Pode chamar de sanfona ou acordeon - até de gaita, pois foi assim que o instrumento, tão difundido na região Sul do Brasil, se popularizou por lá. Em apresentações solo ou coletivas, a vibração é inconfundível. Em Londrina, uma oficina de sanfonas segue com atividades e tem como objetivo principal formar a primeira orquestra sanfônica da cidade.

A ideia de oferecer aulas partiu da londrinense e produtora cultural Maria Inez Gomes e , com aprovação de seu projeto por meio do Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura, 15 alunos começaram a aprender a tocar o instrumento gratuitamente. As aulas são realizadas no Museu Histórico de Londrina, que gentilmente cedeu o espaço. "Não há mais vagas e há fila de espera", relata Gomes. "Houve muita procura".

O segurança aposentado Reinaldo Santini é um dos integrantes da oficina e, embora expresse que está um pouco encabulado, a vontade de dominar o equipamento supera a timidez. "Eu tive uma experiência dos 12 aos 15 anos, mas depois que meus pais venderam o instrumento, larguei mão e nunca mais tive contato", revela.

Santini conta que ficou viúvo recentemente. Para driblar os novos sentimentos e a ociosidade, decidiu comprar um acordeon e considera que a iniciativa foi um divisor de águas em sua jornada. "Estou me sentindo renovado e tenho vontade de tocar Luar do Sertão, Telefone Mudo", cita. Estou conciliando os movimentos da mão esquerda, direita e essa é também uma forma de conhecer mais pessoas e dividir as experiências", comenta.

A biomédica Tathiane Estevam fez a inscrição para as oficinas motivada pelas tradições da família. Ao empunhar a Honer Tango IV com suas alças de couro, demonstra muito respeito também ao bisavô de seu marido, que faleceu em agosto de 2022, aos 90 anos, e deixou a sanfona totalmente conservada " Ele seguia tocando e atraindo a atenção para si com a sua música. Ter a sanfona como nossa herança foi um passo importante para eu estar aqui no curso e considero que essa seja uma forma de valorizar a arte e também os costumes da família", divide.

INICIANTES E EXPERIENTES

Responsável por ministrar as oficinas semanalmente, o músico Alexandre Garcia de Oliveira, conhecido no meio artístico por Arrigo, explica que os alunos se dividem entre os que nunca manusearam a sanfona, mas a admiram. Há aqueles que possuem noções mas por diferentes circunstâncias se distanciaram da arte. E por último os que já sabem, mas querem aprender mais e ainda dividir conhecimento. "Acaba sendo uma troca muito rica", expõe Arrigo.

O professor pondera que não se trata de um instrumento tão simples para iniciar do zero. "Mas o interesse motiva". A característica que aproxima a sanfona das raízes interioranas é uma das qualidades destacadas pelo mestre. Em nossa cidade, o instrumento tornou-se verdadeiro patrimônio por meio da professora Evelina Grandis, considerada a pioneira do acordeon", enaltece.

Integrante da banda Terra Celta, Arrigo segue uma trajetória de sucesso com o seu acordeon e não faltam a ele admiradores de seu trabalho. "Ao contrário do violão, não é um instrumento tão popular e acessível e também é pesado", observa. Mas as adversidades se recolhem perante a robustez da sanfona. Seu som ainda ressoa. Nas oficinas, rodas de sanfona, shows Brasil afora e nos cantos em que os ouvidos não alcançam, mas uma sanfona deixa as pessoas mais felizes.

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