O Oscar 2021 traz filmes que abordam o momento contemporâneo, com temas como a solidão, a crise, as dificuldades econômicas
O Oscar 2021 traz filmes que abordam o momento contemporâneo, com temas como a solidão, a crise, as dificuldades econômicas | Foto: iStock

A 93ª edição do Oscar será celebrada em cerimônia concebida como se fosse um filme e totalmente segura contra o corona vírus. Os produtores especificaram que o evento, concebido de maneira muito diferente dos anos anteriores, terá uma estética cinematográfica, transmitido em 24 quadros por segundo e com formato panorâmico, com três horas de duração. Vale a valentia desta jogada de marketing, que tem certa aura de surrealismo. O que se espera é que a Academia e os produtores da entrega das estatuetas saibam equilibrar o tom de celebração do cinema em meio à pandemia em curso com a tomada de consciência sobre a justiça social.

O prêmio mais popular do universo cinematográfico foi adiado em dois meses como forma de driblar a pandemia, e agora chega via formato híbrido, embora com a intenção de ser o mais presencial possível, alternando a transmissão de imagens entre o Dolby Theater e a Union Station, a estação ferroviária de Los Angeles. A produção afirma ainda que as chamadas via zoom não estão nos planos, e que optarão, se necessário, por conexões via satélite. E haverá, além disso, duas outras salas, em Paris e Londres, para quem não puder ir a Los Angeles por conta das restrições de viagens internacionais e dos protocolos contra o coronavírus.

Para quem nunca perde as frivolidades fashion das andanças sempre descartáveis do tapete vermelho, as notícias não são animadoras. Este ano o tapete vai encolher, mas com um prêmio (?) de consolação: neste espaço serão apresentadas as cinco composições que concorrem à estatueta de melhor composição. Que, a propósito, vêm padecendo de progressiva perda de qualidade.

Como nas últimas edições, a Academia voltou a apostar este ano em vários apresentadores. Faltando alguns nomes a serem anunciados de última hora, a lista de anfitriões deste Oscar atípico inclui Rita Moreno, Angela Bassett, Halle Berry, Bong Joon Ho, Zendaya, Don Cheadle, Bryan Cranston, Laura Dern, Regina King, Marlee Matlin, Reese Witherspoon, Renée Zellweger, Joaquin Phoenix, Brad Pitt e Harrison Ford.

DIVERSIDADE

Mas enquanto se discute a embalagem desta edição, com todas as complicações criativas inerentes para não se perder de vista o lado recreativo da gala, é preciso estar atento e forte para saber que resulta inevitável que os prêmios da Academia são um espelho do momento em que vivemos. Não que absolutamente estejam fazendo falta, mas na ausência dos blockbusters que foram adiados indefinidamente devido ao fechamento de salas em todos os quadrantes do planeta, os filmes que dominam o panorama do Oscar-21 são na maioria independentes, alguns de plataformas digitais, outros decorrentes das vertentes indie das grandes produtoras.

Este ano, os filmes que concorrerm ao Oscar primam pela diversidade e a inclusão como O Pai, que trata do Mal de Alzheimer
Este ano, os filmes que concorrerm ao Oscar primam pela diversidade e a inclusão como O Pai, que trata do Mal de Alzheimer | Foto: Divulgação

Mas não apenas isso. Testemunhamos uma autêntica revolução em questões temáticas e de diversidade. Nunca antes as nominações refletiram tantos problemas que estão no centro do debate social. A terceira idade e a luta diante do Alzheimer em “O Pai”; a luta antirracista em “Judas e o Messias Negro”; a imigração coreana para os EUA em “Minari”; os deserdados pelo sistema, forçados a viver às margens em “Nomadland”; assédio e violência sexual em “Uma Jovem Promissora”; saúde mental e adições em “O Som do Silêncio”. Somente “Mank”, de David Fincher, e “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin, podem ser considerados filmes canônicos neste quadro de pretendentes aos Oscar. Uma coincidência que ambos sejam da Netflix. Muitos podem pensar que se trata de uma agenda política que se encarrega de repassar temas que marcaram os últimos anos. Mas é certo mesmo que esta mudança teria que chegar mais cedo ou mais tarde, porque não se podia seguir perpetuando um modelo antediluviano que tornava invisíveis e inaudíveis as vozes e demandas contemporânea de coletivos historicamente esquecidos.

SEM BLOCKBUSTERS

"Nomadland", da diretora chinesa Chloé Zhao, com Frances McDormand no papel principal, é um dos favoritos ao Oscar
"Nomadland", da diretora chinesa Chloé Zhao, com Frances McDormand no papel principal, é um dos favoritos ao Oscar | Foto: Divulgação

É preciso insistir no fator ausência de blockbusters. Sem o monopólio das bilheterias, o Oscar-21 compõe uma radiografia bastante fiel das tendências do setor: surgimento de novos diretores, uma sensibilidade indie mais plural e abertura para as produções estrangeiras. Outro fator a ser apurado: que influência teve a pandemia com essa mudança de mentalidade? É bastante provável que o sistema não estava preparado para reagir a algo assim, apesar de o paradigma do consumo já estar mudando e de se abrir uma janela para o espectador se relacionar com o produto audiovisual de uma forma diferente. Talvez por isso o público tenha se aproximado melhor e com mais calma das histórias que se conectam com o espírito da época: aquelas que falam de solidão, incompreensão, raiva, abandono, crise ou perda de identidade, de luta pela liberdade, das dificuldades econômicas, da necessidade de se livrar dos tabus ou da conexão consigo mesmo. E todos os filmes indicados neste 2021 falam dessas coisas. Inclusive os ótimos curtas metragens de ficção e os documentários. Que graças às plataformas de streaming afinal tiveram seus periscópios visíveis para um público bem maior.

Mas, e essas mudanças, serão permanentes? Difícil prever, neste momento ainda de muitas outras aflições. Mas de qualquer maneira não se pode subestimar Hollywood e sua capacidade de se rearmar, desenhar e impor novas normas de produção, distribuição e promoção cinematográfica. Será interessante ver se os cineastas e as sensibilidades que agora parecem ganhar espaço saberão marcar os discursos do cinema popular de amanhã.

Serviço:

Cerimônia do Oscar 2021

Quando: domingo (25)

Onde: nos canais TNT e E!, a partir das 2O horas

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