Uma vida dedicada à poesia. Esse pode ser o desenho da existência de Augusto de Campos, que completa 90 anos no próximo dia 14 de fevereiro. Poeta, tradutor, ensaísta e crítico literário nascido em 1931, foi um dos criadores da Poesia Concreta brasileira que floresceu na década de 1950.

Em homenagem a um dos grandes poetas brasileiros vivos, a editora Companhia das Letras está lançando uma nova edição de “O Anticrítico”, obra de tradução e ensaios de Augusto de Campos publicado originalmente em 1986. O volume traz ensaios e traduções de Dante Alighieri, John Donne, Emily Dickinson, Stéphane Mallarmé, Lewis Carroll, Paul Verlaine, Gertrude Stein, Marcel Duchamp, John Cage, Omar Khahyam, Vicente Huidobro, Olivero Girondo e Gregório de Matos.

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No texto de introdução do livro, Campos avisa que não pretendia realizar apenas uma tradução inventiva, mas também ensaios inventivos: “Cansado do critiquês, a linguagem inevitavelmente pesada e pedante das teses sem tesão e das dissertações dessoradas em que se convertera, em grande parte, a discussão da poesia entre nós, pensei em Flaubert (‘Quando é que seremos artistas, mais nada que artistas, mas realmente artistas’) e em Pound (‘Conversa entre homens inteligentes’) e me disse, com esperança: por que não recortar as minhas incursões de poeta-crítico em prosa porosa?”

O anticrítico não teria o papel de limitar a literatura, mas potencializá-la: “O que abomino são os críticos que praticam aquilo que já chamei de ‘dialética da maledicência’. Os que não iluminam nem se deixam iluminar. Os desconfiados e os ressentidos com a sua própria incompetência cósmica para entender ou criar qualquer coisa de novo. Aqueles que Pound se referia como a ‘vermina pertilente’: os que desviam a atenção dos melhores para os de segunda categoria ou para os seus próprios escritos críticos.”

TRAJETÓRIA

Augusto de Campos nasceu em 14 de fevereiro de 1931 na cidade de São Paulo. Advogado, publicou seu primeiro livro de poesia, “O Rei Menos o Reino”, em 1951. No ano seguinte, 1952, com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, criou a revista literária “Noigandres” que daria início ao movimento da Poesia Concreta no Brasil. Em 1956 participou da organização da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta no Masp.

Em 1955 publicou, em parceria com Haroldo de Campos (1929 – 2003) e Décio Pignatari (1927 – 2012), “Teoria da Poesia Concreta”, obra onde expõe todo o conceito e referencial teórico para um novo movimento literário pautado pelas vanguardas poéticas do século 20.

Juntamente ao trabalho de poeta, Augusto de Campos desenvolveu um trabalho de tradução poética que revolucionou a atividade no país. Sua proposta não era apenas traduzir poesia, mas recriar a poesia em outra língua. O trabalho de recriar o original como atitude de criação, conceito que passou a ser chamado de Transcriação.

“Poema-Cauda” de Lewis Carroll em tradução de Augusto de Campos que integra o livro “O Anticrítico”
“Poema-Cauda” de Lewis Carroll em tradução de Augusto de Campos que integra o livro “O Anticrítico” | Foto: Reprodução

Publicou mais de 50 livros de ensaios, traduções e estudos críticos de autores das mais variadas línguas. Realizou trabalho de transcriação na obra de poetas como Dante Alighieri, Ezra Pound, e. e. cummings, Wladimir Maiakovski, John Donne, Emily Dickinson, Stéphane Mallarmé, Lewis Carroll, Gertrude Stein, Jorge Luis Borges, Rainer Maria Rilke, John Keats e John Cage, entre muitos outros.

Autor de mais de 20 livros de poesia, Augusto de Campos abandonou o verso e a sintaxe convencional para criar um novo arranjo de palavras em novas estruturas tipográficas, gráficas e espaciais. A partir da década de 1980, com os avanços tecnológicos das novas mídias, deslocou sua produção poética do papel tradicional para obras que envolviam videotextos, videoclips, hologramas, animação computadorizada, neons, projeções multimídia e muito mais.

Um dos pais da Poesia Concreta, Campos propagou a ideia de que o papel não seria mais suficiente como suporte da poesia contemporânea do final do século 20. E que novas invenções de linguagens seriam a continuidade da poesia dentro da história da arte. Seguidor da teoria do poeta Ezra Pound (1885 – 1972), sempre encarou a poesia como conceito de invenção.

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Serviço:

“O Anticrítico”

Autor – Augusto de Campos

Editora – Companhia das Letras

Páginas – 240

Quanto – R$ 59,90 (papel) e R$ 39,90 (e-book)