez e indicou canções originais que atraíram aos palcos estrelas pop, como Becky G e Billie Eilish, que aos 22 se firmou como a pessoa mais jovem a vencer duas estatuetas, por "What Was I Made For?", de "Barbie".

A breguice inerente a essas performances continuou, mas Ryan Gosling, pelo mesmo filme, mudou o que conhecemos como apresentações musicais no Oscar, com uma performance enérgica, cheia de sex appeal e divertidíssima.

Sem abandonar a pose de calhorda bonachão de seu personagem, fez de "I'm Just Ken" o auge da festa, pondo todos no auditório de pé para cantar em meio aos seus clones e a Slash e Wolfgang Van Halen.

TRANSMISSÕES ATRASADAS

Jogou contra as tentativas de restabelecer a audiência, no entanto, o atraso e as pausas comerciais longuíssimas da transmissão, que no Brasil, pela TNT e pela Max, ainda teve como problema a falta de sincronicidade com o que acontecia nos Estados Unidos.

Ana Furtado, apresentadora da noite e mais uma vez sem comentários muito pertinentes, admitiu que havia problemas técnicos que fizeram os brasileiros perder, por completo ou em partes, as categorias de curta e longa de animação.

De volta aos Estados Unidos, a Academia buscou ainda inspiração em edições bem sucedidas do passado, como a que aconteceu há 15 anos.

Em 2009, antigos vitoriosos apresentaram, em conjunto, os indicados nas categorias de atuação, o que se repetiu agora, aumentando a carga de emoção. Emma Stone, visivelmente chocada, mal sabia o que dizer quando foi ao palco.

"Assassinos da Lua das Flores", em especial com Lily Glastone na dianteira, parecia uma aposta certeira quando a corrida começou, nesta primeira edição do prêmio sob um novo conjunto de regras que visa aumentar a diversidade. Com seu mea-culpa sobre o massacre de indígenas, parecia alinhado com os novos ventos que sopram sobre Hollywood.

Por mais que este tenha sido um Oscar mais pop, porém, foi também um que reforçou sutilmente o status quo, com uma biografia classuda, dominada por homens brancos como "Oppenheimer", premiada.

Na seção de coadjuvantes, por sua vez, Da’Vine Joy Randolph confirmou o favoritismo por "Os Rejeitados". Roteiro original, também, não fugiu do esperado. O casal francês Justine Triet e Arthur Harari voltam para seu país com duas estatuetas na bagagem, pela parceria na escrita de "Anatomia de uma Queda". Em roteiro adaptado, "Ficção Americana" teve sua única vitória.

O prêmio internacional foi para "Zona de Interesse", numa primeira vitória do Reino Unido na categoria —o inglês desqualifica obras para ela, mas o vitorioso é falado em alemão. O discurso de agradecimento foi o momento mais forte da noite, com seus produtores pedindo um fim ao conflito na Faixa de Gaza.

Menções ao conflito entre israelenses e palestinos também apareceram em broches com um símbolo que pedia cessar-fogo, abotoados a peças vestidas por Ramy Youssef e Billie Eilish, entre outros.

Já a Guerra da Ucrânia se refletiu na vitória de "20 Dias em Mariupol", em documentário.

Entre os curtas, "A Incrível História de Henry Sugar" venceu como melhor no formato, e "A Última Loja de Consertos" e "War Is Over!", como documentário e animação, respectivamente. A lista ficou completa com os japoneses de "Godzilla Minus One" e de "O Menino e a Garça" em efeitos especiais e animação, nesta ordem.

Para encerrar a noite, Jimmy Kimmel ainda aumentou a voltagem política lendo uma publicação do ex-presidente Donald Trump criticando o seu trabalho no Oscar. "Já não passou da hora de você ser preso?", questionou o apresentador, sob uma enxurrada de aplausos de uma indústria majoritariamente democrata.

Confira a lista dos vencedores nas principais categorias no site da FOLHA.

Christopher Nolan com o Oscar de melhor direção por Oppenheimer
Christopher Nolan com o Oscar de melhor direção por Oppenheimer | Foto: Valerie Macon/ AFP

JOHN CENA SOBE PELADO AO PALCO

O ator John Cena apareceu pelado no palco do Oscar para anunciar o vencedor de melhor figurino, 50 anos depois do ativista LGBTQIA+ Robert Opel invadir a cerimônia nu.

Cena fez uma piada de como "figurinos são muito importantes" antes de anunciar "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos, como vencedor da categoria.

Em 1974, o ator britânico David Niven, que apresentava a 46ª cerimônia do Oscar, estava pronto para chamar Elizabeth Taylor ao palco para revelar qual seria o melhor filme daquele ano. Mas seu discurso foi interrompido por um homem pelado correndo pelo palco.

Niven falava sobre o caos no mundo e como o cinema era um escape da insanidade quando o ativista bissexual Robert Opel passou nu atrás do apresentador fazendo o símbolo de paz e amor com a mão.

O ator John Cena apareceu pelado durante a entrega do Oscar de melhor figurino, lembrando protesto de ativista LGBTQIA+ 50 anos depois
O ator John Cena apareceu pelado durante a entrega do Oscar de melhor figurino, lembrando protesto de ativista LGBTQIA+ 50 anos depois | Foto: Kevin Winter/ Getty Images/ AFP

*Confira a lista dos vencedores nas principais categorias no site da FOLHA.

A REVIRAVOLTA DA VIDA DE ROBERT DOWNEY JR

SÃO PAULO, SP - Em seu discurso após vencer seu primeiro Oscar, Robert Downey Jr. agradeceu a "sua infância difícil". O ator já passou por dependência química antes de voltar a Hollywood no papel do Homem de Ferro.

Robert Downey Jr. provou maconha pela primeira vez aos seis anos. Foi o pai dele, o diretor Robert Downey Sr., quem ofereceu a droga ao filho. "Quando eu e o meu pai usávamos drogas juntos, era ele tentando expressar o seu amor por mim da única maneira que ele conhecia", disse o ator de "Oppenheimer" numa entrevista publicada no livro "The New Breed" em 1988.

No documentário "Sr.", o pai do ator diz se arrepender.

Nos anos seguintes, sua vida foi dominada pelas drogas. Em 1996, Downey chegou a ser preso três vezes no mesmo mês - ao revistá-lo, os policiais encontraram substâncias como heroína, crack e cocaína. Em uma dessas ocasiões, ele invadiu a casa de desconhecidos e dormiu na cama do filho de 11 anos deles.

Em 1993, em meio a internações em centros de reabilitação, ele foi indicado ao Oscar pela primeira vez. Foi pela sua atuação em "Chaplin", de Richard Attenborough. No entanto, ele não venceu o prêmio de Melhor Ator. Ele foi indicado novamente em 2009, por "Trovão Tropical", mas também não levou a estatueta para casa.

Ele está sóbrio desde 2003. No Oscar 2024, Robert Downey Jr. agradeceu sua esposa, Susan, por mudar sua vida.

Em 2008, Robert Downey Jr. fez sua estreia como o Homem de Ferro. O papel seria um grande ponto de virada em sua vida: entre 2013 e 2015, ele foi o ator mais bem pago do mundo, recebendo respectivamente US$ 50 milhões, US$ 75 milhões e US$ 80 milhões.

PARTICIPAÇÃO DE CÃO MESSI FOI GRAVADA ANTES

SÃO PAULO, SP - Ele bateu palma, interagiu durante a cerimônia do Oscar 2024 e se destacou. Ele é o cãozinho Messi, o border collie que participou do filme "Anatomia de uma Queda".

Porém, todas as ações do animal foram gravadas antes de a premiação começar. A ideia foi gravar de forma antecipada para não expor o cachorro ao estresse com o barulho, com a luz e com tudo o que envolve uma aglomeração de pessoas num espaço.

O cão Messi, que participa do filme "Anatomia de Uma Queda", gravou antes as cenas que apareceram na TV durante a cerimônia
O cão Messi, que participa do filme "Anatomia de Uma Queda", gravou antes as cenas que apareceram na TV durante a cerimônia | Foto: Reuters/ Folhapress

Em vídeos que circulam pelas redes sociais é possível ver cinegrafistas reproduzindo as imagens que mais tarde seriam exibidas.

Segundo o Hollywood Reporter, a presença de Messi no almoço anual dos indicados, que ocorreu no último dia 12 de fevereiro, em Los Angeles, fez com que alguns atores se sentissem ofuscados pelo cão.

Por esse motivo, várias empresas chegaram a reclamar, pedindo para que a Academia barrasse o cão da cerimônia. Elas alegavam que sua fofura dava uma vantagem desleal a "Anatomia de uma Queda" em pleno período de votação. O longa acabou vencendo o Oscar de melhor roteiro original.