Paulo Polzonoff Jr.
De Curitiba
Especial para a Folha2
O quadrinista Lourenço Mutarelli, 35, estará hoje, às 14h30, na Itiban Quadrinhos, em Curitiba, para uma tarde de autógrafos de seu novo álbum, ‘‘O Dobro de Cinco’’ (Editora Devir, R$ 17,50).
Mutarelli é um dos mais importantes quadrinistas brasileiros da atualidade. Seu trabalho, no entanto, está restrito a um círculo pequeno de leitores. Quadrinista de influência literária, Mutarelli aponta para uma nova tendência no seu trabalho. Depois dos depressivos e autobiográficos ‘‘Eu te Amo Lucimar’’, ‘‘Transubstanciação’’, ‘‘Os Desgraçados’’ e ‘‘Sequelas’’, álbuns de uma ‘‘fase negra’’, com este ‘‘O Dobro de Cinco’’ Mutarelli dá uma guinada com uma história policial que em nada lembra a autoflagelação dos trabalhos anteriores. Seu traço, porém, em nada mudou. Lá estão seus personagens invariavelmente distorcidos, de grossos contornos, com chagas pelo corpo que, se não insinuam alguma doença em específico, denunciam um mal psicológico inerente ao ser humano. Lourenço Mutarelli explica que a mudança para um álbum de tons mais brandos é fruto de uma mudança também em sua vida. Para a surpresa de alguns, Mutarelli avisa: ‘‘Estou mais esperançoso. Este novo trabalho, seu final inconcluso, é sinal disto. Estou até trabalhando com humor.’’
‘‘O Dobro de Cinco’’ conta a história do detetive Diomedes, contratado para encontrar um mágico chamado Enigmo. Enigmo, ao que tudo indica, é uma metamorfose de um Cristo desestimulado pela banalidade de seus milagres, vistos apenas como números extraordinários de um grande circo em decadência. Assim como em ‘‘Os Desgraçados’’, em que o fio condutor da história eram trechos da Bíblia, em ‘‘O Dobro de Cinco’’ a espinha dorsal são as cartas do Tarô. ‘‘Nada a ver com esta onda esotérica. Religião sempre foi uma grande influência. Eu lia a Bíblia quando criança e morria de medo de um Deus violento e um Cristo fragilizado. Me atraía mesmo era o Diabo, que se virava. O Tarô surgiu por acaso. Não tinha Bíblia em casa e comecei a me aprofundar neste assunto. Sempre me interessei pela iconografia das cartas’’, explica.
Tido por muitos como um quadrinista de grande verve literária, Mutarelli diz que se considera mesmo um escritor. ‘‘Tenho medo de me atrever a escrever. Por isto faço quadrinhos: não há como errar.’’ Mutarelli, no entanto, critica os quadrinistas contemporâneos, que não têm nenhum compromisso com a qualidade dos álbuns. ‘‘O quadrinho carrega um estigma de superficialidade difícil de ser estirpado. Eu sei que destôo do quadro geral, mas o cenário ainda é desolador’’, lamenta.
‘‘O Dobro de Cinco’’ consumiu dois anos de trabalho. Paralelamente aos álbuns - possivelmente a parte mais sólida de sua obra - Mutarelli trabalha num site, em ilustrações para a ‘‘Série Negra’’, da Editora Record e para a revista Cyber Comix.
Lourenço Mutarelli autografa seu novo álbum, ‘‘O Dobro de Cinco’’, hoje, às 14h30, na Itiban (Avenida Silva Jardim, 845, em Curitiba). O álbum será vendido na hora a R$ 15,00. Quem comprar o álbum ainda ganha um Mini Tonto Réquiem.