Os últimos dias de Sade
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 21 de junho de 2001
Celso Mattos De Londrina
Depois de ficar sete anos sem filmar, o cineasta Philip Kaufman voltou ao set com Os Contos Proibidos do Marquês de Sade, que agora está saindo em vídeo. Para quem não se lembra, Kaufman fez A Insustentável Leveza do Ser e Henry & Jane, só para ficar entre os mais famosos de seus filmes anteriores.
O roteiro baseado na peça de teatro de Doug Wright e adaptado pelo próprio autor para o cinema mostra os últimos anos da controvertida vida de Sade. Devido a isso, deixa de lado os detalhes mais infames e mistura a linha do tempo, focalizando o tema na questão da liberdade de expressão. Preso em Charenton, Sade (interpretado por Geoffrey Rush em grande estilo) abusa da hospitalidade do padre Abbé Coulmier (Joaquin Phoenix em mais uma eficaz atuação) ao piratear suas novelas para o mundo exterior pelas mãos da serviçal Madeleine, interpretada por Kate Winslet, uma jovem que vive entre o paradoxo do prazer e da repressão educacional da época.
O maior pecado cometido por Kaufamn em Os Contos Proibidos foi respeitar demais os limites da decência, algo com o qual o Marquês de Sade não tinha a menor preocupação. Mesmo assim, o filme choca os espectadores mais conservadores, imagina então se Kaufman tivesse soltado as rédeas. O longa é uma obra intensa, corrosiva e, propositadamente, indigesta.
Outro grande personagem do filme é o alienista interpretado por Michael Caine, um médico especializado em tratar loucos, que recebe de Napoleão a missão de amansar o Marquês de Sade. O debate sobre arte, liberdade e pudor entre duas mentes tão antagônicas é um dos grandes momentos do filme. Kaufman acertou ao escolher Geoffrey Rush para o papel de Sade. Ele domina o espetáculo. Imoral nas palavras e gestos, sua interpretação beira à afetação, mas nunca cai nesse abismo.Lançamento da Fox. Duração: 123 minutos.
Outros lançamentos
ReproduçãoGene Hackamn e Morgan Freeman: duelo de titãs
Sob Suspeita
A história é batida: um milionário é acusado de ter matado duas adolescentes e um delegado é incubido de desvendar o mistério. O que vale o aluguel da fita é o duelo de titãs protagonizado por Gene Hackman e Morgan Freeman. A lente do diretor Stephen Hopkins centra todo seu potencial nos dois atores e deixa que eles comandam o show. O resultado é um filme que prende a atenção, mesmo tendo como foco um enredo comum.
Sob Suspeita se passa quase que inteiramente dentro de uma sala, onde acontece um interrogatório intenso que revela segredos sórdidos e um combate mental entre dois adversários do mesmo nível. A fita é uma refilmagem do clássico francês Cidadão Sob Custódia, de Claude Miller. Lançamento da Europa. Duração: 110 minutos. (Celso Mattos)
ReproduçãoEd Harris interpreta o perturbado pintor Jackson Pollock
A trajetória de Pollock
A vida e a obra do pintor expressionista americano Jackson Pollock. Eis o alvo do ator, diretor e produtor Ed Harris, que realizou uma boa adaptação da trajetória conturbada da carreira do pintor nos anos 40 e 50. Harris interpreta Pollock, um artista introspectivo, preso em seu mundo, apesar de sua vontade incessante de se expressar por meio de imagens. Inicialmente influenciado por Picasso, Pollock foi ganhando autonomia em seus traços e desenvolvendo certas particularidades, como a criação de quadros posicionados no chão. Em agosto de 1949, a revista Life realizou uma reportagem especial lançando a pergunta: seria Pollock o maior pintor vivo da América? Toda a sua relação trágica com a esposa Lee Krasner (bem interpretada por Marcia G. Harden), com a mídia e com sua obra formam um quadro esculpido de maneira fria, contida, mas profunda por Harris. Um bom retrato de uma vida singular. Lançamento da California. Duração 122 minutos. (Rodrigo Souza Grota)