Depois de 20 anos, a dupla Chitãozinho & Xororó finalmente voltou à terra natal, Astorga. Em entrevista exclusiva à FOLHA, eles revelam uma passagem pitoresca sobre Londrina que acabou sendo decisiva na carreira de 38 anos e 30 milhões de cópias vendidas

Demorou. A cidade estava ansiosa. A praça que os homenageia já fora reformada e continuava sem ser inaugurada. Os donos da casa onde eles nasceram desistiram de esperar e reformaram a fachada, deixando-a diferente de como era a original. Mas o dia chegou e, na quinta-feira, José e Durval Lima, ou melhor, Chitãozinho & Xororó, finalmente voltaram a Astorga, o município onde nasceram.
Pouco tempo depois de lançar o DVD Grandes Clássicos Sertanejos e já com o pensamento voltado para a comemoração dos 40 anos de carreira, que serão completados em 2010, os irmãos admitem que vivem uma fase mais caipira depois de um bom tempo gravando músicas sentimentais. Eles também assumem que a visita a Astorga é coisa de quem começa a sentir saudade de sua terra, de sua origem.
Nem é preciso dizer que o lugar de 24 mil habitantes praticamente parou para receber seus dois filhos mais ilustres. É bem verdade que eles viveram pouco tempo ali; Chitãozinho tinha quatro anos e Xororó dois quando a família foi buscar melhores oportunidades em Marechal Cândido Rondon, mas isso pouco importa para o povo, que seguiu a dupla o dia todo.
''Chitão e Xoró'' fizeram questão de retribuir. Não faltaram fotos e abraços. Eles até protestaram quando foram obrigados a sair pelas portas do fundo da Rádio Astorga, da qual seu Mário Lima, pai deles, fizera parte do time de cantores. Acontece que a chave da porta da frente quebrou bem na hora da saída. ''Não podemos fazer isso com o povo. O certo é sairmos pela porta da frente'', retrucou Xororó. Porém, não teve jeito. Não tinha chave reserva.
No roteiro, eles também passaram pelo primeiro teto que tiveram. Hoje, a casa está praticamente no centro da cidade, mas nos anos 50 - Chitãozinho é de 1954 e Xororó de 1956 - era rodeada por cafezais. Os proprietários, Adelino e Zilda Barbosa compraram o imóvel há 11 anos por módicos R$ 6 mil e só souberam depois do negócio feito que um dia ali moraram os cantores.
Desde então, esperavam a visita, conservando tudo do jeito como acharam. Até que, há dois anos, desistiram e cobriram de alvenaria a fachada de madeira. No entanto, Zilda continuou conservando a parte interna, ainda acreditando que um dia eles poderiam aparecer. E apareceram. ''Eu falo que moro na casa que um dia foi deles e me chamam de doida. Agora todo mundo vai acreditar'', comemorou Zilda enquanto mostrava o lar para os visitantes.
Na hora da entrevista, eles enfatizaram por mais de uma vez que são ''bichos do Paraná''. Não é para menos. Depois de ouvirem os primeiros acordes de viola em Astorga, foram cantar para valer, ainda meninos, em Marechal Cândido Rondon, cidade para a qual o patriarca da família resolveu ir para trabalhar na indústria madeireira.
Depois, a música os levou à capital paulista, onde começaram a tentar uma carreira profissional. ''Uma coisa que eu tenho muito viva na memória, na verdade lembro-me perfeitamente, é de quando deixamos Rondon, na carroceria de um caminhão, e fomos até Londrina onde pegamos o trem para ir definitivamente para São Paulo'', recorda Chitãozinho.
Mas eles voltariam para o Paraná para mais um capítulo dessa história. Foi em 1975, o ano da geada negra que dizimou os cafezais do Estado. Eles faziam uma ''turnê'' cantando em circos da região de Cascavel, bem na época em que os pés de café pretejaram com o frio. ''Aquela geada foi triste. Nossas apresentações foram verdadeiros fracassos. Ninguém tinha dinheiro para ir em circo'', explica Chitãozinho.
Tristes e de bolsos vazios, eles voltavam para São Paulo. ''Aí o Chitão insistiu para fazermos uma parada em um circo que estava na periferia de Londrina e tentarmos um dinheirinho'', conta Xororó. O show até rendeu uma grana, mas Chitãozinho distraiu-se com a bolsa onde guardou as notas, que foi furtada. Para chegar em casa, tiveram que pedir ajuda nas rádios. Ela veio das mãos do generoso Zé Tapera, que cantava com Teodoro, da atual dupla Teodoro & Sampaio.
''Quando chegamos em São Paulo, estava certo que iríamos desistir. Decidimos até vender o carro que usávamos para viajar. No entanto, no momento em que tomamos essa decisão, tocou na rádio a música 'Tente outra vez', do Raul Seixas. Então, resolvemos tentar mais um pouco, pois só sabíamos cantar''. Deu no que deu. Eles já venderam mais de 30 milhões de cópias e gravaram com astros nacionais e internacionais.
Na noite de quinta, finalmente a praça Chitãozinho & Xororó de Astorga foi inaugurada com um show da dupla. Os chafarizes do espelho d'água em forma de viola entraram em ação. O povo soltou a garganta para cantar ''Fio de Cabelo'' e outras modas. Eles esperam que os meninos voltem logo.